Cinema - A monstra do mar negro
*Edgar Vianna de Andrade - Atualizado em 06/07/2021 20:40
“The she creature”, “A criatura da destruição” em português, nada tem a ver com “O monstro da lagoa negra”, filme dirigido em 1954 por Jack Arnold e que se tornou “cult”. Até Bergman gostou dele. O roteiro de “A criatura...” se baseia no livro best-seller “The search”, de Bridey Murphy, que versa sobre hipnotismo. Mas o monstro criado por Paul Blaisdell, um dos mestres da maquiagem, é muito parecido com o monstro da lagoa negra. A diferença imperceptível é que, em “A criatura da destruição”, o monstro é monstra e sai do mar. Blaisdell foi saudado por sua criação. Foi o que se pôde fazer, pois a tecnologia da época não permitia voos muito altos. Mais uma vez, destaque-se a importância de Ray Harryhausen, que foi um mestre e cobrava caro por seus monstros em stop motion.
“A criatura da destruição” foi lançado em 1956 com a direção de Edward L. Cahn. Foi classificado como filme de terror porque nele figura uma monstra assassina. A classificação decorre do fato de a monstra aterrorizar, mas, a rigor, é um filme que se movimenta entre o sobrenatural e a ficção científica. Um hipnotista de parque de diversões mantém uma moça, cuja beleza é típica dos anos 1950, em regime de escravização psicológica. Ela, Andrea Talbott (Marla English), odeia Carlo Lombardi (Chester Morris) por mantê-la sob seu domínio e obrigá-la a animar uma monstra por meio de regressão a vidas passadas. Ela sai do mar para atacar suas vítimas.
Lombardi é o vilão. A polícia não tem provas de seus crimes, mas aposta em sua responsabilidade. Andrea é a vítima. É preciso um mocinho, um homem do bem. Um homem másculo, jovem e atraente. O Dr. Tomothy Chappel (Tom Conway) faz esse papel. Estamos diante de um assunto muito atual: a ciência sem fundamento para praticar o mal contra a ciência comprovada. O atual caso da epidemia causada pela Covid-19 trouxe novamente à tona esse conflito. Andrea é prisioneira da falsa ciência, esperando que a verdadeira ciência a salve. Em nome da ciência, Chappel se une à polícia e a outros renomados cientistas.
Sim, é possível reanimar uma criatura marinha ancestral e fazê-la cometer atrocidades. A mente humana tem poderes inimagináveis. Mas não se trata de uma questão sobrenatural. O mundo metafísico não é questionado. Contesta-se apenas o poder do hipnotizador de parque de diversões, que ambiciona ser reconhecido como cientista.
Depois de várias vítimas do mal, o bem triunfa. Como nos filmes daquela época, o final é brusco. Imagina-se que Amanda e Chappel ficarão juntos. A crítica gostou do filme. A monstra, que nos parece caricata hoje, deve ter assustado muitos telespectadores. Como autêntico filme B, “A criatura da destruição” foi exibido em dupla com “Ameaça espacial”, dirigido pelo célebre Roger Corman.

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