A proposta de emenda à Constituição (PEC) do voto impresso foi rejeitada e arquivada, após votação na Câmara Federal, na noite de terça-feira (11). Mas como se comportaram os quatro deputados com base eleitoral na região? No processo, Christino Áureo (Progressistas) e Chico d'Ângelo (PDT) votaram "não". Já Clarissa Garotinho (Pros) e Felício Laterça (PSL) foram de "sim"; pelo fim da urna eletrônica. No dia seguinte ao resultado, onde 218 votaram contra e 229 foram favoráveis, os parlamentares seguem fazendo a defesa dos seus votos.
A deputada campista Clarissa Garotinho disse que foi a favor do voto impresso como forma complementar à votação eletrônica há muitos anos. "Por vários motivos, mas um por si só seria suficiente para justificar minha posição: fortalece a democracia, possibilitando um modelo auditável mais seguro", ressaltou. No entanto, enfatizou que o debate vem sendo pautado pela "irracionalidade, absorvido pelo ambiente de polarização. Voto auditável não deveria ser uma bandeira de esquerda ou de direita", se possicionou a parlamentar.
Felício Laterça, que junto com outros 11 deputados do PSL fluminense votaram pelo impresso - desejo do presidente Jair Bolsonaro, hoje sem partido, mas que se elegeu pela legenda - também amanheceu justificando seu voto "sim" e lamentando a reprovação.
"O voto impresso auditável, infelizmente, não foi aprovado pela votação na câmara, mas não vamos desistir. Às urnas, como sabemos não são confiáveis e como cidadãos de bem, queremos eleições claras e sem fraudes eleitorais. Perdemos a batalha mas a guerra continua e eu vou continuar na linha de frente por vocês, buscando sempre o melhor para a população brasileira! Brasil acima de tudo, Deus acima de todos", escreveu em sua rede social.
Na outra ponta, que saiu vitoriosa na votação da PEC, o deputado do PDT, Chico d'Ângelo, também em rede social, foi sucinto: "Derrubamos de uma vez por todas essa historinha de voto impresso inventada por Jair Mentira Bolsonaro! Temos urnas seguras e 100% auditáveis! Agora, dá para o presidente trabalhar?''.
Já o deputado Christino Áureo, que tem Macaé como berço, respondeu que seu voto foi pelas razões que considerou acertadas. "Muitas pessoas estão me perguntando as razões do meu voto 'não' à PEC do voto impresso. Não são razões, é uma razão direta e objetiva. Eu já disputei cinco eleições e em nenhuma delas experimentei nenhum tipo de dúvida. Eu também tenho a experiência de olhar o processo eleitoral há muito tempo. E o método tem se mostrado bastante seguro de apuração e a auditoria é algo com tecnologia perfeitamente alcançável pela via digital. Portanto, o voto não é para permanecer um instrumento ágil, seguro e que de fato representa um instrumento poderoso da democracia do nosso país", defendeu o parlamentar seu 'não'.
Cientistas políticos analisam os votos sobre a PEC do voto impresso
O cientista político Vitor Peixoto resume a movimentação dos quatro parlamentares e a trajetória na política nos últimos anos. "A surpresa foi Christino Áureo, um voto contrário vindo do PP, um partido do Centrão e que compõe a base de governo, porém se dividiu muito nessa votação. Já o Chico d'Ângelo é um quadro histórico da esquerda, era previsível que não apoiasse a estratégia golpista do Bolsonaro. Pelo mesmo motivo, mas com sinal trocado, também se explica o voto do bolsonarista convicto Felício Laterça, um pesselista fiel apoiador do governo. Por fim, Clarissa Garotinho já havia demonstrado aproximação com Bolsonaro, inclusive gravou vídeo convidando o presidente para vir a Campos", escreveu.
O também cientista político, Hamilton Garcia, analisa os votos dos deputados. ''A primeira coisa a se lembrar na discussão dessa temática é que ela não é de agora, em relação às urnas eletrônicas e a capacidade dos partidos e da sociedade de acompanhar. Isso foi levantado lá atrás por Leonel Brizola, com base na má experiência que ele teve na eleição de 1982, com o famoso caso `` proconsult''. Houve interrupção no processo de transmissão e o Brizola desconfiou de estar sendo vítima de fraude, por conta da interrupção. Não se pode desconsiderar essa discussão técnica e política de longa data. Isso pode ter sido considerado por alguns parlamentares. É possível, também, que uma parte deles tenha reagido à politização da questão pelo Bolsonaro, com as intenções que a gente sabe que é não reconhecer uma eventual derrota em 2022", considera.
Para o sociólogo e cientista político, George Coutinho, sobre os deputados regionais que se posicionaram de maneira contrária, segundo ele, causa espécie especialmenteo posicionamento da deputada Clarissa Garotinho. "As urnas, em funcionamentodesde 1996, tiveram os rostos e nomes de membros da família/grupo político emmais de uma ocasião e, até onde temos notícia, estes não foram individualmentebem sucedidos em diversos pleitos mediante fraude no sistema. Isso inclui aprópria deputada, sua mãe, seu pai e seu irmão. Me desperta profunda curiosidadeas razões que motivam este cálculo político que mancham processos que a própriadeputada disputou", disse.Ainda de acordo com Coutinho existe uma segunda hipótesepara esse debate."Disseminar, de maneira sistemática, na imaginação política do eleitor comum a dúvida, o ódio ao sistema, de modo que o mesmo se sinta um otário na hipótese de votar em um nome que não seja eleito", destaca.