Artigo: Nélio Artiles*
Estamos chegando em um momento da pandemia em que as curvas vêm baixando com redução significativa no número de casos com uma sensação de que o perigo acabou. Por esta razão há uma natural libertação, após tanto tempo de restrições, porém isto pode ser perigoso. Estamos chegando a um bom número de adultos completamente vacinados, mas há uma quantidade significativa de pessoas que optaram por não se imunizar por diversos motivos, infelizmente equivocados.
Na linha de informações falsas ou mesmo de influências de pessoas ignorantes no assunto, sejam familiares ou mesmo lideranças de diversas áreas, ocorre uma influência negativa, que gera um risco real na população. Estamos tendo informações recentes do recrudescimento de casos em vários países da Europa, particularmente em grupos não completamente vacinados ou que se recusam a receber o imunizante.
A doença, por si só, não confere uma imunidade duradoura, logo quem já teve a doença, corre riscos semelhantes a quem não se vacinou totalmente. Pessoas parcialmente vacinadas ou que não completaram a imunização com a segunda dose, têm uma quantidade de anticorpos abaixo do ideal, predispondo não só o risco de nova infecção, mas também de geração de outras mutações e, assim, o aparecimento de outras variantes.
No caso dos idosos e imunodeprimidos acontece o mesmo, um tempo após a 2ª dose, por isto há a necessidade, de além de continuarmos com a vacinação em todas as faixas etárias possíveis, termos a aplicação de uma terceira dose como reforço. Talvez haja a necessidade de mais reforços no próximo ano, dependendo do que as evidências científicas demonstrarem.
A intercambialidade ou o uso de uma vacina de plataforma diferente da inicial, tem demonstrado ser bastante eficaz e segura nesta situação, aumentando bastante a defesa imunológica. Estes reforços serão ampliados para toda a população em breve e, provavelmente, um início da vacinação nas crianças, de acordo com recentes trabalhos científicos, com segurança e efetividade.
Enquanto tivermos uma fatia da população não imunizada adequadamente, haverá sempre o risco da introdução de novas cepas variantes e menos responsivas às vacinas entre nós. A pandemia reduzirá e passaremos a uma endemia, com a manutenção de números de casos da doença e óbitos. Logo, lamento escrever aqui que isto não terá um fim breve; logo há necessidade de mantermos os cuidados, certamente com maiores flexibilizações, mas sempre com uma máscara próxima para ambientes fechados ou em caso de possíveis aglomerações, higienização das mãos e manter sempre um distanciamento seguro.
E não posso deixar de enaltecer o nosso SUS, em particular nosso mundialmente reconhecido PNI (Programa Nacional de Imunização), demonstrando sua grande eficiência em vacinar cerca de dois milhões de pessoas por dia. Valorizo também nossa gente, que em sua maioria aderiu à vacinação no país, apesar da falta de liderança política e ineficiência do Ministério da Saúde. Lamentavelmente a vacina demorou, mas quando esteve disponível demos um show de imunização ao planeta. Viva o SUS!
*Médico infectologista.