Cinema: O peitoral e o bracelete
Edgar Vianna Andrade 19/07/2021 18:21 - Atualizado em 19/07/2021 18:21
De vez em quando, é bom assistir a filmes produzidos em outros países que não os Estados Unidos para verificar se eles conseguiram realizar filmes B autênticos. Atravessei a fronteira do rio Grande e assisti a três filmes mexicanos produzidos em 1957: “A múmia asteca”, “A maldição da múmia asteca” e “A múmia asteca contra o robô humano”. O México forneceu bons atores e excelentes diretores para o cinema norte-americano. Alguns já foram premiados com a comenda máxima do Oscar.
Sabe-se da tradição mexicana de filmes dramáticos e cômicos. Os três que comento buscam não apenas o público interno, mas também o mercado norte-americano. Esses três conseguiram. Primeiro: eles usam clichês do cinema dos Estados Unidos. Segundo: a tecnologia para a produção de efeitos especiais, na época, não era tão inacessível a países de riqueza mediana.
Os três formam uma típica trilogia. Um dá continuação ao outro, como se fosse um seriado. Deve ter feito sucesso na época tanto no México quanto fora dele, pois se vale de um poderoso elemento interno: a cultura asteca. Os três misturam ficção científica, suspense e terror sem poderem ser classificados num dos três gêneros.
Dr. Eduardo Almada (Ramón Gray), cientista conceituado, estuda a mente humana por meio de hipnose. Ele apresenta suas investigações num congresso e não merece a atenção esperada. Viúvo, ele faz uma experiência de regressão a vidas passadas com sua noiva, Flor (Rosa Arenas), e descobre que ela viveu no mundo asteca. Seu nome era Xochitl. Ela foi uma princesa que acabou sacrificada junto com o homem que verdadeiramente amava. Com a regressão, descobre-se quase tudo. Almada e Pinacate, seu assistente, Flor e seu pai buscam a tumba proibida. Sem o peitoral e o bracelete, a múmia volta à vida para recuperar o que é seu. Com uma cruz, o pai de Flor afasta a múmia para que os outros três possam fugir, mas acaba sendo morto por ela. Quis acreditar que a cruz representa uma civilização superior à mexicana.
No segundo filme da série, aparece a figura do Dr. Krupp (Luis Aceves Castañeda), médico genial mas que se tornou um perigoso ladrão. Ele foi preso pela polícia, mas conseguiu fugir com ajuda da sua quadrilha. Entra em cena o Anjo, imitação dos super-heróis estadunidenses. Curioso comparar o nome Anjo com Morcego, o nome de guerra do Dr. Krupp. Pura imitação dos heróis norte-americanos. Lembrei-me também do “Anjo”, seriado radiofônico do Brasil nos anos de 1950.
Sequestrando Flor, o Dr. Krupp pretende forçar o Dr. Almada a decifrar os hieróglifos do peitoral que ele roubou para descobrir onde se encontra todo o tesouro asteca. De posse do segredo, ele vai ao local, mas é atacado pela múmia de Popoca, que guarda a tumba de Xochitl e o tesouro. Não contente, a múmia invade o esconderijo do Dr. Krupp e mata quase toda a sua quadrilha. Irado, Popoca lança o médico-bandido num covil de serpentes. Descobre-se que o delicado Pinacate é o Anjo. Lembrei-me do Cavaleiro da Noite, também de novela radiofônica, que era machão mas se fingia de gay.
Quem assiste ao último filme da trilogia, assiste a todos. Por meia hora, o Dr, Almada narra a trama dos dois primeiros para colegas seus e adianta uma suspeita que será a trama da meia hora seguinte. Um corpo é roubado de uma faculdade de medicina. Almada suspeita de Krupp. Com razão. O médico do mal constrói um robô com o corpo roubado. Ecos do monstro de “Frankenstein”. O robô estraçalhará a múmia de Popoca e finalmente roubará o peitoral e o bracelete. A múmia agora jaz num cemitério. Como ela foi transferida para lá ninguém sabe. Talvez tenha ido com seus próprios pés. Mas isso não importa. Filme B não se incomoda com contradições. Todos se encontram no final, a múmia vence o robô e os maus. Flor devolve o peitoral e o bracelete.
Rafael Portillo dirige os três. A entrada deles nos Estados Unidos tem a mão de Roger Corman. Em 1964, o sucesso da múmia levou à produção de “As mulheres da luta livre contra a múmia asteca”. Em 2007, aparece nas telas “Mil máscaras contra a múmia asteca”.

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