Dora Paula Paes
30/03/2021 20:55 - Atualizado em 31/03/2021 17:25
Um ato simbólico realizado no início da noite desta terça-feira (30) marcou um ano da instalação do Centro de Controle e Combate ao Coronavírus (CCCC), que fica no prédio do Hospital Beneficência Portuguesa. A ocupação na unidade é de 100% nos 40 leitos clínicos, nos 29 leitos de UTI e nos 5 leitos de estabilização (sala vermelha). Aproveitando a data, os profissionais da linha de frente do setor de Triagem realizaram um protesto. Segundo eles, o momento é assustador com o número de casos e de pacientes graves. Eles relatam que estão contando óbitos ou altas para salvar outras vidas.
A manifestação foi em forma de homenagem aos profissionais que estão exaustos na linha de frente e às vidas perdidas para o vírus pandêmico, além de um momento de oração para os doentes. O grupo de coordenadores do setor - eles são em cinco - fez apelo para a realidade que estão vivenciando. Os médicos pedem para que sejam ouvidos pela população e pelo governo municipal.
"Estamos há seis meses esperando que o governo - o anterior e o atual - promova o revezamento de profissionais no setor de triagem. Estamos exaustos! Tristes, também, porque a população não faz sua parte. Estamos aqui nessa luta e a população pouco se importando com a doença. A Covid-19 não acabou, vivemos neste momento em Campos a terceira onda, no momento, com os pacientes entre 30 e 50 anos. Um ano de trabalho intenso, dor e morte", diz a médica da área de Triagem do CCC, a oftalmologista Cynthia Cordeiro.
Os números em um ano no CCC são altos. Já foram 30 mil atendimentos, 1.268 altas médicas e 374 óbitos. "É um dura realidade, em um ano de exaustivo trabalho de enfrentamento à pandemia. Muito angustiante para um médico saber que você pode fazer alguma coisa pelo paciente e não tem um leito para ele", declarou a médica.
"Nós já vivemos dois aumentos absurdos de número de atendimento e óbitos. O primeiro foi em junho, com pacientes idosos, a segunda onda logo após eleição e festas de fim de ano, manteve mais ou menos o padrão da segunda onda, e essa onda de agora que estamos vendo um crescimento muito absurdo do número de atendimento em geral e da diminuição da faixa etária, com gravidade maior em pacientes mais jovens. Já perdemos pacientes de vinte e poucos anos, trinta e poucos anos, infelizmente, e estamos com vários pacientes dessa faixa etária", contou Cynthia.
Enquanto os médicos manifestavam, em um canto solitário, Maria da Conceição Pereira, de 60 anos, ainda se recuperava do choque de ter deixado internado na clínica médica seu filho de 39 anos, instrutor de autoescola. "Estou aflita. A saturação dele estava boa e de repente, com 10 dias da doença, ele começou a passar mal e viemos para cá. Volto para casa sem ele, mas confiando em Deus e nos médicos", contou.
Novo modelo contratual para atendimento no CCC
A Prefeitura de Campos pactuou com a Sociedade Portuguesa de Beneficência um novo modelo contratual de modo a cobrir todos os custos necessários para atendimento aos pacientes com Covid-19. Segundo o Prefeito Wladimir Garotinho, será antecipado um mês do novo modelo para que a gestão da unidade possa garantir os pagamentos dos funcionários, incluindo equipe médica.
"Estamos refazendo o modelo contratual e antecipando um mês deste novo modelo para que eles possam efetuar os pagamentos dos funcionários e das equipes médicas para que não falte atendimento à população", explica o prefeito Wladimir Garotinho.
Acompanhado pelo Vice-Prefeito Frederico Paes e pela equipe da Secretaria Municipal de Saúde, Wladimir recebeu os representantes da Beneficência Portuguesa para estabelecer um diálogo de modo a oferecer melhores condições para funcionários e melhor atendimento aos pacientes, já que o contrato pactuado pela gestão passada não cobria todos os custos do tratamento contra a Covid-19.
Da Beneficência Portuguesa participaram da reunião o presidente, Renato Faria, e o diretor, Jorge Miranda. O diretor explica que, desde o início do atendimento no CCC, os recursos foram muito escassos e insuficientes para a demanda do Centro e este novo pacto vai proporcionar melhorias.
"Com este novo contrato, será possível normatizar e normalizar os pagamentos dentro da nossa realidade porque estamos vivendo uma emergência muito grande. O prefeito nos recebeu super bem, foi compreensível e sensível à situação que aflige a todos nós e, também, tranquilizou a todos os funcionários de que os pagamentos serão efetuados - explica Jorge Miranda.
Também participaram da reunião o secretário municipal de Saúde, Adelsir Barreto; o subsecretário, Paulo Hirano; e o subsecretário de Planejamento e Gestão Executiva, Anderson Alves.