*Edgar Vianna de Andrade
- Atualizado em 25/10/2021 19:54
De todos os filmes sobre o abominável homem da neves, pé grande, Yeti, Sasquatch, o que marcou época foi “O abominável homem das neves”, de 1957. Ainda assim, ele não é encontrado facilmente. Nascido nos estúdios da famosa Hammer, empresa britânica criada em 1934, “The abominable snowman” contou com a direção de Val Guest. Os planos abertos e as paisagens tiram o fôlego. Quem assiste ao filme acredita que ele foi rodado nos Himalaias. Mas, foi todo ele produzido na Europa. As tomadas externas foram feitas nos Pirineus franceses. O mosteiro lamaísta foi montado em estúdio. Os monges são garçons de um restaurante chinês de Londres.
A película em preto e branco realça o branco da neve. O Dr. John Rollason (Peter Cushing) estuda plantas do Tibete com sua mulher e seu assistente. O Dalai Lama é um ocidental de olhos puxados. Ele tem uma percepção altamente desenvolvida. Ele pressente que outra expedição está se aproximando e acerta. São norte-americanos liderados por um homem ambicioso que deseja capturar um yeti para exibi-lo em público e ganhar dinheiro. Rollason se junta a eles com outro interesse: estudar o pé grande cientificamente. A tese dominante ainda hoje é a de que os hominídeos separaram-se dos grande macacos em tempos remotos. Mas, Rollason crê que a separação foi tripartite. Além dos hominídeos e dos grandes macacos, um terceiro ramo é representado pelos yetis. Fugindo de conflitos e caçadas, o pé grande se adaptou a um ambiente gelado e de difícil acesso a predadores.
Ele está protegido pelos monges budistas, cuja ética é a de não ferir nenhum animal. Mas, o ocidente consegue agora chegar nos mais recônditos lugares do mundo, ainda mais alimentado por uma economia de mercado. A história contada no filme é, em linhas gerais, a abordada em “O mundo perdido” e “King-Kong”. É a mesma história dos caçadores de elefantes, de rinocerontes e de qualquer outro animal bem avaliado em dinheiro. É uma história que remonta suas origens ao início do século XV. Três tipos humanos fazem parte dessa história trágica: aventureiros, curiosos e catequistas. Em “O abominável homem das neves”, os catequistas não entram em cena. Talvez pensando que uma criatura estranha não pudesse ser convertida. Mas, estão presentes o aventureiro e o cientista.
À medida em que a expedição sobe as montanhas geladas, os perigos começam a aparecer. O frio aumenta. De repente, um yeti surpreende o grupo. Um tiro do caçador de recompensa mata um yeti. Ao espectador, não é mostrado nada além de sua mão enorme. É um bom truque cinematográfico. Pela mão, pode-se calcular o corpo. Ao mesmo tempo, não é necessário caracterizar uma criatura gigante, da qual se infere seu tamanho pelas pegadas. A curiosidade aumenta. O canto dos yetis alucina. O fotógrafo se atira de um monte e morre. O guia tibetano foge e volta para o mosteiro. A mulher e o assistente de Rollason organizam outra expedição para encontrar o marido. O Dalai Lama disse que não impediu a caçada porque todo homem deve cumprir seu destino.
A ambição mata todos os norte-americanos. Finalmente, o cientista pode ver os yetis, mas apenas seus rostos envoltos em sombra. Eles são pacíficos. A expedição de sua esposa o encontra, e todos voltam ao mosteiro. Rollason declara ao Dalai Lama que nada encontrou.