Cientista acompanha potencial
15/10/2021 19:56 - Atualizado em 16/10/2021 11:47
Luiz Fernando Rosa Mendes
Luiz Fernando Rosa Mendes / Divulgação
O que os cientistas já sabem sobre energia renovável na região? Na avaliação do doutor em Ciências Naturais pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e professor do Instituto Federal Fluminense (IFF), Luiz Fernando Rosa Mendes, em 20 anos, o Brasil vive sua terceira crise hídrica, com sérios impactos na produção e distribuição de energia elétrica, em pleno período de negacionismo. Segundo ele, o que está faltando ao País são “políticas públicas fortes e bem definidas” para resolver questões como o desmatamento, reflorestamento, gestão de recursos hídricos e maior incorporação de outras fontes renováveis na matriz elétrica brasileira.
No caso específico de Campos e da região Norte Fluminense e, sua infinita potencialidade de produ-ção de energia renovável, com ênfase, na eólica e solar, ele chega a pontuar o que falta para que isso se torne uma realidade.
Luiz usa a frase do soció-logo alemão Ulrich Beck, que diz: “Pensar globalmente, agir localmente”. Assim, segundo ele, devemos agir sobre as questões que impactam diretamente o local em que vivemos e criamos a nossa família. “Nesse sentido, vejo que, do ponto de vista energético, a nossa região está ainda fortemente atrelada à exploração e produção de petróleo e gás natural, tendo em vista a facilidade logística dessas fontes primárias para usinas termoelétricas instaladas no nosso estado”, ressalta.
Ele explica que com a construção das duas usinas termoelétricas no Porto do Açu com potência total de 3,1 Gigawatts (GW), futuramente tornando-se a maior usina termoelétrica da América Latina, e com a nova Lei do Gás, a região Norte Fluminense se consolidará ainda mais como um grande polo de produção termoelétrica, tendo em vista a projeção de mais 10 usinas térmicas até 2035, principalmente no município de Macaé.
De acordo com ele, na sua tese de doutorado realizada em 2019, constatou que o município de Campos tem um grande potencial para produção de energia solar e eólica, o que pode ser extrapolado para a região Norte Fluminense. “Em relação à energia solar em nossa região, já podemos observar um crescimento considerável no número de instalações de sistemas solar fotovoltaicos por meio da geração distribuída, principalmente em residências e comércios, uma vez que estamos, desde o ano de 2013, com aumentos sucessivos nas tarifas de energia elétrica em virtude das recentes crises hidroenergéticas”, disse.
O cientista explica que Campos, por exemplo, tem considerável irradiação solar média anual no valor de 5,25kWh/m².dia, sendo que a média anual brasileira varia entre 4,5 a 6,5kWh/m².dia. No que diz respeito a sistemas de energia solar fotovoltaica de médio porte até 1 Megawatt (MW), o município conta ainda com o relevo e quantidade de área favorável, principalmente na região da Baixada Campista, e infraestrutura de rede de distribuição da concessionária para conexão dos sistemas.
— Observando a energia eólica, no município de São Francisco do Itabapoana já existe uma usina eólica de 17 MW. Isso porque o litoral da região Norte Fluminense tem considerável potencial eólico, como apontam estudos e mapas eólicos do estado do Rio de Janeiro e do Brasil. Pelo mapa eólico estadual, a região Norte é a melhor área para implantação de empreendimentos eólicos onshore (em terra) — disse Luiz Fernando.
Projetos — Recentemente, foram protocolados e ainda constam em análise os pedidos de licença prévia junto ao Ibama de quatro projetos de implantação de usinas eólicas offshore (no mar) no litoral do estado do Rio totalizando 14,66GW, sendo eles: Maravilha com potência de 3GW; Aracatu com 3,84GW; Ventos do Atlântico com 5GW e Ventos Fluminenses com 2,82GW. Esse potencial eólico offshore no estado do Rio de Janeiro foi evidenciado em 2020 pela Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE) em estudo preliminar sobre o assunto intitulado “Roadmap Eólica Offshore Brasil” de energia eólica offshore no Brasil desenvolvido pela EPE e em estudo desenvolvido nesse ano pelos pesquisadores Amanda Vinhoza e Roberto Schaeffer ambos da COPPE/UFRJ.
Outro estudo de viabilidade em curso e com Memorando de Entendimentos (MOU) assinado pelas empresas Fortescue Future Industries Pty Ltd (FFI), subsidiária da Fortescue Metals Group Ltd (Fortescue), e a Porto do Açu Operações S.A. (Porto do Açu), uma subsidiária da Prumo Logística S.A. (Prumo), diz respeito a instalação, no Porto do Açu, de planta de produção de “hidrogênio verde” com potência de 300MW e capacidade de produzir 250 mil toneladas de “amônia verde” por ano a partir de energia eólica offshore e solar.
Outra fonte — Além dos potenciais de energia solar e eólica, podemos ainda citar o potencial a ser explorado a partir da geração de energia por biomassa, uma vez que, nossa região tem um segmento agropecuário forte.
Mas, Luiz Fernando afirma: “Outro aspecto relacionado ao potencial de crescimento da energia renovável, especialmente a eólica e solar em nossa região que ressalto, diz respeito aos impactos negativos que essas fontes de energia poderão causar. Não podemos ‘romantizar’ as energias eólica e solar como fontes energéticas de ‘zero impacto ambiental negativo’ ou ‘energia limpa’. Então, a sociedade organizada e a comunidade científica precisam conhecer e ficar atentas”.
 
 

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