Há 77 anos, em 1944, o campista Renan Ribeiro embarcava uniformizado, aos 24 anos, em um navio, junto a outros 25.700 homens da Força Expedicionária Brasileira (FEB), rumo à Itália. Após quatro meses de treinamento, ele iria enfrentar o nazifascismo à bala. Há três dias, na última quarta-feira (21), agora com 101 anos, Renan não precisou de um fuzil para fazer mais uma contribuição ao mundo: através de um exemplar impresso da Folha da Manhã, ele ficou sabendo da vaquinha para ajudar a pequena guerreira Alice Pádua, de 10 anos, para compra de sua cadeira de rodas, e sinalizou para sua filha o desejo de fazer uma contribuição.
A história da doação do ex-combatente chegou, através de redes sociais, até Danielle Pádua, assistente social, de 33 anos, mãe da Alice, e arrancou lágrimas de mãe e filha – principalmente pelo valor sentimental atrelado a contribuição do idoso veterano. Quem informou foi a filha do sr. Renan, Sônia Renata Ribeiro.
— Quem mandou mensagem para mim pedindo para doar foi a cuidadora do meu pai, de 101 anos. Ele leu a reportagem na Folha da Manhã, sinalizou e pediu para falar comigo pra fazer a contribuição em nome dele — contou Sônia, admirada com a atitude de seu “paizinho”.
Assim que ficaram sabendo, Alice e Danielle Pádua prepararam dois vídeos de agradecimento ao herói da pátria que não gosta da exposição e prefere a levar a vida de forma mais discreta, apesar de se manter antenado e, de acordo com sua filha, Sônia, ser um leitor “assíduo da Folha”.
— Seu Renan, muito obrigada por ter participado da minha vaquinha, eu fiquei muito feliz. Agradeço. Obrigada — gravou em vídeo enviado ao veterano, com um sorriso largo no rosto, a pequena Alice. Sua mãe, Danielle, além de agradecer, complementou: “Nós ficamos muito emocionadas quando ficamos sabendo que o senhor, com 101 anos, leu a história da Alice, através da Folha, se emocionou e quis contribuir com a nossa vaquinha. Alice tem 10 anos e o senhor 101, são décadas de diferença, mas a história de vocês se cruzou de uma certa forma e somos muito gratas por isso”.
Senso de dever, compaixão e vontade de ajudar ao próximo, foram alguns dos sentimentos que levaram Renan aos campos de batalha da Itália — e, julgando pelo gesto de sensibilidade ao tomar ciência do caso da menina Alice, não envelheceram. Dos mesmos campos aonde combateu, 467 brasileiros não retornaram com vida, 2.722 acabaram feridos e outros tantos tiveram seu psicológico abalado devido às experiências traumáticas e ao retorno desassistido, por parte do governo de Getúlio Vargas, à vida civil.
A filha de Renan Ribeiro, Sônia Ribeiro, garante que seu pai, entretanto, nunca ficou devendo familiar, pessoal ou profissionalmente, após seu retorno da linha de frente. “O sentimento que eu tenho em relação a ‘Paizinho’ é sempre de respeito, admiração, e até de orgulho”, ressalta, destacando a sua forte história de vida: “Ele nunca perdeu a fé em Deus e a vontade de viver. Ele sempre me ensinou que a vida é de luta. Desde pequena eu percebo que o meu ‘Paizinho’ é diferenciado. Nunca ficou devendo nada a ninguém. É um exemplo de caráter, hombridade e justiça”.
Vaquinha para a cadeira de rodas na reta final
A simpática menina de 10 anos, Alice Pádua, estudante do 5º ano do ensino fundamental, pede ajuda aos campistas, desde o último sábado (17), através de uma vaquinha na internet, para decolar na direção dos seus sonhos. Os recursos servirão para que sua família compre uma cadeira de rodas sob medida, que atenda suas necessidades específicas geradas pela condição rara que desenvolveu ainda nas primeiras semanas da sua gestação: mielomeningocele; um defeito da coluna vertebral e da medula espinhal.
A jovem conta com a ajuda da sua mãe, Danielle Pádua, assistente social, de 32 anos, e, ao longo de uma semana de campanha, conseguiu angariar 80% do valor necessário para comprar a cadeira. Apesar de estar na reta final da arrecadação, Danielle ressalta a importância de continuarem as doações até que a meta do valor – R$12.500 – seja atingida.
A cadeira possibilitará que a pequena Alice tenha garantido o seu direito de ir e vir com liberdade, autonomia e sem dores, que forçaram a menina – que também sofre com um quadro de escoliose e hipotonia muscular – a abandonar o andador e suas órteses suropodálicas como meios de locomoção.
As doações podem ser feitas via Pix, através do número (22)99809-8699, ou pela campanha "Cadeira de rodas para Alice!", no site vakinha.com.br.