Welligton Paes - Anfilóquio de Lima (1886-1909)
Welligton Paes 05/07/2021 16:49 - Atualizado em 06/07/2021 15:25
Atendo a uma solicitação da minha colega e atual presidenta da Academia Campista de Letras (ACL), Dra. Vanda Terezinha Vasconcelos, para escrever sobre o meu patrono na ACL. A presidenta sabe que não sou historiador, mas conhece o meu acervo e sabe da minha paixão pela história da minha Campos dos Goytacazes. No ano de 2000, publiquei um trabalho com o título: “Resumo biográfico dos 40 Patronos da Academia Campista de Letras”. Desta vez, vou ampliar a biografia, pois consegui mais subsídios sobre o grande poeta campista.
Anfilóquio de Lima nasceu em 12 de novembro de 1886 e faleceu na noite de 23 de julho de 1909, em Baturité, Ceará. Viveu apenas 22 anos. Era carioca, por um desses acidentes até certo ponto românticos. É que seus pais estavam a passeio no Rio de Janeiro, e ele não esperou pelo regresso à planície. Sempre foi considerado campista, uma vez que toda a sua infância, toda sua formação e estudos iniciais foram em Campos.
Sua primeira escola foi a do mestre Baltazar Carneiro, patrono da cadeira 5 da Academia Campista de Letras, escola essa que formou a base intelectual de inúmeros campistas ilustres. Depois, teve como professor aquele que seria, no passar dos anos, o seu biógrafo: Múcio da Paixão. Mais tarde, matriculou-se no Liceu de Humanidades de Campos para fazer o chamado Curso Preparatório, pois sonhava em seguir a carreira de advogado. A sua saúde um tanto delicada não o deixou iniciar de maneira regular os estudos acadêmicos. Frequentou a Escola de Farmácia de Juiz de Fora, onde residiu como funcionário da Repartição Geral dos Telégrafos.
Em 1903, quando frequentava o primeiro ano do Liceu de Humanidades de Campos, publicou o seu primeiro livro de versos: “Lira dos meus oito anos”, uma coletânea de 10 bonitos sonetos. O volume foi prefaciado pelo escritor Lindolpho Assis, que exclamou: “Um poeta aos quinze anos!... Quem poderia definir de modo justo, preciso, esta faculdade que eleva uma criança acima dos próprios contemporâneos, assegurando memória imperecível das produções do seu espírito”? Mais à frente, diz: “Nos versos de Anfilóquio, desde os primeiros até os últimos, perpassa suave e doce melancolia a par de um lyrismo casto, delicado e sonoro”. Por sua vez, Múcio da Paixão, seu biógrafo, registrou: No dizer correto de Múcio, “Corre pela sua poesia uma nota nostálgica e plangente, uma leve tristeza que lhe ensombra a radiosa inspiração”.
Era um rapaz esbelto, vivaz, sempre vestido cuidadosamente, para quem as moças sorriam antes que ele lhes sorrisse. Era puro, meigo e humilde.
Silvio Fontoura relata um fato que seria verídico. Quando da publicação do primeiro livro de Anfilóquio de Lima, aos 15 anos, Manuel Moll, poeta e professor, criticou a obra. Apontava nela deslizes na linguagem, entre os quais alguns erros de sintaxe. Moll, que não conhecia o poeta, vê, dias depois, na sua sala de aula de português, um rosto estranho e indagou: — Quem é o senhor? “Sou Anfilóquio de Lima. Vim agradecer-lhe a crítica e aprender mais com o senhor”. Passado um mês, Anfilóquio era o melhor discípulo de Manuel Moll.
Silvio relata outro fato acontecido com Anfilóquio, quando a revista “A Aurora” abriu um concurso de sonetos. Teófilo Guimarães, Ignácio de Moura e o próprio Silvio foram os julgadores. Flamínio Caldas foi o vencedor. Anfilóquio, que fora um dos concorrentes, quis, no mesmo dia do julgamento, conhecer os originais. Foram-lhe todos mostrados. Viu ele que lhe foi dado o segundo lugar, e, ao cumprimentá-los, disse: “Foram justos. O soneto de Flamínio é melhor que o meu”.
Anfilóquio de Lima alimentava o sonho de juntar todos os seus versos num livro que teria como título “Flamulas”. Não chegou a fazê-lo: a morte o levou.
Possuímos um volume de “Lyra dos meus oito annos”, editado em 1903.
Em 2017, em visita que eu, minha sobrinha, acadêmica Sylvia Marcia e Simonne Teixeira fizemos à casa da Irmã Conceição N. Tinoco, filha do ilustre ex-presidente da ACL Godofredo N. Tinoco, recebi de suas mãos vários manuscritos do biografado, que pertenciam ao seu pai.
O atual ocupante da cadeira 3 da ACL é este apaixonado pela história de Campos e aprendiz de pesquisador, que oferece ao público este modesto trabalho.
Welligton Paes
Eis um belo soneto manuscrito do poeta:
Supplica
Dama dos olhos e cabelos pretos,
És do meu coração deusa e senhora...
Trago-te sempre, assim como que ora,
No engaste azul de herediaes sonetos.
 
Cante e gorgeie a tua voz sonora
De sons extranhos, magicos, secrétos,
Como um bandos de pássaros inquietos
gorgeia e canta ao despontar da aurora.
 
Mas, ai! Não voltes para o céo, querida!
Fica na terra e humanamente gosa,
Doce estrella polar da minha vida.
 
E, na febril angustia dos desejos,
Aos teus braços na cruz branca e nervosa
Dá-me a delicia dos primeiros beijos!
 
(Anphiloquio de Lima)

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