Matheus Berriel
16/11/2021 19:51 - Atualizado em 17/11/2021 10:35
“Quem eu sou?”. Esta é a questão central do show autoral “De dentro”, do cantor e compositor Diogo Xavier, que se apresenta às 20h de sábado (20), no Teatro Municipal Trianon, em Campos. O evento faz parte do Novembro Negro, festival do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) do Instituto Federal Fluminense (IFF) com o tema “racismo, antirracismo e emancipação no Brasil contemporâneo”. Além disso, é uma iniciativa voltada a divulgar a campanha IFF Solidário, que tem como objetivo arrecadar recursos para doar cestas básicas a famílias necessitadas do Norte Fluminense, com apoio do Grupo Folha de Comunicação. Ingressos devem ser retirados na noite do evento, no próprio Trianon, sendo necessário apresentar comprovante de vacinação com pelo menos uma dose de vacina contra a Covid-19.
— A ação visa sensibilizar os espectadores e ouvintes por meio das músicas autorais do cantor Diogo Xavier. No decorrer do show, faremos intervalos poéticos para convidar a todos para participarem do IFF Solidário — disse o coordenador de Políticas Culturais e Diversidade do IFF, Jonas Defante. Doações para a campanha podem ser feitas via pix, com a chave [email protected], ou por meio de transferência para a conta 100.005-5 do Banco Sicoob, cooperativa 4222, CNPJ 04016579/0001-31.
Escolhido como atração do evento, Diogo Xavier tem 26 anos e é licenciando em música pelo próprio IFF. Natural do Rio de Janeiro, ele mora em Campos desde 2016, mas viveu a primeira infância entre Salinópolis, no Pará, e São Luís, no Maranhão. Em 2001, ainda criança, se mudou com a família para Rio das Ostras, onde iniciou a sua trajetória no Coral Vozes do Leripe, formado por estudantes da rede pública municipal. Foi nesta época que teve contato com a obra do cantor, compositor e instrumentista Dorival Caymmi, um dos seus influenciadores.
— Eu estava na quarta ou quinta série do ensino fundamental. A gente ensaiou o repertório do Dorival Caymmi no coral um ano inteiro. No ano seguinte a esses ensaios, algumas pessoas foram selecionadas para conhecê-lo. Eu tive a oportunidade de ser selecionado e o conheci na casa dele, na época em que morava em Copacabana, no Rio de Janeiro, alguns anos antes do seu falecimento. Ali eu tive contato direto com o compositor, que, para mim, é o grande compositor da música brasileira. Sua obra tem uma relação com o que eu componho, não no estilo de composição ou na temática, mas no jeito de pensar a composição, no jeito de pensar aquilo que eu estou vivendo, de refletir sobre o ambiente em que eu estou. Isso vem muito ao encontro daquilo que eu tenho produzido hoje — afirma Diogo Xavier.
Já iniciado no violão, Diogo começou a dar aulas do instrumento aos 16 anos. Aos 18, passou a concentrar esforços na sua trajetória musical embora só tenha unificado a carreira aos 21, depois de uma experiência na indústria do petróleo. Além de Dorival Caymmi, também exercem influência no artista outros nomes consagrados da música popular brasileira, como Belchior, Luiz Gonzaga, Pixinguinha e Cartola, e alguns da nova geração, entre eles Marcos Almeida, Tim Bernardes, Estêvão Queiroga, Lorena Chaves e a banda Terno Rei.
— Eles influenciam muito na minha escrita, nas poesias, mas também nas minhas melodias e na formação harmônica. A partir daí, eu faço o meu estilo — explica Diogo, que mescla a MPB com o indie rock. Embora esteja começando a carreira solo, ele também é guitarrista da banda Semeador Urbano, após ter passado por outros conjuntos musicais com amigos da época da escola e da igreja que frequentava.
Com nove músicas autorais, o show solo deste sábado inclui faixas do EP “De dentro”, previsto para ser divulgado nas plataformas de streaming em abril de 2022. No repertório, destaque para os singles “Silêncio” e “Verso em campo”, ambos já lançados pelo artista.
— Eu vou fazer dois momentos do show. O primeiro momento, que é, de fato, o EP “De dentro”, vai abordar coisas que eu estava sentindo algum tempo atrás: depressões minhas, problemas pessoais com relação ao outro, comigo mesmo e com aquilo que eu entendo da espiritualidade. As músicas que eu vou tocar no show são as formas como consegui lidar com a despersonificação que eu estava passando, uma falta de identidade, que coloquei para fora como música — diz Diogo Xavier.
— Não existe somente uma pessoa no mundo com problemas de despersonificação, todas as pessoas do mundo podem passar por isso em algum momento. Mas, elas podem encontrar respostas olhando para o outro, para a sua espiritualidade e para si mesmas. É impossível viver uma vida saudável, inteira, com identidade, sem você ter boas relações consigo mesmo e com os outros. Essa é a visão que eu quero passar no primeiro momento. E, no segundo, busco apresentar como é bom se abrir para a alegria, se abrir para ter outras relações, para as pessoas chegarem em quem somos e desfrutarem de carinho, amor e afeto em comunhão conosco — pontua.
Outras atrações — O Novembro Negro do IFF começa nesta quinta-feira (18) e segue até a próxima quarta (24), com atividades voltadas à comunidade acadêmica e ao público externo, transmitidas pela internet. Inscrições para acompanhar os bate-papos, as palestras, mesas temáticas e apresentações culturais devem ser feitas pelo site www.even3.com.br/novembronegro2021.
— No ano de 2020, devido à pandemia da Covid-19, o evento foi realizado totalmente de modo virtual. Por isso, surgiu o grande desejo de realizá-lo novamente a nível de instituto, unindo todos os campi. Esse desejo materializa um anseio que um evento presencial tornaria difícil, especialmente pela abrangência de nosso instituto e por toda a logística necessária para o atendimento de uma demanda tão grandiosa — comenta o coordenador Jonas Defante.
Nesta quinta, às 16h30, haverá uma mesa redonda com o tema “A luta pela terra dos povos quilombolas e a agroecologia: como um pode potencializar o outro?”, seguida pela apresentação cultural “AfroSaberes: recital literário com tributos a Conceição Maria de Jesus e a Conceição Evaristo”. Está marcada para as 20h a palestra “Arte, política e resistência”, com a coordenadora do curso de Licenciatura em Teatro do IFF campus Centro, Raquel Fernandes. Fechando o dia, às 20h, será a vez da mesa redonda “Raça, gênero e política”.
A única atividade agendada para sexta-feira (19) é a mesa redonda “Lideranças em ação antirracista”, às 15h. No sábado, antes do show de Diogo Xavier, será realizada a mesa redonda “A cultura negra no combate ao racismo endêmico”, às 18h, com mediação de Rossini Reis e participação dos debatedores convidados Conceição de Maria Pereira Alves Rosa, Ricardo da Silva Barbosa Júnior, Salvadora de Oliveira Cruz e Tatiane da Silva Pinto Bertoza. Ambas as atividades são promovidas em parceria do IFF com a Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, por meio de um memorando de entendimento assinado no último dia 8 de julho, estabelecendo relações colaborativas entre as instituições.
Também às 18h, mas na segunda-feira (22), vão acontecer a palestra “Sabores da diáspora nas Américas”, com a professora, pesquisadora e historiadora Lourence Cristine Alves, e o bate-papo “Educação para uma sociedade antirracista”, mediada pelo ator, professor e escritor Adriano Moura. Para terça-feira (23), estão programadas uma live-show do cantor e compositor Marcelo Benjá, às 17h, e a roda de conversa “Natação e racismo em debate”, às 18h30. Fechando o evento, na quarta-feira haverá uma mesa redonda sobre “Cultura, patrimônio e educação antirracista”, às 17h, e uma roda de conversa abordando “O encarceramento em massa da população negra”, às 19h30.