Rodrigo Neves defende que reconstrução do RJ passa pelo interior
Arnaldo Neto, Aluysio Abreu Barbosa, Cláudio Nogueira e Matheus Berriel 14/08/2021 09:05 - Atualizado em 15/08/2021 08:13
Ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves
Ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves / Divulgação - Prefeitura de Niterói
Prefeito de Niterói por duas oportunidades, tendo reeleito o sucessor em primeiro turno, Rodrigo Neves (PDT) lançou a sua pré-candidatura a governador no mês passado, durante agenda em Campos. Nessa sexta-feira (13), em entrevista ao Folha no Ar, da Folha FM 98,3, disse ter escolhido a cidade por vínculos afetivos, já que é filho e neto de campistas. E tem também um aliado na qual aposta alto, o atual secretário de Ciência e Tecnologia niteroiense, Caio Vianna. Neves afirmou que participou da estratégia de campanha dele e se houvesse mais tempo, seria possível uma virada no segundo turno. Credita ao jovem político um capital herdado de Arnaldo Vianna, considerado por Rodrigo o melhor prefeito da história de Campos. E ainda corroborou a posição do PDT no Legislativo goitacá, contra o Código Tributário. Para além das questões locais, fez críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ao governador Cláudio Castro (PL), classificando seu governo como uma “tragédia”. Neves defendeu a retomada da economia fluminense, sobretudo com ações para o interior. No campo político, foi favorável a uma aliança progressista, mas com um candidato que dialogue com todos os segmentos, inclusive com os setores evangélicos.
Urnas em Campos — A eleição do ano passado foi uma eleição que tinha algumas características muito específicas da cidade. A grave crise que a cidade se encontrava, e que ainda se encontra, uma crise financeira, uma crise fiscal da Prefeitura, uma crise econômica que tem a ver, evidentemente, com a situação geral do país e, sobretudo, do estado do Rio de Janeiro. E também os problemas próprios da gestão pública de Campos. O Caio Vianna, apesar de jovem, já tem uma trajetória política, tem uma escola extraordinária, que é a escola do Arnaldo Vianna. O Arnaldo Vianna, um querido amigo, um trabalhista histórico do PDT, na memória do povo de Campos é o melhor prefeito da história da cidade, pelo menos desde a redemocratização do país. Eu não tinha dúvida que o Caio podia, realmente, fazer essa disputa para vencer e fazer um grande governo da reconstrução da cidade de Campos. No segundo turno foi uma virada extraordinária.
Composições — Eu não entrava nesses detalhes de conversa com os grupos políticos da cidade. Atuei muito na concepção, dando ideias gerais, sobre as estratégias da campanha do Caio. Às vezes é melhor você não fazer determinados acordos, e não comprometer o governo e a gestão, do que vender a alma ao diabo para ganhar a eleição e depois você não conseguir governar. Tenho falado bastante com o Caio Vianna, que está muito preparado e acredito que está cada vez mais amadurecido. Tenho certeza que ele vai ser uma das principais referências da chapa federal do PDT. Com o apoio do povo de Campos, do Norte Fluminense, vai ser, se não o mais votado, um dos mais votados.
Tempo para virada — Campanha tem uma dinâmica e a dinâmica era de uma campanha de virada, porque num determinado momento a sociedade de Campos percebeu que o Caio Vianna representava uma possibilidade mais consistente de reconstrução da cidade sem estar amarrado à velhas práticas políticas. Acredito, realmente, que se houvesse mais um tempo, uma semana, duas, talvez, isso poderia se consolidar e o Caio Vianna ter vencido a eleição.
Rompimento Caio e Bacellar — Não conheço o deputado Rodrigo Bacellar (SD), mas, evidentemente, quando você reúne forças políticas, ainda que divergentes, mas com um objetivo comum de disputar a eleição e desenvolver um projeto minimamente conjunto, você tem a perspectiva de ampliar as suas chances. Às vezes, se faz a opção de não selar acordos para não comprometer o futuro governo. Não sei o que aconteceu, mas é muito provável que se houvesse essa aliança, o quadro final poderia ser outro.
Código tributário — Estive em Campos há algumas semanas, apresentando para o Norte Fluminense o projeto “O estado do Rio de Janeiro que queremos”, um projeto de reconstrução do estado. E nessa agenda, ouvindo lideranças empresariais, havia uma indignação muito grande com esse pacote tributário. Acredito que a decisão do PDT está sintonizada com as expectativas do povo de Campos. No meu primeiro ano de governo, nós reduzimos em 50% os cargos comissionados, e ao mesmo tempo fizemos um investimento muito forte em tecnologia. Quando eu assumi em 2013, Niterói era a 58ª em um ranking de gestão fiscal da Firjan. Em 2017, ainda antes de receber os royalties, a gente passou para o 1º lugar. Nós fizemos um programa para atrair investimentos do setor de saúde privada, transformando Niterói em um polo de desenvolvimento do setor de saúde privada. Hoje, o maior contribuinte de Niterói do ISS é o setor de saúde privada. Há possibilidade de melhorar a gestão fiscal da cidade de Campos tomando medidas que o governo precisa tomar, cortando na carne.
Caio em Niterói — Ele recebeu o convite do prefeito Axel Grael em função da experiência que teve nos governos do Arnaldo e também dos estudos nessa área de tecnologia. Esse trabalho tem sido muito positivo no contexto da pandemia, das ações que precisam das ferramentas tecnológicas. Está ajudando a secretaria de Educação no ensino não presencial, está ajudando o desenvolvimento dos telecentros e das plataformas digitais, que são espaços de inclusão digital da população que não tem acesso à internet. 
 
 
Pré-candidatura lançada em Campos — Realmente, a gente iniciou essa jornada de disputa da sociedade civil fluminense e carioca, agora, no mês de julho. E o objetivo que a gente traçou é, até dezembro, detalhar um plano de reconstrução do Rio. A situação é muito grave, muito dramática. As pessoas estão morrendo no Rio de Janeiro pela pandemia e pela falta de assistência da Saúde. As pessoas continuam morrendo de balas perdidas. A gente tem uma situação inaceitável, onde mais de 80% dos bairros da região metropolitana estão dominados, hoje, pelo tráfico de drogas, pelas milícias. O Rio de Janeiro perdeu 700 mil empregos com carteira assinada e vem de um processo de esvaziamento econômico, nas últimas décadas, que se agravou muito nos últimos anos pela absoluta falta de governo, de projeto de desenvolvimento, de planejamento estratégico. E Campos, tenho uma relação muito afetiva com a cidade. Tenho familiares. Meu pai e meu avô por parte de mãe são de Campos, nasceram em Campos. Nós entendemos que fazer o lançamento desse projeto na cidade de Campos seria muito importante.
Prisão na Lava Jato — É uma situação muito estranha o que aconteceu. Na verdade, eu nunca fui ouvido até hoje. Isso nunca aconteceu no sistema de justiça, a pessoa nunca ter sido ouvida, eu nunca fui ouvido até hoje. Nem antes, nem durante, nem depois. É absolutamente inexplicável. E, por decisão de uma pessoa, se tentou conspirar contra a administração. Para se ter uma ideia, os grupos de extrema direita, duas horas depois, entraram com pedido de impeachment com 150 páginas escritas. Apesar de todo o estardalhaço, nada foi apensado ao processo. Não há uma prova, um indício, nada. Omitiram os dados do Coaf que demonstravam que a minha vida era muito simples. A história ainda vai explicar como parcela do sistema de justiça foi aprisionada por interesses políticos de sistemas extremados. O fato é que, por 6 a 1, na primeira reunião do colegiado, a acusação que ensejou aquele sequestro, aquela ação ilegal, foi arquivada. Acusação de organização criminosa sem sequer abrir processo. E eu acho que esse é um assunto que nós viramos a página na medida em que eu retornei ao mandato. Concluí o mandato com 85% de aprovação, e a população de Niterói, que me conhece, em nenhum momento ficou em dúvida sobre a nossa conduta.
Recursos da Cedae — Eu realmente estou muito preocupado, acho que todos nós estamos muito preocupados com a forma eleitoreira açodada com que esse recurso está sendo e pode ser utilizado nesses próximos meses. Esses recursos não são de um governante, de um governo, são os recursos do estado. Aliás, a Cedae era o último ativo importante do estado. E me preocupa muito, pelo que nós temos visto, a ausência completa de compreensão e planejamento de investimento desses recursos.
Nome da direita — A gente está vivendo uma dinâmica completamente diferente, e eu não acredito que isso seja exatamente uma coisa boa, de antecipação do calendário político-eleitoral. Por isso que eu tenho falado, e acredito que a nossa proposta do PDT é uma proposta diferenciada, porque nós somos o único partido que está propondo um debate sobre programa de governo antes de falar de disputa. Ainda tem muita água para rolar debaixo da ponte. Eu penso que é muito provável uma outra candidatura nesse campo bolsonarista, que pode ser a do (vice-presidente Hamilton) Mourão ou uma outra. Acredito que seja muito provável que isso aconteça.
Aliança progressista e diálogo com evangélicos — Em relação a essa aliança do conjunto das forças democráticas, eu acredito que o deputado (Marcelo) Freixo (PSB, pré-candidato a governador) é um deputado muito necessário para o estado do Rio. Aliás, as pessoas têm um perfil, que é um perfil muito específico. Há pessoas com perfil mais do Executivo, um perfil mais do Legislativo. O Freixo nunca passou por uma experiência de governança, nem de prefeito, e perdeu a eleição para o (Marcelo) Crivella (Republicanos). É muito importante lembrar isso. O Freixo perdeu a eleição para o Crivella na cidade do Rio de Janeiro, que tem um perfil muito diferente do estado. Então, é preciso que a gente compreenda, no campo das forças democráticas, que é necessário dialogar com os segmentos, como por exemplo o segmento dos evangélicos. Aqui em Niterói, durante o meu governo, nós fizemos um trabalho em profundo diálogo com as igrejas. Nós precisamos trazer para o diálogo da reconstrução do estado o segmento das igrejas, que é um segmento importante, no sentido de programas de proteção às famílias. Da mesma forma, a gente precisa trazer as lideranças empresariais, e a nossa experiência testada e aprovada da governança é que fizemos um governo pró-empreendedor. É isso o que a gente precisa: ter um governo que aposte e acredite na força dos empreendedores. E também construir uma aliança sólida que seja capaz de viabilizar não apenas a eleição, mas a reconstrução do estado. A gente tem dimensão de que, acima das diferenças ideológicas e partidárias, está o compromisso de resgatar o Rio de Janeiro. Então, acredito que esse namoro que temos com o grupo político do prefeito Eduardo Paes (PSD) um dia vai chegar em casamento.
Interior do RJ — Essa é uma questão central: nós não vamos reconstruir o Rio de Janeiro se o governo não funcionar, especialmente, para o interior. E aí não são ações pontuais. A gente precisa é de um plano estratégico e de um projeto de desenvolvimento que integre a dimensão da economia com a educação, com a saúde e com a segurança pública baseada em evidências. Não é possível que o Porto do Açu, em São João da Barra, que tem grande influência na cidade de Campos, não tenha o seu potencial plenamente desenvolvido porque não se tem investimento em infraestrutura e logística, por exemplo, numa estrada estadual para permitir o acesso ao porto que não seja passando por dentro da cidade. Nós precisamos, e eu falei muito nisso quando estive em Campos, trabalhar a agricultura familiar e o agronegócio. O Rio de Janeiro tem um potencial extraordinário. Nós poderíamos ter uma agricultura familiar e um agronegócio muito melhor desenvolvidos no estado do Rio de Janeiro. Eu estive aí na Uenf e o reitor comentava comigo que tinha alguns setores que gostariam de trabalhar com a universidade a produção de soja, a produção de produtos para exportação no Norte Fluminense, e muitas vezes esses produtores vão para o Mato Grosso, para o Espírito Santo, porque não encontram um ambiente favorável.
Polarização nacional — Aqui no Rio, a gente vai ter que ter muita competência e inteligência política para evitar que esse ambiente de radicalização e polarização contamine e imponha a sua dinâmica ao debate. Nós tivemos governadores que ganharam a eleição e no dia seguinte estavam brigando com o presidente da República para serem candidatos a presidente. É evidente que isso não vai dar certo. O governador precisa de um diálogo. Aliás, nós precisamos repactuar esse programa de recuperação fiscal que foi feito agora pelo governo Cláudio Castro com o governo Bolsonaro. O Governo do Estado precisa de um bom diálogo com o governo federal. Eu tenho um candidato, o Ciro Gomes, que é o candidato do PDT, mas nós vamos construir um palanque duplo ou triplo em torno do nosso projeto no Rio. Vamos dialogar muito com as forças democráticas, estamos dialogando muito com o governador (de São Paulo) Dória, com o PSDB, com o ex-presidente Lula e lideranças aqui do Rio de Janeiro do PT. E vamos buscar reunir as forças democráticas.
Wladimir, Castro e Bolsonaro — Apesar de ter um vínculo com atividade acadêmica, não acho que para desempenho de governo a nota expresse todo o nosso sentimento e avaliação. O que eu acho é que a Prefeitura, em Campos, ainda não está bem. A cidade, pelo o que a gente tem acompanhado, se ressente de um projeto, de planejamento. Então, a minha avaliação não é positiva, a gente torce para que se acerte, mas a minha avaliação é bem negativa. Também acho que no estado a gente vive uma situação muito difícil. O Rio de Janeiro é o pior estado na pandemia, no desemprego, na segurança pública. E isso revela a falta de governo e, de fato, a gente não pode errar no Rio de Janeiro, porque o governo Witzel/Cláudio Castro é uma tragédia. Da mesma forma, no governo federal, se o presidente se dedicasse mais a governar, ao invés de ficar brigando, eu acho que a gente poderia ter uma situação muito melhor no Brasil. Mas isso é a democracia, a oportunidade que o povo tem de fazer suas escolhas e se os governantes não forem bem, substitui-los.
Confira a entrevista:

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