Bolsonaro recua e manifestantes liberam rodovias federais
09/09/2021 06:53 - Atualizado em 09/09/2021 18:09
  • BR 101 liberada após protesto (Foto: Genilson Pessanha)

    BR 101 liberada após protesto (Foto: Genilson Pessanha)

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    BR 101 liberada após protesto (Foto: Genilson Pessanha)

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    BR 101 liberada após protesto (Foto: Genilson Pessanha)

Rodovias federais de pelo menos 15 estados brasileiros amanheceram nesta quinta-feira (9) ainda com bloqueios causados por manifestantes a favor das pautas defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro, mas começaram a ser liberadas após o presidente da República recuar, diante das proporções tomadas pelos protestos, e fazer um apelo para que os apoiadores desfizessem os bloqueios. Em Campos, os manifestantes que permaneceram até a manhã desta quinta-feira (09) no km 75 da BR 101, onde houve retenção desde a noite dessa quarta-feira (8), alegaram que o protesto deles não é a favor do presidente ou outro político, mas sim por melhorias na remuneração da classe, que hoje sofre com o aumento dos combustíveis. A pista foi liberada por volta das 6h30 desta quinta e o fluxo seguiu normalmente.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) teve que intervir na manifestação, na manhã desta quinta, retirando manifestantes que sentaram e deitaram sobre a via. O protesto chegou a juntar 200 pessoas, de acordo com os agentes da PRF, mas após o princípio de uma confusão o número reduziu para menos de 20 pessoas.
Um dos líderes do protesto, o caminhoneiro Daniel da Silva Barreto, de 40 anos, falou sobre o motivo do ato. "Nosso combustível está num preço que nós não temos condição de trabalhar e nem de levar comida pra casa. Está inviável e, por isso, viemos fazer uma paralisação bem ordenada, sem que arrumássemos problema com ninguém", pontuou.
Segundo a PRF, o protesto seguia tranquilo, mas no início da manhã desta quinta houve uma tentativa de bloqueio total da rodovia. "A priori eles não fecharam totalmente a rodovia e estavam apenas convidando os caminhoneiros que passavam para participar do movimento. Hoje, no início da manhã, eles tentaram uma interdição total da rodovia e a PRF prontamente atuou e não permitiu. Garantimos assim o fluxo total da rodovia e a maioria deles achou melhor debelar o movimento e voltar a sua rotina normal", disse um agente da PRF em Campos. 
A PRF informou na tarde desta quinta ter liberado 35 pontos de bloqueio e manifestações nas rodovias do país. Esses pontos incluem bloqueio parcial, bloqueio total e concentrações de manifestantes. Pela manhã, eram registrados protestos em 15 estados: Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo, Mato Grosso, Goiás, Bahia, Minas Gerais, Tocantins, Rio de Janeiro, Rondônia, Maranhão, Roraima, Pernambuco e Pará.
As manifestações a favor do presidente e contra os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) iniciadas em 7 de setembro ganharam proporções na noite dessa quarta-feira, com o bloqueio de rodovias federais por todo o Brasil e levaram Bolsonaro a gravar um áudio pedindo aos caminhoneiros que liberassem as estradas, afirmando que os atos atrapalham a economia e prejudicam todo mundo, em especial, os mais pobres.
“Fala para os caminhoneiros aí, que são nossos aliados, mas esses bloqueios atrapalham a nossa economia. Isso provoca desabastecimento, inflação e prejudica todo mundo, em especial, os mais pobres. Então, dá um toque no caras aí, se for possível, para liberar, tá ok? Para a gente seguir a normalidade. Deixa com a gente em Brasília aqui e agora. Mas não é fácil negociar e conversar por aqui com autoridades. Não é fácil. Mas a gente vai fazer a nossa parte aqui e vamos buscar uma solução para isso, tá ok? E aproveita, em meu nome, dá um abraço em todos os caminhoneiros. Valeu”, disse o presidente na gravação.
Em vídeo publicado nas redes sociais, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, afirma que o bloqueio iria agravar a crise econômica e confirma áudio de Bolsonaro para caminhoneiros.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal, o bloqueio foi feito por volta das 17h40 dessa quarta e os manifestantes, que também reclamam do preço do combustível e reivindicam que o governo do Estado retire o ICMS, pararam diversos caminhões e pedem para os motoristas ficarem parados. Atos envolvendo paralisação de caminhões acontecem em pelo menos 12 estados. Os bloqueios tiveram início nessa terça-feira (7), durante as manifestações convocadas por Bolsonaro.
Consequência — O bloqueio de rodovias federais em todo o Brasil nessa quarta-feira gerou um temor de desabastecimento. Em Campos, alguns supermercados registraram nesta quinta-feira um movimento acima do normal de pessoas que procuram estocar alimentos, devido ao receio de a situação de 2018, quando os caminhoneiros fizeram greve, se repita.
Protesto em Campos
De acordo com a PRF, seus agentes e equipes da Polícia Militar tentaram dialogar com os manifestantes para desfazer o bloqueio, mas os manifestantes se recusaram a liberar a pista em Campos, na noite dessa quarta-feira. Por volta das 21h, a equipe de reportagem da Folha da Manhã esteve no local e os manifestantes afirmaram, mais uma vez, que não iriam liberar a BR. Inclusive, os manifestantes levaram alimentos para passar a noite no local. 
Segundo a Arteris Fluminense, concessionária que administra a rodovia, a passagem foi liberada somente para cargas vivas, veículos leves, ônibus e motos. Já os caminhões bloqueados ficaram estacionados nos acostamentos, na altura de Ururaí.
Pelo Brasil
Presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim fez críticas aos atos que estão sendo realizados por caminhoneiros bolsonaristas em todo o país. Em entrevista ao site O Antagonista, ele disse que não representa uma demanda da categoria o movimento, mas, sim, um ato partidário.
“O pessoal do agro está por trás disso aí. Estamos tentando entender a pauta. A situação econômica é totalmente complicada, a categoria vem sofrendo há algum tempo, estamos com demandas paradas em Brasília, mas existe esse movimento aí. Está bem claro que não é dos caminhoneiros, é um movimento da direita. Não são os caminhoneiros, os transportadores autônomos que estão fazendo esse movimento. É algo diferente”, disse Wallace, que foi um dos líderes da greve dos caminhoneiros em maio de 2018.
Também líder da greve em 2018, que defendia pautas ligadas à categoria, Wanderlei Alves disse ao site O Antagonista que o ato desta quarta-feira é “terrorismo”.
“Esses bolsonaristas são abusados e criminosos. Esses caras não deveriam nem estar no volante. Isso aí é terrorismo, um cara desse tem que ser preso por terrorismo. Bolsonaro é o culpado de tudo isso. Bolsonaro incendiou o país. Vai dar morte isso aí. Vai morrer gente e Bolsonaro será o responsável”, enfatizou Wanderlei.
O ministério de Infraestrutura informou que a previsão é garantir o livre fluxo nas estradas do país, mas tentativas de encerrar os bloqueios não tiveram sucesso até o final da noite desta quarta-feira. Os principais estados com bloqueios são Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Maranhão.
Em nota, o ministério disse que “não há coordenação de qualquer entidade setorial do transporte rodoviário de cargas e a composição das mobilizações é heterogênea, não se limitando a demandas ligadas à categoria".

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