Dora Paula Paes
04/09/2021 09:23 - Atualizado em 04/09/2021 09:27
O vereador Pastor Marcos Elias (PSC), com a bênção da presidência da Câmara Municipal de Campos e concordância dos seus pares, abriu a sessão da última quarta-feira (1) pedindo proteção para todos, usando a palavra “medo” e culminância em ato coletivo para entoar o “Pai Nosso” em oração universal. O motivo: a manifestação pró-Bolsonaro do próximo dia 7 de setembro, em Brasília e várias capitais do país. Representantes da direita dizem que o ato é pela democracia. A esquerda contra ataca refutando que é para esconder mazelas sociais. A ciência política diz que tudo pode acontecer ou nada. Ainda, em outra esfera, instituições pilares da Economia Nacional estão atentas e não se furtaram de marcar posição durante a semana.
De certo, no último dia 19, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o maior beneficiado com o povo nas ruas, disse que não há motivos para temer movimentos nas ruas do país durante o dia 7 de setembro: “Nosso povo é ordeiro, é pacífico, é patriota e, em sua maioria, acredita em Deus e tem família. O que vão querer no dia 7? Liberdade”, no entanto, jogou no ar que o povo se encontra “sufocado” e “o destino do Brasil será mudado”.
Em Campos, a maior cidade do interior do Estado, o movimento reverbera. Na sexta-feira (03), movimentos sindicais e de esquerda foram para o Centro da cidade e promoveram enterro e queima simbólica de um caixão que representou Bolsonaro e seu governo. Já no dia 7, a direita estará realizando um ato na praça da Igreja do Saco, às 10h.
“Quero parabenizar o Pastor (Marcos Elias) pelas suas palavras. O dia 7 de Setembro vai ser uma data imprevisível, nós não sabemos o que vai acontecer, mas milhões de pessoas vão estar nas ruas em São Paulo, Brasília e em todas as capitais e em alguns municípios, como Campos. Eu vou estar nas ruas também. Na segunda-feira e terça-feira a coisa vai ferver e Deus queira que termine em paz”, chegou a dizer o vereador Nildo Cardoso (PSL), na sessão que começou com oração. Ele lembra que é preciso respeito aos três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), ao mesmo tempo, conta que cerca de 70%, dos 25 vereadores de Campos, como eleitores de Bolsonaro: “não vejo ninguém de esquerda na Casa, pelo menos não se manifestam”.
Direitistas de Campos prontos para "libertar o país"
Diferente do vereador Nildo Cardoso assumidamente bolsonarista, o ex-candidato a prefeito de Campos, nas eleições de 2020, Jonathan Paes (Brasil 35), não se declara “apaixonado” pelo presidente Bolsonaro. Segundo ele, estará indo a Brasília com uma comitiva local, quando participará das manifestações em “prol da liberdade do nosso país”. Defender o país é o que também motiva o vereador, só que no ato em Campos, na praça da Igreja do Saco.
“O ato é de cunho nacional onde todo o país encontra-se motivado em promover as verdadeiras mudanças que são necessárias para desencadear a libertação política. Existe descontentamento de grande parte da população com o atual sistema político, que favorece aos políticos corruptos e pede transparência nas eleições. Além de uma desarmonia entre os poderes que não se entendem mais. Eles são distintos e independentes, mas devem ser harmônicos e a Justiça não expressa mais o sentimento de moralidade, do mesmo modo o Congresso Nacional”, disse Paes.
Jonathan cita o Artigo Primeiro da Constituição Federal que “todo poder emana do povo”, mas defende que as Forças Armadas façam cumprir a ordem e a lei, segundo ele, se existir discordância. “Eu não sou apaixonado por Bolsonaro. Não aceitamos o rótulo de extremistas, são decisões tomadas em prol do desenvolvimento do país”, ressaltou, externando ainda sua queixa contra à direita de Campos que não se une em prol do que ele considera um projeto único. “Sempre dividida. Eu gostaria muito que tivesse uma união do grupo e consolidasse um grupo forte dentro de Campos. Fica aqui minha crítica”, desabafa o direitista.
Ciência política fala em tudo ou nada no dia 7
Nos tempos futuros serão historiadores e cientistas políticos que perpetuarão e contarão o desfecho de cada movimento. Mas, a cinco dias da manifestação, o cientista político da Uenf, Hamilton Garcia, conjectura o que se desenha. Hamilton destaca que o ato convocado por Bolsonaro, em condições normais, seria uma mobilização de esquenta eleitoral para as eleições de 2022 para manter a polarização com o PT. “Que é como ele se retroalimenta’’, explica.
“Agora, o problema é que o isolamento do Bolsonaro é muito grande. O racha na própria coalizão bolsonarista já é público e vem aumentando, de modo que esses atos podem, até pela forma como ele emula a convocação flertando com povo armado e ideia de que as instituições democráticas precisam ser salvas por ele e pelo povo. Então, esses discursos e conclamação podem ter efeito inflamatório sobre as forças que vão participar desse evento. E tudo pode acontecer. Exacerbações, atos de violência, como também pode não acontecer, depende muito do ânimo das pessoas, que só vamos ver mesmo no dia da manifestação”, disse ele, alertando que o quadro é “meio de tudo ou nada para Bolsonaro”.
Contra possível confronto — Nessa sexta-feira (3), o sindicato dos Bancários e líderes de movimentos estudantis ligados à esquerda fizeram uma manifestação no centro de Campos, com cerca de 30 pessoas. “Discutimos muitas coisas com a população, entre elas, a falta de comida na mesa, a falta de emprego e argumentamos contra as privatizações, coisas que estão acabando com nosso país”, dizem os líderes, arrematando que: “não adianta ir para as ruas no 7 de setembro e haver confronto com os apoiadores do presidente, que são maldosos, querem briga, querem que o povo morra e que haja confronto com armas. Nós só queremos paz e justiça para que a população tenha emprego e comida”.
Entidades pilares do setor econômico estão atentas
Na esfera nacional, a tratativa sobre os desafios à harmonia político-institucional no Brasil levou várias instituições a se posicionarem. Logo na segunda-feira (30), representantes do agronegócio publicaram uma nota em defesa da democracia. Na quinta-feira (2), foi a vez daFederação Brasileira de Bancos (Febraban) reafirmarapoio ao manifesto que pede harmonia entre os poderes e que respeita a posição do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal de se posicionarem “contrariamente à assinatura” do documento.
Seis associações ligadas ao Agro tornam pública a preocupação com a harmonia entre os poderes e, como consequência, à estabilidade econômica e social do país. “Cumprimos o dever de nos juntar a muitas outras vozes responsáveis, em chamamento a que nossas lideranças se mostrem à altura do Brasil”, diz o texto.
Já a Febraban divulgou a carta que contava com a assinatura de cerca de 200 entidades de classe – entre elas a Associação Brasileira de Agronegócio (Abag), o Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), a Fecomercio e a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
O manifesto a “Praça dos Três Poderes” foi mal recebido no Palácio do Planalto, pois trazia recados claros na direção do presidente Jair Bolsonaro e, por isso, ventilada a possibilidade da Caixa e Banco do Brasil deixarem a Federação.
Na nota, a Febraban diz que aprovou a versão apresentada da carta-manifesto “dentro de um contexto plurifederativo de entidades representativas do setor produtivo e cuja única finalidade é defender a harmonia do ambiente institucional no país”.