Bicentenário da Independência debatido em evento virtual
14/05/2021 19:25 - Atualizado em 14/05/2021 21:51
Com o tema “A política econômica do desenvolvimento: de Vargas aos nossos dias”, um debate virtual sobre o bicentenário da Independência do Brasil aconteceu na tarde desta sexta-feira (14). Com apoio do Grupo Folha, o encontro foi transmitido pela rádio Folha FM 98,3, Plena TV e pelo canal da Fundação Astrojildo Pereira. Especialistas como Cristovam Buarque (UnB), Luiz Carlos Bresser-Pereira (FGV-SP) e José Luis Oleiro (UnB) participaram do evento on-line, que analisou aspectos da economia do Brasil nos últimos anos e as possibilidades de retomada do desenvolvimento. Na cadeira da Política, a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) teve como participante o cientista político e professor Hamilton Garcia.
— Nós nos encontramos, agora, não preciso dizer, com o pior governo da história do Brasil desde dona Maria I, a Louca. Inclui todo mundo. Desde ela, em meados do século XVIII, até agora, este é, sem dúvidas, o pior governo da história — disse o economista José Luis Oleiro, avaliando negativamente a gestão do presidente Jair Bolsonaro. — E o fato é que este governo, como o representante dele já mencionou várias vezes, não deseja construir nada, o que ele deseja é destruir. Numa audiência pública da Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, comparei o governo atual ao saque de Roma pelos bárbaros no ano 410 depois de Cristo — complementou.
— Ao longo do período de 90 anos, e pode-se falar em 100, o Brasil é um caso de sucesso, apesar das décadas perdidas. Como também são casos de sucesso muitos outros países do chamado terceiro mundo, antigamente se chamava, neste período. Não somente na África, mas sobretudo na Ásia e na Europa, alguns países considerados atrasados na Europa, inclusive nosso irmão Portugal. E também a Espanha, a Finlândia, que era um país muito pobre nos anos 1940. Apesar de todo esse sucesso brasileiro, de fato, quando a gente olha a paisagem brasileira, nós não podemos falar tão ufanisticamente de sucesso. Houve sucesso, negar isso é falso. Mas, é um sucesso que carrega dois fatos: o esgotamento do crescimento e também uma tragédia social — avaliou Buarque.
Entre as suas participações no debate, o senador Cristovam Buarque, também economista e educador, passeou pela história brasileira nos últimos 90 anos e apontou lacunas na base das políticas econômicas.
— Ao longo do período de 90 anos, e pode-se falar em 100, o Brasil é um caso de sucesso, apesar das décadas perdidas. Como também são casos de sucesso muitos outros países do chamado terceiro mundo, antigamente se chamava, neste período. Não somente na África, mas sobretudo na Ásia e na Europa, alguns países considerados atrasados na Europa, inclusive nosso irmão Portugal. E também a Espanha, a Finlândia, que era um país muito pobre nos anos 1940. Apesar de todo esse sucesso brasileiro, de fato, quando a gente olha a paisagem brasileira, nós não podemos falar tão ufanisticamente de sucesso. Houve sucesso, negar isso é falso. Mas, é um sucesso que carrega dois fatos: o esgotamento do crescimento e também uma tragédia social — avaliou Buarque, indicando que, na sua opinião, o Brasil escolheu “um trilho errado”.
— Foi um erro achar que a pobreza é uma questão econômica. É mais profundo do que econômica. É econômica, é de uma engenharia, é de relações sociais. A pobreza não é ter baixa renda, a pobreza é não ter acesso ao que é essencial na vida digna da pessoa e da família. E o que é essencial, só uma parte vem pela renda. A educação não virá da renda, a não ser que seja renda muito alta. A saúde não virá da renda. Você não tem saneamento na sua casa com a renda que você tem; ela virá do estado, ela é fruto de políticas públicas. A pobreza é superada a partir do crescimento econômico, sem dúvida; também precisa, para distribuir renda também um pouco. Mas, precisa, sobretudo, de políticas públicas claras, para garantir que todos tenham acesso aos bens e serviços sociais — enfatizou.
Luiz Carlos Bresser-Pereira, por sua vez, discursou sobre o desenvolvimentalismo presente no Brasil da Era Vargas até o período inicial da ditadura militar. quando o país enfrentou uma crise do mdoelo vinculado ao crescimento da dívida externa e à alta da inflação.
— O que aconteceu com o Brasil entre 1930 e 1980 é que o regime de desenvolvimento econômico foi desenvolvimentista, o Estado foi desenvolvimentista: dava uma prioridade ao desenvolvimento econômico, intervinha moderadamente na economia e tinha um projeto nacional de desenvolvimento. Houve crise no meio disso. Houve uma grande crise nos anos 1960, porque os liberais ganharam a eleição com um populista chamado Jânio Quadros. Houve a crise do golpe militar e, durante mais três anos, o governo militar foi liberal. Mas, em seguida, o governo militar foi desenvolvimentista novamente, agora com um desenvolvimentismo mais excludente do que o anterior, sem nenhuma participação das classes populares, mas um desenvolvimentismo. E voltou a apresentar taxas de crescimento muito elevadas. Então, nós podemos dizer que, nesse período de 50 anos, o Brasil realizou a sua revolução nacional: se tornou um país realmente independente, que tinha a sua política; sua revolução industrial, porque se transformou num grande país industrial, um grande exportador de manufaturados — disse o Bresser. — Esse país que se desenvolveu tanto neste período, ele parou em 1980 — pontuou.
Confira o debate na íntegra:

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