“Viúva Negra” — Finalmente, chega aos cinemas o filme solo da Viúva Negra. Uma personagem importante do MCU (sigla inglesa de Universo Cinematográfico Marvel) que sempre foi tratada como coadjuvante de luxo, e agora a Marvel faz justiça, mesmo que tardiamente, com um filme que traz a personagem como protagonista. O filme se passa após os eventos de “Capitão América: Guerra Civil”, e fica muito claro que chega com pelo menos uns cinco anos de atraso, já que, ao sabermos o destino da personagem e os eventos futuros, o potencial dramático fica prejudicado.
Na trama, Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) está sendo caçada pelo governo americano e, após se esconder, é atacada pelo vilão Treinador. No embate, recebe uma mensagem que a leva a se reencontrar com sua irmã Yelena (Florence Pugh), que a revela uma conspiração envolvendo seu passado. Juntas, elas vão lutar para destruir a Sala Vermelha, o projeto responsável pelo treinamento das duas e por criar assassinas para o governo russo.
O longa abre com um prelúdio interessante e importante na construção emocional do filme. Ao trazer a jovem Natasha vivendo em uma família de espiões russos dentro dos Estados Unidos, o filme estabelece ligações emocionais entre os personagens principais, elemento primordial para o desenrolar da trama. A Viúva Negra é uma personagem da qual conhecemos muito pouco, e o filme é eficiente em trazer informações sobre o passado da personagem, mesmo que ainda deixe alguns buracos na história. Esse confronto com o passado é interessante, pois permite conhecermos a história dela, sem que necessariamente seja um filme de origem.
Esse enfrentamento da personagem com seu passado é interessante, mas falta peso ao roteiro, que desfaz todas as ações condenáveis da personagem. Fica claro que ela matou muita gente, mas toda a responsabilidade das ações dela, das outras viúvas e até mesmo da forma com que ela foi escolhida recaem sobre o projeto Sala Vermelha; uma decisão covarde, que tira o peso do universo violento e traiçoeiro da espionagem. Até mesmo a única ação consciente que traz um peso enorme para a personagem é suavizada com um plot twist capenga no terceiro ato.
Ao trazer personagens sem poderes e sem a necessidade de grandes amarras com o restante do universo Marvel, o filme poderia ser mais focado na “realidade”, trazendo uma violência mais crua, no estilo dos filmes do Jason Bourne. Mas o longa repete a fórmula Marvel, com muita ação, explosões e alívios cômicos. Diversos momentos do longa soam como uma sátira àquele universo da espionagem e, principalmente, ao modelo soviético, sendo muitos elementos espelhados do lado estadunidense (como o Guardião Vermelho e o porta-aviões da Sala Vermelha, por exemplo).
O filme trabalha com um elenco predominantemente feminino, o que é uma decisão acertada, e traz personagens interessantes, principalmente a personagem da atriz Florence Pugh, que quase rouba o filme. A química entre as duas personagens é instantânea. Florence segura a onda em um filme que não deixa de ser uma passagem de bastão, pois certamente veremos mais de Yelena no MCU.
Um dos pontos fracos fica por conta do vilão. O treinador deixa de ser aquele mercenário inescrupuloso e de humor ácido dos quadrinhos para se tornar uma versão ninja silencioso do Exterminador do Futuro. Uma mudança em prol da revelação de sua identidade, que não acrescenta nada e ainda enfraquece a protagonista. Fechando o elenco principal, Rachel Weisz está excelente, mesmo em um personagem mal aproveitado, e David Harbour é o alívio cômico que traz camadas interessantes, como uma versão soviética do Capitão América. Um personagem que é claramente uma sátira, mas que se perde em exageros.
“Viúva Negra” é uma tardia homenagem, funcionando como despedida e passagem de bastão. É um filme mais do mesmo, que não engrandece a personagem, mas permite a ela um último ato com um justo protagonismo.