Matheus Berriel
02/11/2021 20:46 - Atualizado em 02/11/2021 20:48
Prestes a completar 50 anos como fotógrafo, o campista Esdras Pereira, colunista social da Folha da Manhã, abre nesta quinta-feira (4) a sua exposição “Flores & Papiros”, no Galpão da Arte da Femac Móveis, onde um vernissage está marcado para as 19h. Na sexta (5), haverá um café da manhã às 10h. A mostra ficará aberta até o próximo dia 25, com visitação gratuita das 8h às 18h de segunda a sexta-feira, e das 8h às 13h aos sábados e domingos.
— Sempre ao acordar, eu vou ver quais flores estão florescendo naquele dia. Considero as flores uma bênção diária de Deus. São muitas bênçãos, muitas flores, e muitas vezes as pessoas não se atentam para a beleza delas, porque se torna tão corriqueiro que a pessoa olha sem ver. Nessa exposição, há fotos de flor de boldo, onze-horas, Maria-sem-vergonha, hibisco, flor de romã, orquídea... São várias técnicas e várias bases — explica Esdras.
Todas as fotos da exposição foram feitas no intervalo de um ano, em Campos e Rio das Ostras, muitas delas durante caminhadas de Esdras. Diagnosticado com quadro grave de Covid-19 no período da produção, o fotógrafo precisou ser internado duas vezes em Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), e o trabalho foi usado como auxiliar na recuperação.
— Na quarentena, isso me ocupava. Tive Covid, fui para a UTI. Quando voltei a casa pela primeira vez, foi um bálsamo para mim. Cada flor linda que eu via de manhã era uma bênção. Aquilo me dava vigor, me trazia felicidade, e a felicidade está muito ligada à imunidade. Tive sequelas graves, retornei para a UTI e, quando saí, voltei tanto a fotografar as flores quanto a trabalhar. Não consegui parar de trabalhar, mesmo tendo ficado bastante debilitado, porque isso me ocupava, me dava satisfação — recorda.
O resultado de todo o trabalho é uma mostra com 66 painéis, todos emoldurados. Muitas imagens foram impressas em duas vertentes de papel kraft, e outras em papel fotográfico. Um terço dos painéis estão expostos entre dois vidros, e todos eles receberam moldura especial.
— Trabalhei essas fotos com modernas ferramentas de edição, para separar fundos, aguçar algumas coisas e levar às pessoas aquilo que eu estava vendo. A fotografia é um modo de fazer com que o outro veja através de você. Foi um trabalho muito gratificante. Hoje, me sinto bem recompensado. Bati umas 2 mil fotos, dá para fazer umas 10 exposições dessa (risos). Foi muito bom, porque eu me ocupava quando fotografava, me ocupava quando editava, e sentia uma presença muito grande de Deus em minha vida. Foi emocionante. Se eu tivesse me entregue a mim mesmo, sem um apoio, sem uma fé, dificilmente estaria aqui. Então, foram pequenas provas da presença de Deus. Pequenas, mas maravilhosas. Cada foto dessa tem um significado — enfatiza o fotógrafo, que também é jornalista.
Hoje com 63 anos, Esdras fotografa desde os 14. Começou com uma câmera Beauty Flex que pertencia ao seu pai, por quem foi levado para trabalhar na loja do fotógrafo Dib Hauaji. Nesta época, teve uma imagem de sua autoria publicada no jornal “Monitor Campista”, inaugurando o que seria uma extensa relação com a imprensa. Indicado por Dib ao jornalista Aluysio Cardoso Barbosa, então editor-chefe de “A Notícia”, foi trabalhar como repórter fotográfico no veículo. De lá, seguiu para o “Jornal do Brasil”, do qual Aluysio era correspondente, e com ele dividiu um histórico furo de reportagem: o primeiro carregamento comercial de petróleo na Bacia de Campos, em 1977.
— Aluysio Barbosa foi como um tutor, um pai para mim no jornalismo, sempre me orientando. Eu sempre fui uma pessoa underground, e ele sempre me ajudou com orientações, a ponto de, quando a gente saía para fazer alguma reportagem, ele não precisar me dizer o que era para ser feito. Só no olhar, a gente já sabia. Nós fizemos uma dupla muito boa — relembra.
A parceria em “A Notícia” e no “Jornal do Brasil” fez com que Esdras fosse escolhido por Aluysio como um dos envolvidos no processo de criação da Folha da Manhã. Antes mesmo da fundação desta, em 1978, ele colaborou na formação do arquivo de fotos da editoria de Esporte. A atuação se estendeu para a própria existência do jornal, ilustrando com suas fotos inúmeras matérias que tiveram repercussão local e nacional.
— A Folha era um sonho que se realizava para nós, porque era o primeiro jornal de Campos com impressão offset. Nada melhor para um fotógrafo do que ver a sua foto sendo impressa com qualidade — enfatiza o repórter fotográfico.
A morte de Aluysio Cardoso Barbosa, em 2012, não encerrou a relação de Esdras com a Folha. O jornal, inclusive, é um dos apoiadores da exposição no Galpão de Arte da Femac.
— Nessa história de uma vida na Folha, eu sempre tive esse apoio. Acho que isso é muito legal, porque a Folha não só me apoia, como apoia a cultura em geral. Nós, os campistas, temos que dar valor à prata da casa. Podemos estender tapete vermelho para quem vem de fora, mas não podemos nos esquecer da prata da casa. Estou muito feliz por fazer essa exposição e gostaria muito que o público viesse conhecer o trabalho — diz Esdras.
Entre os apoiadores, também estão o empresário Edvar Junior, idealizador e realizador do Galpão da Arte, e os Institutos Superiores de Ensino do Centro Educacional Nossa Senhora Auxiliadora (IseCensa).
— Este espaço foi uma iniciativa maravilhosa do Edvar, porque nós não tínhamos um espaço dedicado à arte em Campos dessa categoria e com essa disposição e boa vontade que ele tem. Uma exposição dessa é muito cara. Então, eu tive apoio cultural de empresas fortes em Campos, entidades como o IseCensa, a Folha e outras — explica Esdras.
O Galpão da Arte funciona em uma área de 150m² na Femac Móveis, à avenida Alberto Lamego, 973, no Parque Califórnia. Até o momento, este é o único espaço aberto pela iniciativa privada voltado à exposição de trabalhos artísticos da região. Além de ocupar espaço durante o mês de novembro, a mostra “Flores & Papiros” já tem outras duas edições confirmadas, em locais distintos, mas sem datas definidas. A ideia é que uma das edições aconteça em um shopping, com objetivo de ampliar o alcance e democratizar o acesso à arte.