Arthur Soffiati: O turismo no Norte-Noroeste Fluminense
Arthur Soffiati - Atualizado em 30/04/2021 20:39
Quando o conceito de atrativo turístico ainda não existia no Brasil, esses atrativos existiam na região Norte-Noroeste Fluminense. O príncipe alemão Maximiliano de Wied-Neuwied ficou encantado com a cidade de Campos, que registrou como a maior, a mais bela e dinâmica depois do Rio de Janeiro e de Salvador. Ficou maravilhado com as florestas de São Fidélis e de São Francisco de Itabapoana. O sergipano Antonio Muniz de Souza enalteceu as várzeas e matas do rio Muriaé e a lagoa de Cima, para ele um recanto paradísiaco com anta e veado. O alemão Hermann Burmeister considerou o rio Paraíba do Sul mais belo que o rio Reno e orou aos pés das árvores do rio Pomba, verdadeiras catedrais góticas segundo ele.
Na segunda metade do século XIX, Teixeira de Mello teve uma elevação mística com o gorjeio de pássaros ao descer o rio Muriaé. A comparação que D. Pedro II fez da lagoa de Cima com um lago suíço foi repetida por outros viajantes. Em 1919, Luiz Sobral, prefeito de Campos, levou Paul Claudel, Darius Milhaud e outros franceses para conhecer a lagoa de Cima. Várias fotos da paisagem foram tiradas. Talvez sejam as mais antigas fotos da lagoa. Claudel ocupava cargo equivalente ao de embaixador da França no Brasil. Ainda em 1931, Escragnolle Taunay escreveu uma bela página sobre a lagoa de Cima.
O conceito de atrativo turístico foi se definindo a partir de 1950, enquanto esses mesmos atrativos foram sendo destruídos no Norte-Noroeste Fluminense. Se Wied-Neuwied ressuscitasse e novamente empreendesse a viagem que fez entre 1815-17, certamente não reconheceria a cidade de Campos, não mais encontraria as florestas de São Fidélis e São Francisco de Itabapoana, e se arrependeria de ter comparado o Paraíba do Sul com o Reno. Muniz de Souza não encontraria mais as belas florestas do Muriaé nem matas com veados e antas na lagoa de Cima. D. Pedro II e Taunay não comparariam com muita convicção a lagoa de Cima com um lago suíço. Burmeister não encontraria as catedralescas florestas no vale do rio Pomba.
Em termos de conjuntos urbanos, o que o Norte-Noroeste Fluminense tem a apresentar com valor turístico? Os desatualizados insistem em repetir que Campos conta com o segundo conjunto de prédios em estilo eclético do estado, só superado pelo Rio de Janeiro. Isso não existe mais. No máximo, encontraremos edificações isoladas sempre sob a ameaça da demolição. Enquanto o “progresso” não chega, restam Varre-Sai, Pureza (distrito de São Fidélis), Santa Maria Madalena (na Zona Serrana), Quissamã (à beira de ser desfigurada) e nada mais. Ninguém sairá do Rio de Janeiro ou de Vitória para visitar algum desses núcleos urbanos. É bem mais interessante ir à Europa ou visitar alguma cidade da serra dos estados do Rio de Janeiro ou Espírito Santo.
O Norte Fluminense conta com uma grande extensão de praia. Quem não está informado a respeito da zona costeira, recorra a um mapa. Pode ser no Google mesmo. Notar que, de Paraty, no Sul Fluminense, até a margem direita do rio Macaé, as praias apresentam, com maior ou menor grau, os critérios de atrativos turísticos. Entre a margem esquerda do rio Macaé e a margem direita do rio Itapemirim, as praias são longas e descampadas, normalmente com água barrenta. Aos meus olhos, essas praias são ricas, mas para o turista elas são feias e perigosas. Não mencionarei a poluição porque praias consideradas maravilhosas podem estar muito poluídas. O que falta às praias do Norte Fluminense são pedras e enseadas. As pedras atraem organismos filtradores que limpam a água do mar.
Portanto, é inútil tentar vender as praias de Macaé (margem esquerda do rio de mesmo nome), Carapebus, Quissamã, Campos, São João da Barra e São Francisco de Itabapoana como atrativos turísticos. Quem tem recursos financeiros correspondentes à classe média e acima dela irá para a Região dos Lagos ou para Guarapari e adjacências. A praia mais próxima enquadrada nos padrões turísticos é a de Macaé (margem direita do rio). Pessoas com mais posse ainda, irão para as praias do sul da Bahia, do Nordeste, do Sul Fluminense ou do exterior.
A Zona Serrana do Norte-Noroeste Fluminense está devastada. O que pode ser apresentado com algum interesse para o turista? O parque aquático de Cambuci? As quedas d’água do rio Carangola? A estação de águas de Raposo? Uma cachoeira do Imbé? Com pouco dinheiro, é possível passar alguns dias nas zonas serranas ao redor da cidade do Rio de Janeiro: Petrópolis, Teresópolis, Friburgo. Ou noutros estados do Brasil e em outros países.
Campos e as cidades do Norte-Noroeste Fluminense devem deixar o ufanismo de lado e admitir que a região não é vocacionada para o turismo. Planos turísticos municipais e regionais voltados para o público interno estão fazendo falta. Pensemos no turismo interno. Partamos do princípio de que todo o turismo é ecológico. Não existe turismo urbano, rural e selvagem. Todo turismo deve respeitar o ambiente. E mais: o turismo nunca será a redenção econômica da região. Voltaremos ao assunto.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS