Matheus Berriel
14/08/2021 00:03 - Atualizado em 14/08/2021 11:38
A Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL) marcou para a próxima segunda-feira (16), às 16h, no Teatro Municipal Trianon, a entrega do Prêmio Alberto Ribeiro Lamego aos homenageados de 2019 e 2020. Principal honraria da cultura em Campos desde 1987, ele será concedido desta vez à empresária e professora Diva Abreu Barbosa, diretora-presidente do Grupo Folha, e ao jornalista e professor Fernando da Silveira, além de familiares do ator e professor Yve Carvalho e do cantor e compositor Dom Américo, lembrados in memoriam pelo Conselho Municipal de Cultura (Comcultura), que define anualmente os homenageados. No ano passado, não houve cerimônia em razão de decreto restritivo relacionado à pandemia da Covid-19.
— (O prêmio faz) referência à memória do ilustre autor e geógrafo Alberto Lamego, autor da série “O Homem e o Meio Ambiente” e de outras tantas obras de destaque, falecido em 1985 — destaca a atual presidente da FCJOL e do Comcultura, Auxiliadora Freitas. — Estamos, assim, realizando mais uma ação na direção de valorizar a cultura da nossa cidade, homenageando as grandes figuras que contribuíram fortemente para a solidificação da identidade cultural campista — complementa.
O Prêmio Alberto Lamego teve como idealizadora justamente uma das pessoas que agora o recebem. Foi Diva Abreu Barbosa, enquanto chefe do antigo Departamento Municipal de Cultura, na gestão do ex-prefeito José Carlos Barbosa, quem teve a ideia de entregar um troféu para exaltar a importância de nomes da cultura campista nas mais diversas áreas.
— Quando a gente cria alguma coisa, até mesmo um filho, dizem que não é para a gente, é para o mundo. Pensei no prêmio para oferecer às personalidades que fazem a cultura de Campos e da região. Acho que nem me cabia receber. Criei e deixei andar, por ficar feliz pela possibilidade de homenagear pessoas que são exemplos e que fazem a cultura de Campos e região — afirma a diretora do Grupo Folha: — Mas, tive uma surpresa de o prêmio agora vir para mim. O que posso dizer é que não era a minha intenção de recebê-lo em vida, pensava antes em destiná-lo aos mestres da cultura local. Mas, ao mesmo tempo, toda homenagem é válida, e não vou dizer que não fiquei feliz. A gente fica honrada. Agradeço à Fundação Cultural e ao Conselho Municipal de Cultura por esta gentileza.
Em 2019, Diva foi indicada a receber a homenagem pelo professor e pesquisador Marcelo Sampaio, então membro e presidente do Comcultura no ano seguinte. A aprovação no conselho aconteceu ainda na gestão da ex-presidente Cristina Lima, que na época estava à frente também da FCJOL. Cristina, inclusive, foi a responsável pela indicação da homenagem in memoriam ao ator Yve Carvalho.
— Nunca me conformei com o fato da Diva Abreu Barbosa ter criado o Prêmio Alberto Lamego, que considero a maior premiação cultural do nosso município, e nunca tê-lo recebido. Por isso, foi um imenso prazer ter a indicado e conseguido elegê-la — comemora Marcelo Sampaio, que entregará o troféu a Diva na segunda-feira: — Já o Yve Carvalho, que nos deixou tão novo ainda, sempre foi um dos mais brilhantes artistas da sua geração. Ele brilhava não só pelo imenso talento que possuía, mas também pelo seu jeito de ser e se posicionar na vida. Tive o prazer de contracenar com ele no espetáculo “Constantina”, dirigido pelo saudoso Kapi, e constatei de pertinho a sua incrível força interpretativa.
A entrega do troféu lembrando a trajetória de Yve, que morreu aos 54 anos, em 2018, caberá a Cristina Lima, pessoa ligada a ele já durante os seus primeiros passos artísticos, nos tempos de escola.
— Fiquei sensibilizada e muito satisfeita com a atual direção da Fundação por ter tido essa atitude de me convidar, não só para a cerimônia, mas principalmente para fazer a entrega aos familiares de Yve Carvalho, a quem conheci quando foi meu aluno no Centro Educacional Nilo Peçanha. Ele já tinha uma veia artística presente, produzia na própria escola, participava do teatro. Depois, fui encontrá-lo já fazendo sucesso em Campos e no Rio de Janeiro. Ele foi trabalhar na Fundação, sendo um dos professores do Curso Livre de Teatro, na gestão Rafael Diniz. E, por uma dessas tristezas da vida, também estive presente no seu leito de sofrimento. Fui algumas vezes à UTI do Hospital Ferreira Machado. A gente lamenta o seu desaparecimento precoce, porque ainda tinha muito a oferecer, mas a sua obra é eterna — comenta Cristina.
Uma das amigas próximas de Yve, a também atriz Lúcia Talabi destaca o fato de a cerimônia de entrega do prêmio acontecer no mês em que as lembranças dele são mais presentes.
— Falar de Yve no mês de agosto é reafirmar a saudade dos nossos momentos de comemoração pelo seu aniversário, no dia 19 deste mês. Yve foi um amante da vida e do teatro. Nos conhecemos em Campos, no Grupo Sala de Ensaio, na montagem da peça “A justiça é cega, feita por quem enxerga”, escrita e dirigida por José Sisneiros em 1983. Saímos juntos para estudar no Rio de Janeiro e não nos separamos mais. Ele foi um artista, nascido em Campos, pioneiro na formação profissional como ator, enfrentando grandes dificuldades financeiras e familiares sem se intimidar na busca pelo seu sonho. Grande admiração por este campista, que acreditou, numa época em que era tão difícil sair de Campos para estudar teatro, e venceu as animosidades com muita irreverência e criatividade, abrindo portas para muitos — reconhece Lúcia.
No ano passado, já com Marcelo Sampaio na presidência do Comcultura, a escolha de Fernando da Silveira e Dom Américo como homenageados com o Prêmio Alberto Lamego aconteceu após indicações, respectivamente, do poeta Ronaldo Júnior e da professora e agente cultural Kátia Macabu, atualmente diretora de Artes e Culturas da FCJOL.
— O meu pai era amigo do Alberto Lamego, que foi meu vizinho na rua Sete de Setembro — recorda Fernando da Silveira, aos 92 anos: — Eu era muito jovem, o ouvia conversar com meu pai e aprendi alguma coisa da sua intelectualidade. Como adulto, comecei a descobrir coisas admiráveis sobre ele. Era um homem com uma cultura avassaladora, mas simples, humilde. Foi membro da Academia Campista de Letras. Não convivi com ele nessa época, mas vários acadêmicos sempre falavam sobre o cidadão humilde e amigo que ele foi, com toda a sua cultura. Era, inegavelmente, uma pessoa admirável. Agora, esta honraria levando o seu nome é um presente que recebo das pessoas que realizam o prêmio. Uma notícia que me trouxe muita alegria.
Já para Dom Américo, morto em 2020, aos 69 anos, esta será mais uma reverência, menos de um mês após a plateia do Trianon ter sido rebatizada com o seu nome, entre outras recebidas in memoriam na região.
— Felicidade, orgulho e alegria por mais essa homenagem do Comcultura ao meu pai — afirma o filho Apollo Ramidan, também cantor e compositor: — Tudo o que se faz em homenagem ao meu pai é muito bem-vindo. A gente fica muito feliz, e nos conforta cada vez mais esse reconhecimento por tudo o que meu pai deixou de bom com o seu legado na cultura e também o de homem de caráter. Ele só deixou coisas boas, só alegria e felicidade, e com certeza está vibrando lá em cima. Em nome da família Dom Américo, deixo a minha eterna gratidão por todas as homenagens feitas em Campos e nos municípios vizinhos de Quissamã e São João da Barra.