Matheus Berriel
30/04/2021 20:36 - Atualizado em 01/05/2021 10:18
No dia em que o músico campista Juventino Maciel (1926-1993) completaria 95 anos, na próxima segunda-feira (3), será lançada a versão digital e revisada do livro “Juventino Maciel – Reminiscências Musicais” (Editora Multifoco), de Felipe Ábido e Marcílio Lopes. A obra, lançada fisicamente no Festival de Chorinho e Sanfona de Rosal de 2019, em Bom Jesus do Itabapoana, contém uma biografia artística do compositor do choro “Cadência”, imortalizado por Jacob do Bandolim, e 70 partituras com autoria de Juventino, várias delas inéditas. Algumas estão para ser divulgadas em gravações do grupo regional Pé de Pitanga, do qual Felipe Ábido faz parte. O projeto foi contemplado no edital “Retomada Cultural”, da secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro, por meio da lei federal Aldir Blanc.
— Originalmente, o projeto era uma turnê por todo o estado, com vários shows do grupo Pé de Pitanga e convidados lançando o livro. Obviamente, isso se tornou impossível, porque nossa reação à pandemia está muito lenta. Fomos obrigados a cancelar a turnê, mas vamos fazer várias gravações de músicas inéditas e disponibilizá-las ao longo do ano, inclusive em formato play along, para qualquer músico que queira praticar as partituras tocando junto com o grupo Pé de Pitanga — disse Felipe Ábido.
Também natural de Campos dos Goytacazes, Felipe começou a se interessar pela obra de Juventino Maciel há cerca de duas décadas, quando um colega músico tocou “Cadência” durante visita à sua casa. Em 1967, o choro fez parte do repertório de Jacob do Bandolim no histórico LP “Vibrações”, junto a outros clássicos do gênero.
— Nesse disco, Jacob apresenta Juventino Maciel como compositor extraordinário. Documenta isso por escrito, inclusive, na contracapa do disco, e lança o Juventino como compositor a nível nacional — comentou Felipe, referindo-se a elogios de Jacob do Bandolim adjetivando como admiráveis a inspiração e o talento do instrumentista de Campos. “Compõe com extrema facilidade como comprovarei em futuras gravações”, escreveu Jacob.
Após um período morando na capital fluminense, onde se formou em música popular brasileira pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Felipe Ábido retornou à planície goitacá em 2016, para atuar como professor temporário do curso técnico de música no campus Guarus do Instituto Federal Fluminense (IFF). Foi nesta época que, interessado em cursar o mestrado na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), ele voltou a se aproximar das canções de Juventino.
— Quando me encontrei com a necessidade de buscar algo que relacionasse música, cultura regional e tudo isso, acabei optando por fazer um trabalho voltado para a trajetória musical de Juventino Maciel. Desde a época de “Cadência” no LP “Vibrações”, falava-se que havia muitas músicas dele ainda inéditas, cerca de 100 a 200. Então, mergulhei nessa pesquisa, e uma coisa foi levando a outras, até que comecei a fazer o projeto Choro na Villa em 2017, para conectar os desdobramentos dessa pesquisa com a sociedade de forma mais direta e menos acadêmica — detalhou Felipe: — Daí, a coisa foi amadurecendo e chegou ao ponto em que fiz essa parceria com o Marcílio Lopes, que é professor e pesquisador da Casa do Choro, projeto muito antigo do Rio de Janeiro. Ele fez a partitura, e eu fiz a parte da biografia artística. Juntamos as nossas pesquisas, e isso resultou no livro.
Juventino Maciel foi o segundo compositor homenageado no Choro na Villa, que incluía shows do Pé de Pitanga nos jardins da Casa de Cultura Villa Maria. Foi justamente essa participação no projeto o elo de ligação para que, agora, canções inéditas do bandolinista sejam gravadas pelo grupo, formado por Felipe Ábido (voz e violão de sete cordas), Vitor Vieira (percussão e bateria), Joel Monção (cavaco) e Antônio Rocha (flauta). As gravações têm participação especial de Ricardo Maciel, filho de Juventino, tocando flauta. Outro convidado seria o professor de música Mailton Ferreira, que tocou cavaco em homenagem anterior do Pé de Pitanga a Juventino, mas ele foi preservado por ser idoso e fazer parte de grupo de risco da Covid-19.