Os outdoors estão presentes em pontos estratégicos e é difícil não circular pela cidade sem se deparar com algum. Desde o período pré-eleitoral de 2018, os cartazes se tornaram palco, em Campos, para a disputa política entre apoiadores e críticos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Com o acirramento da crise causada pela Covid-19, com mais de 360 mil mortos, as contestações ao governo federal foram retratadas em algumas peças patrocinadas pelo Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), chamando o presidente de genocida. Por outro lado, outdoors financiados pelo Sindicato Rural e empresários do setor cerâmico mandam um recado aos políticos: “apoiem o governo Bolsonaro ou trocamos vocês em 2022”.
Para o cientista político e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) Hamilton Garcia, as campanhas publicitárias de cunho político fazem parte do jogo democrático. “É plenamente normal esse tipo de campanha publicitária política, é uma coisa que está dentro da democracia. É algo que está bem normalizado. Quando se fala em uma situação de pandemia, com muitas mortes que estão sendo atribuídas a má gestão do governo federal, é claro que as coisas se tornam mais explosivas e difíceis”, disse.
Vereador e ceramista, Nildo Cardoso também apoiou o uso dos cartazes e questionou quem chama Bolsonaro de genocida. “Com a aproximação do processo eleitoral, é normal que cada grupo exponha suas opiniões e interprete as situações de cada maneira. Sou fiel aos meus princípios, ao meu voto, e votaria novamente em Bolsonaro. Existem questionamentos a serem feitos e que serão revelados mais à frente sobre a Covid. Não se morre mais de câncer, acidente de trânsito, de diabetes, infarto? Tudo agora é Covid. Mas vamos confiar na Polícia Federal que irá fazer seu trabalho”, declarou.
Já o presidente do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra, explicou que o cenário caótico da pandemia e a incapacidade do governo em ajudar os trabalhadores e empresários em momento de crise motivou as peças publicitárias. “Essa iniciativa partiu do Sindipetro-NF, que procurou outros sindicatos e entidades representativas, porque a questão da pandemia está muito descontrolada. Mesmo com a receita que o mundo mostrou para controlar a pandemia, o governo brasileiro fez questão de não aprender. Quando você tem experiências positivas e estudos científicos que mostram o caminho que deve ser seguido e, em contrapartida, você assume o outro caminho, você está sendo responsável em relação aos impactos”.
Hamilton, por sua vez, fala sobre as responsabilidades do governo federal no agravamento da pandemia, mas relata que acusação de genocida é algo grave e exagerada. “Você pode fazer uma analogia que se trata de uma política irresponsável e que se equipara a um genocídio por causa do grau de mortes, mas por uma aproximação. Acho que há um exagero. É uma acusação muito grave. A exceção ao caso das pessoas passíveis de responsabilização com base em provas. É um limite que a gente deveria respeitar porque quem está jogando fortemente na radicalização e quem até anseia, de certa maneira, tumultuar o processo político acho que são os bolsonaristas. Como o PT também faz esse jogo, talvez tudo que o Bolsonaro precise para tumultuar o ambiente é que os petistas entrem com tudo nessas campanhas de xingamento e dedo na cara. Não acredito que seja um bom caminho”.
Nildo também falou sobre governadores e prefeitos e alfinetou os apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Colocam a culpa toda no presidente, mas não se fala dos governadores e prefeitos que tiveram autonomia dada pelo Supremo Tribunal Federal. Tem governadores que roubaram respiradores, hospital de campanha que não foi feito, como aqui em Campos. Temos que cobrar! Mas sepultaram de vez a Lava Jato e quem deveria estar preso está aí livre. Fora bilhões desviados para Venezuela, Cuba e outros países e que a conta agora recai sobre o governo federal. Esse dinheiro poderia ser usado contra a pandemia”.
Por outro lado, Tezeu alega que o negacionismo tem prejudicado o país na condução da crise da pandemia. “O negacionismo mostrado por Bolsonaro, especialmente, e por todo o governo, sem usar máscaras. Era esse o exemplo dado, como das aglomerações que o presidente fez questão de promover. Tudo isso nos incentivou a fazer esse movimento. No dia seguinte da instalação, tinha alguns já rasgados”.