O calendário de vacinação contra a Covid-19 por faixa etária chegou nessa sexta-feira (16) às pessoas com 35 e 34 anos em Campos, o que seria uma boa notícia, se não fossem as longas filas e a falta de senhas registradas nos últimos dias e o risco de suspensão da imunização na próxima semana. A Prefeitura afirma que depende da chegada de novas doses para divulgar o calendário dos próximos dias. Entretanto, o município tem em estoque 46.203 das 362.809 doses de vacinas que recebeu desde janeiro. Até essa sexta, o município registrou 1.446 óbitos e 36.610 casos de Covid-19.

A Prefeitura de Campos mudou a estratégia e começou a acelerar a vacinação da população na semana passada, passando a aplicar, em média, 7.216 doses de vacinas diariamente e alcançando, nessa sexta-feira, 316.606 doses aplicadas. O município garante que tem capacidade para aplicar até 10 mil doses diariamente, mas o que se viu nos últimos dias, em diversos postos de vacinação, foi pessoas dormindo na fila, aglomerações e gente reclamando de não ter conseguido se vacinar.

Para a imunização nessa sexta-feira, na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), que funciona em formato drive-thru, a fila começou a se formar na quinta (15) à noite e, por volta das 8h30, já chegava a três quilômetros, com cerca de 600 veículos. A fila de carros também foi extensa nessa sexta no drive-thru do campus Centro do Instituto Federal Fluminense (IFF), de onde muita gente saiu sem a vacina no braço.

— Eu estava na fila do IFF desde cedo, quando um amigo que também estava aguardando me disse que só tinha 30 senhas. Fui me informar e o porteiro da instituição falou que realmente só havia pouco mais de 30. Sendo que tinha dezenas de carros na fila e ninguém da Prefeitura para avisar. Ou seja, as pessoas estavam ali à toa. Saí do IFF e fui procurar outros lugares e não tinha mais senha em lugar nenhum. Fui a Santa Cruz e Nova Brasília e não consegui senha. Uns colegas meus também tentaram em Guarus e não conseguiram — contou o vendedor Marcelo Siqueira.

Na terça-feira, Camila dos Santos tentou tomar a vacina contra a Covid-19 no Automóvel Clube e também não conseguiu. “Quando cheguei de manhã, as senhas já tinham acabado, e pelo que conversei com outras pessoas, aconteceu isso em vários postos de vacinação de Campos”, contou.

A Prefeitura de Campos garante que não houve erro na estratégia de vacinação. “Tanto que o município chegou a aplicar, em dois dias, 14.556 doses da vacina, um recorde. A estratégia de imunizar duas faixas etárias teve como objetivo acelerar a vacinação no município, principalmente nesse momento em que a cidade do Rio de Janeiro vem registrando casos confirmados da variante Delta, que pode ocasionar uma terceira onda da doença. E a única estratégia de prevenção é a vacinação em massa, por isso, Campos, de forma pioneira, acelerou a vacinação para chegar mais rápido aos 18 anos e fazer um cinturão de proteção à população. Com relação à fila, é um processo natural das pessoas que vêm sendo orientadas a buscar os locais de vacinação na data certa para sua idade, que evitem a repescagem e não escolham marca de imunizante. O município ampliou para 38 postos de imunizações para evitar aglomerações e garantir a fluidez do processo de vacinação”, ressaltou o subsecretário de Atenção Básica, Vigilância e Promoção da Saúde, Charbell Kury.

Em relação ao estoque de vacinas, ele informou que vem sendo utilizado para aplicação da segunda dose e avançar na imunização por idade. “Informamos ainda que o município precisa ter uma reserva técnica para o Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE)”.

Vizinho — O município de São João da Barra alcançou, nessa quarta-feira (14), a marca de 70% da população acima de 18 anos vacinada com a primeira dose contra a Covid-19, apesar de o calendário ainda estar na faixa dos 40 anos. No esquema vacinal completo (segunda dose e dose única) o índice é de 26,8%. No total, foram aplicadas 27.273 doses, sendo 19.723 da primeira e 7.550 do esquema completo.

Nesta semana Campos voltou a registrar aumento na taxa de ocupação dos leitos de UTI, tanto da rede SUS, quanto da rede privada, depois de três semanas na faixa dos 50% ou abaixo. Em 24 horas, de terça para quarta-feira, a ocupação passou de 54,84% para 75%. Nessa sexta-feira estava em 60,82%.

De acordo com o subsecretário de Atenção Básica, Vigilância e Promoção da Saúde, o cenário epidemiológico de Campos reflete o que se vê em diversas cidades do estado do Rio de Janeiro, do Brasil e também do mundo.

— Ao mesmo tempo em que se observa uma estabilização de pequenas quedas no número de óbitos e também no número de casos que flutuam entre subidas e descidas, a gente observa uma discreta subida de internações em UTI e leitos clínicos. Essa estabilização que não leva a uma queda abrupta e nem subida rápida nos preocupa como vigilância, uma que estamos com a presença confirmada da variante Delta na cidade do Rio de Janeiro e essa variante tem assustado bastante os países da Europa, Israel e Estados Unidos e atrapalhado todo esse processo de flexibilização, de vacinação nesses países. Então, Campos, por exemplo, tem 22 faixas etárias — de 40 anos até 18 anos —, fora as faixas etárias de adolescentes que estão expostos à presença da variante Delta, e ela vai chegar. Baseado nisso e na vigilância genômica, que é um trabalho de vigilância de variantes, temos acompanhado de forma muito próxima a chegada dessa variante. Sabemos que é uma variante que vai atingir em cheio os jovens e, por essa razão, antecipamos a vacinação para o quanto antes cobrir o maior número de faixas etárias com uma amostra da vacina e, posteriormente, as repescagens necessárias. É importante lembrar que o momento agora é vacinar e fazer vigilância, mas sabemos que é possível ter pequenas subidas e descidas no número de casos e de óbitos, mas ainda podemos ter uma nova onda, que provavelmente não será tão grande quanto à anterior, mas que pode trazer muitos transtornos para nossa cidade e região — ressaltou Charbell.