Entre a Revolução Industrial e a Conferência de Estocolmo, as três correntes — liberalismo, socialismo e anarquismo — manifestaram-se na sua forma dura, sem preocupações maiores com os impactos de um desenvolvimento das escolas clássica e/ou fisiocrata sobre o meio natural. Pelo menos uma década antes da Conferência, representantes das três correntes — com as esperadas combinações entre elas — vinham já chamando a atenção para os efeitos de um crescimento veloz e desenfreado sobre a natureza. O liberalismo manifestava tal preocupação ao fundar o Clube de Roma, em 1968, embora sua projeção ocorresse depois de 1972. Emergia uma nova questão. Durante a Conferência e depois dela, representantes das três correntes mantiveram suas posturas tradicionais, ou seja, continuaram a defender um crescimento exponencial, alegando que a questão ambiental era um movimento dos países ricos para congelar o desenvolvimento dos países pobres (liberais) ou um projeto da classe média desejosa de manter as desigualdades sociais ou de se rebelar contra o pagamento de impostos (socialistas e anarquistas). O exponencialismo é uma atitude que considera a natureza como um estoque de recursos para a economia e como lixeira para descarte de dejetos, podendo estar presente no liberalismo, socialismo e anarquismo.
A delegação brasileira na Conferência de Estocolmo foi presidida pelo diplomata João Augusto de Araújo Castro, que servira ao governo de João Goulart e à ditadura militar de 1964. Ele ilustra bem a dificuldade em trabalhar com tipos ideais. Serviu tanto a um governo socialista quanto a governos liberais reacionários. Contudo, embora liberal, ele tinha posições fortes, até certo ponto consideradas de esquerda. A postura da delegação na Conferência foi a de um marcado exponencialismo. Num artigo, Araújo Castro assinala com clareza a posição que adotou em Estocolmo: “...na consideração dos problemas atinentes à preservação do meio humano, tende-se a colocar uma tônica demasiado forte nos perigos da poluição certamente graves para os países altamente industrializados, quando a maior parcela do planeta ainda vive num estágio de pré-contaminação ou, em outras palavras, ainda não teve a oportunidade de ser poluído. Duas terças partes da humanidade estão muito mais ameaçadas pela fome e pela penúria do que pelos males da poluição. Por isso mesmo, causam apreensões as recentes declarações do senhor McNamara — contraditadas pelo Brasil no Conselho Econômico Social — de que o Banco Mundial doravante não autorizará qualquer projeto de desenvolvimento econômico sem uma avaliação minuciosa de eventuais repercussões sobre o ambiente. É claro que os países em desenvolvimento não quererão incorrer nos mesmos erros em que incorreram os países altamente industrializados, mas é evidente que não poderíamos aceitar a ressurreição, em pleno século XX, da teoria do selvagem feliz, de Rousseau, que deu sabor e colorido a todo romantismo francês. ‘Não deixem acontecer com suas cidades o que aconteceu com Nova York’. ‘Conservem suas belas praias’. São frases essas constantemente marteladas nos tímpanos dos representantes dos países em desenvolvimento. Ora, esses países em desenvolvimento partem da premissa de que qualquer programa adequado para a preservação do meio humano deve ter em linha de conta os fatores básicos do desenvolvimento, já que o subdesenvolvimento representa, por si só, uma das piores formas de poluição do ambiente.”
Depois da Conferência, apareceram muitas vozes de marxistas condenando o movimento de proteção da natureza. O mais conhecido no Brasil foi o português João Bernardo, que publicou um manifesto antiecológico, mas muitas outras vozes se somaram à dele. O pronunciamento de um marxista também revelou resistência conservadora ao movimento de defesa do ambiente. Foi o de Gildo Magalhães: “Não há por que retrocedermos historicamente: o homem conquistará cada metro quadrado útil do planeta e depois irá ao espaço (...); para minimizar os efeitos depressivos do capitalismo, é preciso ser antiecológico, inclusive é preciso exaurir todas as reservas de energia conhecidas o mais rapidamente possível, pois só assim serão gerados os recursos para descobrir novas fontes de energia, necessárias para nossa expansão.”
Do lado anarquista no Brasil, Maurício Tragtemberg viu os movimentos de defesa do meio ambiente como manifestações pequeno-burguesas de pessoas que não queriam pagar impostos. Houve mudanças gradativas entre os liberais no pós-Conferência. A mais expressiva foi a manifestada no Clube de Roma, já mencionado como uma das forças promotoras da Conferência. Tratava-se de uma associação de empresários que buscou a assessoria de estudiosos, encomendando-lhes livros. O mais conhecido foi “Limites do crescimento”, mas não o único.
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