Arthur Soffiati - Por tópicos e sem ufanismos
Arthur Soffiati - Atualizado em 18/11/2021 20:30
1 - O Norte-Noroeste Fluminense começou com a capitania de São Tomé-Paraíba do Sul no século XVI-XVII. Ela se estendia do rio Itapemirim ao rio Macaé. Não havia a capitania do Rio de Janeiro. Esta resultou da união de parte da capitania de São Vicente e de toda a capitania de Paraíba do Sul.
2 - Em 1742, o distrito de Campos dos Goytacazes, divisão administrativa da capitania do Rio de Janeiro, passou para a capitania do Espírito Santo no que concerne à aplicação da justiça, mas o governo capixaba excedeu em suas atribuições. Em 1815, o naturalista alemão Maximiliano de Wied-Neuwied informou que Campos era o maior núcleo urbano (ainda como vila) entre as cidades do Rio de Janeiro e de Salvador. O distrito pertencia à capitania do Rio de Janeiro, mas sua representação política estava em Vitória.
3 - Em 1832, a administração da justiça de Campos voltou ao Rio de Janeiro, agora como sede da comarca de Campos. Em 1835, a vila foi elevada a cidade. A região entre os rios Itapemirim e Macaé continuava dividida entre Rio de Janeiro e Espírito Santo.
4 - Sendo uma área rica economicamente, graças ao açúcar sobretudo, Campos liderou, em 1855, um movimento pela criação de uma nova província, formada por parte do território do Rio de Janeiro (rio Macaé), do território do Espírito Santo (até o rio Itapemirim) e parte do território de Minas Gerais. O movimento contou com o apoio da vila de Itapemirim, mas fracassou. Restou o pleito de que a capital da província do Rio de Janeiro fosse transferida de Niterói para Campos, mas ela se transferiu de Niterói para Petrópolis entre 1894 e 1902, por causa da Revolta da Armada, voltando depois a Niterói.
5 - Em 1873, foi apresentado um projeto de redivisão das províncias do Brasil. A do Espírito Santo cederia território do norte à Bahia e incorporaria território do Rio de Janeiro até a totalidade da lagoa Feia. O projeto não prosperou.
6 - Em 1931, Alberto Ribeiro Lamego lançou um opúsculo pleiteando a transferência do antigo estado do Rio de Janeiro para Campos.
7 - A partir de então, a discussão sobre a criação de um novo estado dentro da federação e a transferência da capital do estado do Rio de Janeiro de Niterói para Campos estendeu-se até 2001.
8 - A partir de 1980, algumas transformações estruturais se operaram na antiga região Norte Fluminense. Ela foi dividida em duas: Norte e Noroeste; Macaé despontou como o polo mais dinâmico da região Norte depois da instalação de uma base da Petrobras; as duas regiões foram contempladas com royalties do petróleo em escalas diferentes; a cana e as usinas entraram em declínio; em São João da Barra, instalou-se um complexo industrial-portuário de grande magnitude, porém relativamente fechado à economia regional.
9 - Agora, políticos representativos do estado, como André Ceciliano, Marcelo Freixo, Eduardo Paes e Claudio Castro, ressaltam a importância de Campos, chegando mesmo a defender, como no caso de Eduardo Paes, duas capitais para o novo estado do Rio de Janeiro (formado pelos antigos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara). Uma continuaria a ser o Rio de Janeiro. A outra seria Campos.
10 - Tenho refletido sobre tais manifestações, agora saídas da boca de políticos não-regionais. De fato, tem se falado na recuperação da região com a cana e com a energia. O colégio eleitoral de Campos deve ser considerado, e as eleições para presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais estão próximas. Haverá sinceridade nas palavras desses políticos ou apenas bajulação?
11 - A região tem um alto potencial energético para o futuro. Tendo em vista os novos tempos, esqueçamos o petróleo e o gás natural para pensar nas fontes representadas pelo sol, pelos ventos e pelo mar, como apontou um atlas formulado pela PUC em 1988. Campos deve considerar que agora tem um rival em Macaé e que é melhor incrementar um projeto de desenvolvimento endógeno afinado às novas exigências mundiais.
12 - O que haverá de novo que justifique esse entusiasmo? A agroindústria sucroalcooleira não tem mais a força apresentada no século XX, embora mostre tíbios sinais de recuperação. A era dos royalties passou e pouco deixou no aspecto estrutural. Macaé transformou-se em polo econômico mais dinâmico que Campos, quando, em 1855, ocupava lugar de porto de Campos. A produção de petróleo na bacia de Campos está em declínio. O complexo industrial-portuário do Açu fechou-se para a região. Talvez esteja mais aberto para o mundo. Já houve voos regulares de Campos para São Paulo. O entusiasmo criado pelo anúncio da Azul pode acabar mesmo antes de começar. Uma empresa quer ganhos. Macaé e Campos justificarão voos da Azul para Lisboa e vice-versa? Numa perspectiva histórica, Campos já viveu momentos áureos. Já se disse muito que esses momentos gloriosos chegaram para ficar, mas passaram. É sempre bom ter cautela e relativizar.

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