Tenho recebido diversas ligações de pais com dúvidas sobre a vacinação do adolescente contra a Covid. O recuo do Ministério da Saúde na estratégia de vacinar esta faixa etária foi insano, visto que ela ocorre em dezenas de países do primeiro mundo, consubstanciada pelos resultados robustos em diversos estudos sobre segurança, eficácia e efetividade. Ficou claro que a decisão mais uma vez foi de uma pessoa que não é médica e que tem menosprezado a ciência em todo este tempo de pandemia.
É de causar estranheza que o Ministro da Saúde, ex-presidente de uma sociedade científica, tenha mais zelo pelo cargo que ocupa do que pela responsabilidade de sua gestão, obedecendo simplesmente às ordens de um presidente da República que não acredita e não valoriza vacinas. Felizmente alguns municípios, inclusive aqui em Campos dos Goytacazes, mantiveram a estratégia, principalmente onde a maioria da população adulta já se encontra com pelo menos a primeira dose aplicada.
A Covid-19 matou somente este ano, de janeiro a julho, 1.581 jovens entre 10 e 19 anos no Brasil. Este número já é mais alto que o total de mortes do até então principal responsável pelos óbitos por causas naturais, não provocadas por forças externas, como o câncer, que matou, em 2019, 1406 jovens. Apesar de os jovens evoluírem bem na maioria dos casos, não é possível ficarmos a mercê da sorte ou do azar. Então por que não prevenir?
Sem contar que a imunização de toda parcela da população é de extrema importância para a redução da circulação viral entre nós. Esperar para que os jovens peguem a doença e, assim, criarem anticorpos, vai na linha de pensamento absurdo já pregado desde o início da pandemia por ignorantes sobre o assunto.
Alguns alegam que, como a evolução nesta idade é mais tranquila, a vacina traria efeitos colaterais. Isto não cabe, pois efeitos adversos de vacinas são raros e, em geral, leves. Porém, a infecção natural pelo SARSCov-2 frequentemente pode causar transtorno mais sérios. A OMS realmente não recomenda esta vacinação no momento, mas de forma alguma contraindica, pois tem o conhecimento de sua importância. O que busca é priorizar a vacinação da população mundial em países pobres que têm um baixo índice de imunização. Todas as sociedades científicas nacionais e internacionais e a nossa Anvisa, reforçam a necessidade desta proteção, acontecendo com sucesso em grande parte da Unidade Européia, Reino Unido, Canadá, Estados Unidos, Israel etc.
O que ocorre é que, mesmo com a decisão do ministro Ricardo Lewandowski, do STF, concedendo autonomia a estados e municípios sobre a vacinação de adolescentes, além da recomendação da própria Anvisa, o fato é que este tipo de ruído causado pelo anúncio do Ministério da Saúde contribui para gerar ainda mais dúvidas e insegurança em parte da população que vem sendo vítima do discurso negacionista, vindo especialmente do Palácio do Planalto. Vacinas adolescentes sim.