Dora Paula Paes
23/08/2021 11:49 - Atualizado em 23/08/2021 15:32
Menos de um mês após a volta às aulas no modelo híbrido — presencial e remoto — em Campos, a situação não parece nada fácil para pais, sindicatos, professores e as próprias unidades. Bilhetes aos pais têm se avolumado e centenas de alunos da rede privada estão sendo colocados em quarentena. Na rede pública, são os profissionais que estão em desespero, sem orientação. Segundo o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino Fundamental e Médio (Sinepe), falta, inclusive, atendimento nos canais disponibilizados pelo município para realizar a notificação dos casos nas unidades escolares.
Bilhetes com o texto “Tomamos conhecimento de que um aluno testou positivo para Covid-19... e informamos que a turma deverá ser suspensa das aulas presenciais por 10 dias” têm sido recorrentes nas agendas.
De acordo com o advogado do Sinepe, Bruno Lanes, a situação é preocupante, porque tem recebido diversos contatos das escolas credenciadas sobre os casos de Covid-19. A orientação, diz ele, por parte do Sindicato é recomendar o cumprimento do protocolo e uma das diretrizes é a comunicação à Vigilância em Saúde.
— Na verdade, estamos com muita dificuldade de comunicar os casos (ao município). Os telefones disponibilizados não funcionam, o município age com um certo descaso em relação a isso. Semana passada fiz contato pessoal com o Charbell (Kury, subsecretário de Atenção Básica, Vigilância e Proteção da Saúde), ele ficou de resolver. Vamos, inclusive, formalizar isso para que possamos nos eximir de eventuais consequências. Todavia, além de não conseguir contatar, não existe qualquer suporte às escolas — disse Lanes, já preocupado em precisar fechar as escolas outra vez. — Talvez, por essa falta de estrutura, prefiram fechar tudo, é triste e inadmissível.
Se o Sinepe teme a necessidade de fechar as unidades privadas, que cumpriram as determinações sanitárias para reabrir e receber os alunos, mas mesmo assim, os casos são registrados, na rede pública, os professores se dizem “perdidos”.
“A coisa está absurda, a escola está dando intervalo de 10 minutos para os alunos. Eles se encontram nos corredores, se abraçam, se beijam, sentam um no colo do outro, conversam perto, sem máscara e a escola tem três casos de alunos que estavam com Covid e nada está sendo feito. Estamos preocupados. Inicialmente, a Vigilância Sanitária disse que só podia 10 alunos por turma, mas tem turmas com 15 alunos, numa sala que a Vigilância disse que só cabiam 10. A gente não sabe o que fazer!.Se tem três casos, a escola não devia fechar para fazer uma higienização? O que acontece nesses casos? Estamos muito perdidos",o relato é de um profissional da Escola Estadual Constantino Fernandes,noParque Benta Pereira, que oferece Fundamental II e Ensino Médio. A Folha tentou falar com a unidade, por telefone, mas a ligação édirecionada para outros endereços.
Em nota, o Sindicato dos Profissionais da Educação (Sepe), em Campos, informa que égrande o volume de denúncias que vem recebendo. “Desde o início do ensino híbrido apontamos para o risco maior de contágio de crianças, adolescentes, profissionais de educação e respectivos familiares. Isso, infelizmente, tem se confirmado com o número de denúncias que chegam até nós, desde o descumprimento dos protocolos indicados para maior proteção da comunidade escolar até o número de casos confirmados cujos números muitas das vezes são ocultados. Isso não é surpresa para nós que conhecemos o dia a dia da rotina escolar. Diante disso, as autoridades devem repensar as orientações para o retorno com ensino híbrido e voltar a fechar as escolas priorizando o ensino remoto como desde o início da pandemia”, diz trecho.
O Sindicato destaca que desde o início da pandemia acompanha as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre os protocolos de Biossegurança. E já sabiam de antemão que o retorno às aulas presenciais antes da imunização completa dos profissionais de Educação estava fadado ao caos, já que “escola é um lugar onde a aglomeração é inevitável por envolver grande número de pessoas mesmo em número reduzido para o ensino híbrido”.
“Hoje a preocupação é a mesma diante do crescimento da variante Delta. Mesmo com as duas doses muitas pessoas têm se contaminado e a população com mais de 60 anos e com comorbidades têm sido as maiores vítimas”, ressalta o Sepe.
O Protocolo de Biossegurança de Campos em escolas é respaldada nos protocolos da sociedade latino americana e mundial de infectologia pediátrica, exemplifica o subsecretário de Atenção Básica, Vigilância e Proteção da Saúde, Charbell Kury. De acordo com ele, foi feito em diversas mãos e revisado por um corpo técnico. "Mesmo diversas cidades optando por fechar as escolas em Campos devido ao background desse protocolo optamos por manter abertas…. Inclusive há um canal específico com o grupo de trabalho do Programa Saúde na escola desenhado especificamente para este fim", ressaltou.
O subsecretário ainda destaca: "Nas escolas públicas o desenho funciona perfeitamente com rastreio de “tracing contacts”. Há o contato do caso e o disparo da comunicação e informações. Infelizmente, muitas escolas particulares fizeram seus próprios protocolos seguindo de acordo com suas próprias conveniências. As escolas particulares e seu sindicato se parecem muito com aquelas pessoas que percebem o tamanho do problema que lá em janeiro e fevereiro diziam que era “mole”, "era fácil", “por que não abre a escola?”, “Estamos preparados!”, agora percebem o tamanho e a gravidade do problema com a variante Delta. Mesmo assim, eu e Rodrigo vamos lançar essa semana um grupo de resposta rápida para testar especificamente escolas particulares e públicas frente a um caso índice. Não estamos parados. Aliás nunca estivemos", declara.
A Folha encaminhou demanda ao município para saber porque os canais para receber a comunicação não atendem e como está sendo realizada a fiscalização das unidades escolares que estão abertas nas três redes: municipal, estadual e privada. Em resposta:
"A Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia (Seduct) está cumprindo rigorosamente todos as recomendações da Vigilância Sanitária e implantou, em parceria com a Secretaria de Saúde, o sistema de retrovigilância, que consiste no acompanhamento de casos suspeitos de Covid dentro das unidades escolares da rede municipal de ensino. Por meio de atuação da equipe de enfermagem sentinela do Programa Saúde na Escola (PSE), é feito o monitoramento junto aos gestores. Em caso de suspeita de adoecimento do aluno ou do profissional da unidade escolar, ele deve ser referenciado para a unidade de saúde mais próxima da escola para providências conforme protocolos preconizados pelo Ministério da Saúde".
A nota ainda explica: "Antes do início das aulas híbridas, a Seduct elaborou o Manual do Ensino Híbrido Seguro, junto a uma Comissão Especial com protocolo de medidas de proteção, prevenção e controle da COVID-19, que serve de referência para as condutas seguras e preventivas no cumprimento das medidas sanitárias conforme previsto em legislação sobre a pandemia por Covid-19. O documento pode ser acessado no seguinte link:file:///C:/Users/REDA%C3%87%C3%83O_06/Downloads/Manual%20do%20Ensino%20Hibrido%20-%20-v.1.1.pdf. Quase 100% dos servidores da Educação tomaram a vacina contra Covid. A maior parte deles recebeu a vacina da Janssen, imunizante de dose única."
A Coordenadoria Regional Norte-Fluminense de Educação informou que a pasta poderá responder à demanda da Folha possivelmente na terça-feira (24).