A pesquisadora Rachel Valença, o jornalista Leonardo Bruno e o dramaturgo Gustavo Gasparani acabam de lançar o livro “Três poetas do samba-enredo: compositores que fizeram a história no carnaval”. Na obra, os autores narram as evoluções do samba surgido nas escolas de samba do Rio de Janeiro, e suas transformações ao longo de oito décadas, desde os anos 1950, tomando como ponto de partida as histórias de três dos mais importantes personagens da festa popular. Um deles é o campista Aluísio Machado, ícone do Império Serrano e homenageado pela Folha, em 2019, com o Troféu Folha Seca.
Além de Aluísio Machado, de 82 anos, a obra também se debruça sobre as trajetórias do atual presidente de honra da Mangueira, Hélio Turco, 85, e de um dos maiores vencedores de disputas de sambas-enredo da Portela, David Corrêa, que morreu em maio do ano passado, aos 82. O lançamento oficial do livro, com 240 páginas, aconteceu no último dia 8, no Rio de Janeiro.
Este é o segundo livro que se aprofunda especificamente na obra de Aluísio Machado. Nascido no dia 13 de abril de 1939, debaixo de uma árvore em Guarus, o compositor foi para o Rio com apenas um ano de idade, e lá deu os seus passos no samba. Aos 14, passou a desfilar pelo Império Serrano, onde viria a se tornar o segundo maior vencedor de sambas-enredo, com 14 levados para a avenida, seis deles premiados com o Estandarte de Ouro do jornal “O Globo”. Entre as suas composições, estão os sambas “Bum-bum paticumbum prugurundum” (1982), “Eu quero” (1986), “E verás que um filho teu não foge à luta” (1996), além do mais recente, “Lugar de mulher é onde ela quiser!” (2020), entre outros. Só o lendário Silas de Oliveira, autor de “Aquarela Brasileira” (1964), emplacou mais sambas que Aluísio na escola de Madureira.
Em 2015, o professor Luiz Ricardo Leitão, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), publicou a biografia “Aluísio Machado — sambista de fato, rebelde por direito”, em que aborda a trajetória artística do compositor desde a sua iniciação na dança, com a Companhia de Solano Trindade, e o aprendizado com Silas de Oliveira, até o sucesso da parceria com Beto Sem Braço, outro baluarte imperiano. Passagens marcantes são relatadas, como a curta carreira de aprendiz de estofador e a suposta prisão no Doi-Codi durante a ditadura militar.
— Ter minha história contada em livros representa uma satisfação, uma gratificação, pois é o reconhecimento do meu trabalho até hoje — afirma Aluísio Machado: — Fico muito feliz por ser lembrado mais uma vez, pois já fui biografado pela Uerj. Agora, esse novo livro fala especificamente dos sambas-enredo, das conquistas que tivemos, tanto eu quanto o Hélio Turco e o David Corrêa.
Já imunizado com as duas doses da vacina de Oxford/AstraZeneca contra a Covid-19, Aluísio brinca que está aguardando a terceira. A superação da pandemia é tão esperada quanto, consequentemente, a realização do carnaval em 2022.
— A coisa está parada. Eu acredito, todo mundo acredita que vai ter o carnaval. Mas, a princípio, está meio estranho — comenta Aluísio.
O Império Serrano vai desfilar na Série Ouro, a antiga Série A (segunda divisão), com o enredo “Mangangá”, assinado pelo carnavalesco Leandro Vieira. O samba-enredo vencedor da disputa da escola, em novembro de 2020, foi o da parceria encabeçada por Paulo Cesar Feital. (M.B.) (A.N.)