Fiocruz seleciona música do campista Aluísio Machado para abrir a Primavera Paulo Freire
Matheus Berriel - Atualizado em 06/09/2021 19:12
Paulo Freire completaria 100 anos no próximo dia 19
Paulo Freire completaria 100 anos no próximo dia 19 / Divulgação
“A humanidade entrou em choque / Ninguém se entende mais. Os homens na face da Terra / não querem paz, só pensam em guerra./ Querem alcançar o infinito / querem conseguir o que não está escrito./ O mal suplantou a bondade/ a mentira superou a verdade./ Quem tem muito quer ter mais/ quem não tem, resta sonhar. Quem não estudou é escravo / de quem pôde estudar”. Por mais atuais que sejam, foram escritos na década de 1970 os versos da canção “A Humanidade”, do compositor campista Aluísio Machado, agora escolhidos pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para abrirem a Primavera Paulo Freire, evento virtual em que a entidade vai homenagear o centenário de nascimento do educador e filósofo pernambucano. A programação acontecerá de 22 a 24 deste mês, com videoconferências que integram educação, arte e ciência, todas transmitidas pela VídeoSaúde, distribuidora da Fiocruz no YouTube.
Aos 82 anos, nascido em Campos mas radicado no Rio de Janeiro desde a infância, Aluísio Machado assinou um termo de cessão, junto à Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, autorizando o uso de “A Humanidade” na Primavera Paulo Freire. A iniciativa partiu da coordenadora adjunta das residências em saúde da fundação, Adriana Coser, viabilizando uma gravação especial por músicos para ser exibida no dia 22, a partir das 9h.
— É gratificante a minha música fazer parte de uma homenagem que a Fiocruz promove ao grande professor Paulo Freire, música essa que eu fiz em 1974, nos anos de chumbo da ditadura militar, época em que eu fui taxado de subversivo. Hoje, as coisas que eu falei em 1974 estão acontecendo. Nessa grande homenagem ao Paulo Freire, me sinto também homenageado, por minha música ter sido escolhida para esse momento — afirma Aluísio, que tem como principais destaques na sua trajetória os 14 sambas-enredo emplacados em desfiles da escola de samba carioca Império Serrano, seis deles premiados com o Estandarte de Ouro do jornal “O Globo”.
Além da execução da música de Aluísio Machado, a agenda da Primavera Paulo Freire terá, no dia 22, a partir das 9h30, uma mesa de abertura e debates. Às 14h, será apresentada a peça teatral “Andarilho da Utopia”. Para o dia seguinte, estão previstas duas cirandas de apresentações, também às 9h30 e às 14h. Já no dia 24, a partir das 9h30, rodas de conversas temáticas complementarão a homenagem, seguidas por um encerramento cultural. As inscrições, tanto para ser ouvinte no evento quanto para enviar trabalhos, devem ser feitas pelo site campusvirtual.fiocruz.br/gestordecursos/hotsite/primaverapaulofreire.
Nascido em 19 de setembro de 1997, no Recife, e morto no dia 2 de maio de 1997, em São Paulo, Paulo Freire notabilizou-se como um dos maiores pensadores da pedagogia mundial, tendo sido nomeado patrono da educação brasileira. Apesar dos ataques do presidente da República, Jair Bolsonaro, do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub e de eleitores da direita conservadora, o legado do educador inclui obras reconhecidas internacionalmente, entre elas o livro “Pedagogia do Oprimido”, de 1968, que propôs uma pedagogia com nova forma de relacionamento entre professor, estudante e a sociedade.
Se muito da obra de Paulo Freire continua influenciando e servindo de exemplo aos novos educadores, o mesmo pode ser dito sobre os versos de Aluísio Machado. Afinal, nunca é tarde para se compreender que “os direitos humanos são iguais / mas existem as classes sociais./ Eu não sou de guerra, sou de paz./ Quero trabalhar para poder ter/ é tendo que a gente aprende pode dar./ Eu quero ser livre e libertar / eu quero estudar e aprender / eu só quero aprender para ensinar”.
Aluísio Machado
Aluísio Machado / Divulgação

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