A arte-educadora e escritora Eliz Rosa, residente em Campos, foi uma das vencedoras do concurso literário “Dona de Mim”, promovido pela Psiu Editora. Doutoranda em sociologia política pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), ela teve seu conto “A pintora letrista no andaime” selecionado para compor uma antologia que reúne textos de 35 autoras nacionais relacionados à realidade feminina.
— Para mim, a literatura tem um poder lenitivo. Essa é uma das razões pelas quais atribuo muito valor à escrita e à possibilidade de me expressar por meio dela, principalmente nestes tempos em que nos sentimos imersos em circunstâncias que nos afligem intimamente — afirma Eliz. — Meus poemas, contos, crônicas nascem como um espirro, ao sabor do teclado e das palavras. Geralmente, posto esses textos nas minhas redes sociais para tornar a interação virtual mais poética, leve, ou os “engaveto” e me esqueço deles. Esse conto nasceu assim, despretensiosamente, mas decidi submetê-lo no concurso da Psiu no último dia do prazo. Quando soube da seleção do meu conto, foi uma graciosa surpresa. Senti um refrigério que há muito não experienciava. Estou muito feliz — complementa.
Nascida na cidade capixaba de Cachoeiro de Itapemirim, Eliz viveu boa parte da sua infância em Itaoca Pedra, no interior do município. Foi lá que começou a desenvolver a arte da escrita, acompanhada pelo lirismo presente no distrito, que também lhe apresentou experiências não tão fáceis, mas igualmente marcantes.
— Cresci numa casinha simples e, desde criancinha, me refugiei na escrita e nas artes visuais. O quintal cheio de flores, castanheiras e amoras era palco das minhas imaginações. Lá aprendi a sonhar em ser escritora, artista, professora. Por muitas vezes me vi distante desse sonho, pois precisei me ausentar da escola para trabalhar aos 11 anos. Entre rupturas, avanços e retrocessos no meu percurso educacional, concluí o ensino médio já na vida adulta. Logo em seguida, cursei pedagogia e, no final dessa formação inicial, comecei a graduação em artes visuais — recorda a escritora: — Simultaneamente ao curso de artes, ingressei no mestrado em políticas sociais, na Uenf. Agora, estou na reta final do doutorado em sociologia política, também pela Uenf. Nessa florescente carreira acadêmica, voltei a tecer sonhos e aprendi a alçar voos, sem perder a ternura e a intensidade.
Eliz Rosa tem dois poemas já publicados em antologias poéticas. São eles: “Tempo”, selecionado no Concurso Nacional Novos Poetas - Poesia Livre, e “O lenço”, presente na antologia “Sarau Brasil”, ambos de 2016 e com abrangência nacional. Atualmente, muito da sua produção poética passa pelas vivências na planície goitacá.
— Campos me inspira direta ou indiretamente no processo de criação poética. Vivo aqui com o meu filho, Jeiel Asaph, minhas artes, meus livros, cercada do carinho de amigas e amigos mais que especiais — comenta.
Em “A pintora letrista no andaime”, embora não assuma o lugar de protagonista, Eliz apresenta aspectos autobiográficos, pois escreveu o conto a partir da sua experiência profissional como pintora letrista, de 2009 a 2012.
— À época, entendi que só mudaria os rumos da minha trajetória de vida por meio dos estudos, mas eu não tinha condições materiais para cursar uma faculdade. Precisei me mudar de cidade, comecei a atuar como pintora letrista e, com isso, só podia ver o meu filho aos finais de semana. Foi uma experiência dolorosa em muitos sentidos. Tive que absorver, nas minúcias do meu dia a dia, na interação com as pessoas do meu convívio, a força necessária para me manter firme no caminho que precisava trilhar. O conto traz esse enquadramento — enfatiza.
De acordo com a organizadora do projeto “Dona de mim”, Flávia Stopa, a ideia para a realização do livro surgiu devido à relevância do empoderamento feminino, uma vez que o machismo e a desigualdade de gênero ainda são aspectos fortemente presentes na sociedade brasileira. “Tendo esse cenário em vista, decidimos trazer luz às vozes femininas da literatura moderna e contar histórias de mulheres fortes e vencedoras, mesmo em meio à tantos obstáculos”, ressalta Flávia.
O conto de Eliz é um destes escritos com um misto de memórias e atravessamentos do cotidiano. “Poetizo para me desnudar, aflorar, resistir. É no sabor das palavras que expresso a dor e a delícia de ser mulher”, salienta ela. (A.N.) (M.B.)