A pandemia da covid-19 mudou os hábitos da população em todo o mundo. Diante de um novo cenário, o trabalho e o estudo passaram a ser realizados dentro de casa e os exercícios físicos ao ar livre foram interrompidos, fatores fundamentais para que muitas pessoas ganhassem peso nesse período. Dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) da Secretaria de Estado de Saúde (SES) apontam que, de 2019 para 2020, a taxa de adultos com algum sobrepeso no Estado do Rio de Janeiro subiu de 65% para 70%.
Segundo o levantamento do SISVAN, a faixa etária dos adultos foi a que teve o peso mais afetado de 2019 para 2020, momento em que tiveram início os esforços mais incisivos para conter a pandemia. Enquanto estes apresentaram, de 2019 para 2020, aumento de 5% entre os que estão acima do peso, os adolescentes apresentaram um aumento de 3%. Os meninos e meninas com algum sobrepeso nessa faixa etária eram 32% em 2019, subindo para 35% em 2020. Em 2021, a taxa de adultos não sofreu alteração, mantendo-se em 70% e a de adolescentes apresentou uma leve queda para 34,5%.
As crianças também foram consideradas no levantamento: 11,47% estavam com peso elevado para a idade em 2019. Em 2020, a taxa subiu para 12,85% e, em 2021, chegou a 13,79%. Os idosos, por sua vez, quase não apresentaram alteração, apesar da taxa alta. Em 2019, 56,5% estavam com sobrepeso; em 2020, eram 56,9% e, em 2021, 56,2%.
Para Eralda Ferreira, Coordenadora de Vigilância e Promoção à Saúde, as mudanças na rotina, somadas às características de cada idade, geraram os números apresentados acima.
— Adultos e adolescentes têm um metabolismo mais anabólico que os idosos e, por isso, eles têm mais facilidade para ganhar ou perder peso. Além disso, os mais jovens costumam ter uma vida mais ativa. Foram eles que, acostumados a sair para realizar as suas atividades, sentiram uma redução maior no gasto energético com as mudanças causadas pela pandemia — explica Eralda.
Flávia Barbosa, médica endocrinologista da SES, lembra que há uma pandemia mundial de obesidade, doença crônica reconhecida como tal desde 2008. Além disso, com a pandemia de Covid-19, os cuidados com o peso se mostraram ainda mais necessários.
— Descobriu-se durante a pandemia que os pacientes com sobrepeso e obesidade apresentam maior propensão a desenvolverem manifestações mais graves de Covid-19 — explica a médica.
Flávia esclarece ainda que o tecido de gordura ectópico produz as chamadas citocinas inflamatórias, que contribuem e perpetuam um estado inflamatório crônico comum a pacientes obesos. Esse fenômeno leva ao desenvolvimento de outras comorbidades associadas, como a diabetes, a hipertensão arterial, a apneia do sono e outras. Além disso, o paciente com adiposidade visceral (gordura que fica localizada na cavidade abdominal), pode ter a capacidade respiratória comprometida, principalmente quando associado a um estilo de vida sedentário. Tudo isso é um perigo com a Covid-19.
— A pandemia tornou esse ciclo vicioso. Com o isolamento social, muitas pessoas acabaram interrompendo a sua prática rotineira de atividades físicas, reduzindo seu gasto energético e aumentando o peso corporal. Além disso, o estresse gerado pelo clima de incertezas e expectativas provocado por esse novo coronavírus também levou a população a descuidar da alimentação, que aliada ao estresse e ao comer emocional, busca conforto em pratos ricos em carboidratos.
Para a médica é importante não descuidar do próprio peso. Por isso, ela reforça a importância de uma rotina de atividades e da alimentação adequada. Indo além, uma equipe multidisciplinar com endocrinologista, nutricionista e outros também podem ajudar no processo.