Com população se aproximando de 1,5 milhão de habitantes, a região da Bacia de Campos passa por um processo de metropolização, com destaque para o município de Campos, que deve ultrapassar a população de Niterói em 2023, quando alcançará 524 mil moradores. Esse crescimento demográfico é um reflexo do fortalecimento econômico da região. E quanto maior a população, maiores são os repasses de recursos, já que as transferências constitucionais têm como critério o cálculo das estimativas populacionais.

A tendência de crescimento da regionalidade foi identificada pelo geógrafo e consultor especializado em desenvolvimento regional William Passos e confirmada pelas estimativas da população residente no Brasil e unidades da federação 2021, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no final do mês de agosto.

De acordo com William, esse crescimento populacional em Campos é reflexo da capacidade do município em reter mais a população, diferentemente do que ocorria até alguns anos atrás, quando muitos residentes, principalmente os mais jovens, migravam, normalmente para o Rio de Janeiro. O especialista acredita que Campos tem potencial de absorver esse crescimento da população, mas o que vai determinar o sucesso ou não é a capacidade de gestão.

— À medida que o tempo vai passando, a tendência é que os problemas se mantenham ou até se agravem. Mas, por outro lado, Campos tem também a capacidade de mitigar esses problemas, porque tem orçamento e tem potencial econômico. Esse não é um crescimento baseado em fluxo migratório, mas em capacidade de retenção de população. Existe migração para Campos, mas não é significativo no crescimento populacional. E isso indica oportunidade, indica força econômica, que é um reflexo do fortalecimento da região da Bacia de Campos — explica William, ressaltando que em outros municípios, na faixa litorânea de Saquarema a Quissamã, o crescimento populacional se dá pela imigração.

O geógrafo acredita que esse crescimento demográfico fortalece o Arranjo Populacional (AP) de Campos dos Goytacazes — que inclui São João da Barra — na hierarquia urbana, transformando o AP em um nó importante da região, como indicou o estudo do IBGE “Região de Influência das Cidades”. Os dados apontam que houve um fortalecimento de Campos, de 2007 para 2018, como polo especializado em ensino superior a nível de mestrado e doutorado e em termos de oferta diversificada de comércio e de serviços.

— Isso significa que Campos tem uma capacidade de atração de pessoas de outras cidades, para fazer compras de produtos e serviços, superior a dos demais municípios, inclusive dessa regionalidade da Bacia de Campos. E isso a gente tem percebido que é uma tendência crescente, porque cada vez mais a gente vê a instalação em Campos de grandes empresas de segmentos varejistas, por exemplo. Se compararmos com alguns anos atrás, Campos hoje tem muito mais shoppings, tem muito mais cinemas, e sala de cinema é um indicador importante, porque são poucas cidades no Brasil que têm sala de cinema. Isso é um indicador de especialização e de fortalecimento de Campos regionalmente, em termos de hierarquia urbana — ressaltou o especialista.

De acordo com ele, Campos, dentro da região da Bacia de Campos, não se especializou como polo industrial, mas sendo polo de serviços, que atende, ainda, o Noroeste Fluminense, Sul do Espírito Santo e região de Minas Gerais.

Campos, entretanto, esbarra na dificuldade em diversificar a economia. “Apesar do histórico de recebimento de royalties do petróleo, Campos não conseguiu utilizar esses recursos para fortalecer, por indução da Prefeitura, as atividades já existentes, nem, por indução da Prefeitura, fortalecer o comércio e os serviços, nem para atrair novos setores econômicos e diversificar a economia. Esse processo de crescimento tem se dado muito mais espontaneamente, em função das transformações econômicas, do que propriamente por efeito de uma política planejada da Prefeitura. Não que a Prefeitura não tenha tentado. Houve tentativas, só que essas tentativas não alcançaram os resultados esperados”, ressaltou William Passos.

População — Em 2010, Campos dos Goytacazes tinha 463.731 habitantes, em 2021 registra 514.643 residentes e, segundo cálculos do geógrafo William Passos, deve alcançar, em 2023, 524 mil moradores.