Matheus Berriel
30/11/2021 14:50 - Atualizado em 01/12/2021 17:20
Após mais de um ano desde a finalização do material prévio necessário, o Mosteiro de São Bento de Mussurepe, em Campos, tornou-se área de tutela para proteção da ambiência pela secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro. A medida passou a ter valor com a publicação do tombamento provisório pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) no Diário Oficial do Governo do Estado, no último dia 23. Na mesma edição, também foi tombado provisoriamente o Antigo Hangar do Zeppelin, em Santa Cruz, na capital fluminense.
— Estamos trabalhando para viabilizar os casos de compensação, restauração e conservação do patrimônio histórico e cultural, seja para manutenção do bem pelo proprietário, seja para utilização e fruição pelo particular, conferindo atividades econômicas ou culturais que permitam a sustentabilidade do bem tombado. A troca da gestão também foi pensada no sentido de priorizar o diálogo com a Casa Civil e ampliar o entendimento da importância do tombamento, dando mais celeridade aos processos — declarou a diretora geral do Inepac, Ana Cristina Carvalho, no cargo desde outubro.
O tema também foi comentado pela secretária estadual de Cultura e Economia Criativa, Danielle Barros. “Esperamos que estes espaços sejam ocupados de forma que valorizem a importância histórica e cultural de cada um. São construções ímpares, com uma qualidade arquitetônica singular, e que fazem parte da história do Rio de Janeiro”, disse Danielle.
Em 28 de outubro do ano passado, a Folha da Manhã divulgou que o arquiteto Paulo Coutinho, membro da equipe técnica do Inepac, havia concluído a ficha de inventário, a pesquisa histórica e o levantamento arquitetônico do Mosteiro de São Bento. Dados adicionais foram inseridos pela arquiteta Selma Fraiman e a geógrafa Ana Letícia Spindola. Segundo o então diretor geral do Inepac, o historiador Cláudio Prado de Mello, a expectativa era de que o tombamento fosse concluído até o final de 2020.
Em publicação no Facebook, o diretor geral do Inepac abordou características do mosteiro, uma típica construção da arquitetura colonial religiosa.
— É um prédio dotado de capela e convento, contando ainda, ao lado desta mesma capela, com um cemitério. Em sua fachada principal, podem ser vistas portas de madeira almofadada e janelas em madeira tipo guilhotina, com vergas em arco abatido contornadas por cimalha de argamassa. O frontão da capela tem volutas pouco trabalhadas e possui aos seus lados dois pináculos de argamassa — descreveu Cláudio Prado de Mello na ocasião. — Possui somente uma torre sineira em formato quadrangular, porém com arestas quebradas por outras de muito menores dimensões, insinuando uma planta levemente octogonal. A cobertura da torre em tronco de pirâmide de base quadrada tem dispostos em seus quatro cantos mais quatro pináculos e demais arremates, todos sinalizando para interferência, muito provavelmente, do século XX — acrescentou.
O resultado da edificação, formada por quatro alas, é um claustro aberto ao centro. “Neste claustro, assim como na fachada lateral da capela voltada para o cemitério, nota-se contrafortes, provavelmente em alvenarias de tijolos maciços”, complementou o ex-diretor do Inepac.
Desde a saída de Cláudio Prado de Mello do comando do órgão estadual, em janeiro deste ano, entraves burocráticos adiaram a publicação no Diário Oficial. O tema foi abordado em outubro durante reunião do seu substituto, o professor Cláudio Elias, com a coordenadora do Museu Histórico de Campos, Graziela Escocard, a presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), Auxiliadora Freitas, e o presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Campos, Genilson Paes Soares. Dias depois, Cláudio Elias também foi exonerado do cargo, dando lugar à advogada Ana Cristina.
O prédio — O Mosteiro de São Bento é um símbolo histórico da presença dos monges beneditinos em Campos, a partir de 1648, motivada inicialmente pelo recebimento de terras doadas à Ordem de São Bento, à época já presente na cidade do Rio de Janeiro.
O atual administrador do mosteiro, Dom Bernardo Queiroz, tem realizado um trabalho de valorização do legado de 373 anos da ordem religiosa na região. Tal resgate da história passa, inclusive, pela busca da originalidade da arte presente no prédio, que foi atingido por um incêndio em 1965. Fotos e relatos indicam que o altar e imagens como as de São Bento, Santa Escolástica e Nossa Senhora do Rosário eram feitos em madeira.
O bispo titular da Diocese de Campos, Dom Roberto Francisco Ferrería Paz, tratou como um avanço o tombamento provisório, mas destacou a importância de que haja benefícios para a real preservação do imóvel.
— Primeiro, destaco a importância histórica que tem esse prédio beneditino de longa trajetória, que mostra os inícios da evangelização. Também a sua importância artística, com todo um depoimento à forma arquitetônica. Mas, o que me parece mais relevante é um financiamento para completar a restauração. Isso vai acontecer com o tombamento? Estamos também notando a necessidade de um escritório do Inepac aqui em Campos, porque há muitas leis, mas o que importa é a implementação em termos de operacionalidade, neste caso o processo de acabamento do restauro: se isso vem a ser garantido no tombamento, se vão ser mobilizados recursos próprios para isso. Esse seria o miolo da questão — afirmou Dom Roberto.
O Mosteiro de São Bento já é tombado pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos (Coppam), que vinha alertando sobre a necessidade de obras estruturais emergenciais. Em 2018, houve uma etapa da restauração.
Em nota, o Inepac informou que “é responsabilidade do proprietário a captação de recursos para a restauração, uma vez que trata-se de uma propriedade particular” . Em relação à instalação de um escritório técnico regional do Norte Fluminense em Campos, o órgão alegou que “está em fase de tratativas”.