Não teve Carnaval, mas muita aglomeração. Não existe consenso, mas os alunos são convocados para voltar às escolas no modelo híbrido (remoto e presencial) com aval de autoridades da Saúde e do Ministério Público Estadual (MPE), em Campos. No meio do caminho, pressa na retomada da economia, vacina insuficiente para imunidade de rebanho e profissionais da linha de frente expondo: “As pessoas estão com atitudes bem irresponsáveis, não levam em conta que estamos em uma pandemia com números elevados de casos e mortes”, disse o médico infectologista, Nélio Artiles.

No caso da volta às aulas, a secretaria municipal de Educação, Ciência e Tecnologia (Seduct), de Campos, na quinta-feira (18), apresentou ao MPE, durante audiência online, o plano de retorno híbrido de 30% dos alunos em, no mínimo, 10% das escolas de educação infantil das redes municipal e privada a partir de 8 de março. Antes, no dia 1º de março, a rede estadual inicia, em sistema híbrido, as atividades das 1.200 unidades.

Segundo o secretário municipal de Educação, Marcelo Feres, cada escola vai criar uma Comissão Pró-Saúde, formada por pais e educadores, que ficará responsável por monitorar o cumprimento dos protocolos estabelecidos pela Secretaria de Saúde. “Não se trata ainda de um retorno presencial, mas um modelo prudente e responsável, sem perder o foco na proteção dos profissionais da educação, alunos e seus familiares”, disse.

O subsecretário de Atenção Básica, Vigilância e Promoção da Saúde, Charbell Kury, enfatizou: “Em caso do Município retornar às fases laranja e vermelha, as aulas deverão retornar imediatamente ao formato não presencial. Além disso, o Departamento de Vigilância Sanitária visitará as escolas a fim de acompanhar o cumprimento das normas previstas”.

Mas, nem todos são favoráveis à retomada, onde alunos e professores deverão voltar ao convívio em sala de aula. “Embora o secretário (Marcelo Feres) tenha ouvido nossa posição em reuniões, para nossa decepção fez justamente o contrário. Nossa proposta é retorno de acordo com o avanço da vacinação. Sem vacinação é colocar profissionais e crianças cara a cara com a morte”, disse a diretora do Sindicato dos Profissionais da Educação (Sepe), em Campos, Graciete Santana.

Já a promotora da Vara da Infância e Juventude, Anik Assed, ressaltou que o município está estabelecendo critérios e normas. “O Ministério Público vai fiscalizar. O município não deixou de sinalizar e já se antecipou, informando que diversas escolas não têm condições estruturais para voltar de forma imediata. Colocar as crianças nessas escolas de uma hora para a outra seria atentar contra a saúde e a vida dessas crianças. O Ministério Público também não concordaria que essas escolas voltassem sem condições”, afirmou Anik.

Protocolos - Os pais ou responsáveis decidirão por aderir ou não ao sistema híbrido. Os que aceitarem, deverão preencher um formulário específico de autorização, permitindo a frequência dos estudantes neste modelo, e garantindo a veracidade das informações concedidas. No entanto, a aprendizagem por meio do modelo não presencial continuará sendo garantida aos alunos.

Em caso de suspeita de contaminação pela Covid-19 por algum membro da família ou de pessoas com quem a criança ou adolescente teve contato, ela deverá deixar de comparecer à escola pelo prazo mínimo de 14 dias. Os responsáveis deverão comunicar imediatamente.

Uma outra demanda, neste caso, de retomada de atividades econômicas, também foi atendida pelo município. Preparação de comemorativos e serviços de buffet e congêneres, com limitação de convidados em 100 pessoas, estão liberadas desde quinta-feira (18), conforme Decreto Municipal nº 042/202, publicado no dia 2 de fevereiro. O retorno destas atividades deverá estar condicionado ao estrito seguimento do protocolo “Regras da Vida” e demais protocolos específicos por tipo de estabelecimento.

“Passamos por uma série reuniões desde janeiro para que pudéssemos ter uma perspectiva segura de promover a retomada e também respeitando a saúde das pessoas”, disse o subsecretário de Atenção Básica, Vigilância e Promoção da Saúde (Subpav), Charbell Kury.

Além das normas de segurança sanitária presentes nos protocolos, haverá o rastreamento de contatos das pessoas que participarem das festas, além da testagem para Covid-19 dos funcionários das empresas. O rastreamento será por meio de listagem dos presentes nos eventos, através de uma unidade de vigilância sentinela na Secretaria Municipal de Saúde (SMS) pelo telefone (22) 981420801. A responsabilidade do envio da lista é das empresas.

O protocolo prever ainda que as empresas contratadas para a festa devem se responsabilizam em disponibilizar álcool 70% para a utilização dos colaboradores, bem como os equipamentos de proteção individuais necessários (máscara, faceshield, avental descartável ou higienizável, luvas descartáveis, toucas ou qualquer outro equipamento que se fizer necessário) para todo o período de trabalho.

A fiscalização será feita pelas Subsecretarias de Vigilância Sanitária Municipal (VISA) e de Posturas, Secretaria Municipal de Segurança e Guarda Civil Municipal.

O Carnaval que não foi Carnaval acabou na terça-feira (16), mas dentro de 15 a 20 dias a previsão é que o número de casos de coronavírus tenha aumentado. “Minha avaliação do pós-Carnaval é realmente lamentável. O reflexo dessas atitudes, geralmente, se observa epidemiologicamente duas ou três semanas depois com aumento de casos. Isso vai gerar um percentual de pessoas que vão para o hospital e vão ficar no CTI e permanecer durante longo tempo. Daqui a um mês e meio resultará ainda na interferência na mortalidade ou na taxa de ocupação dos leitos”, avalia o infectologista, Nélio Artiles.

Nesta sexta-feira (19), segundo a subsecretaria de Comunicação de Campos, a taxa de ocupação de UTI Covid era de 42,01% (dos 122 leitos) e a ocupação da Clínica Médica de 37,39% (dos 151 leitos), em toda a rede conveniada. Na quinta (18), esse percentual era, respectivamente, 39,21% e 29,89%.

O município também segue vacinando pessoas da área de saúde e idosos acima de 90 anos. No primeiro dia, o volume de idosos na fila da Uenf causou transtornos e revolta, mas situação foi resolvida. Até segunda-feira (22) pessoas dessa faixa etária podem procurar um dos postos: estacionamento do Guarus Plaza Shopping e a Uenf.

Ainda nesta sexta, uma foto nas redes sociais, do procurador Mário Terra Filho, atual presidente do Instituto de Previdência dos Servidores do Município de Campos (PreviCampos), se vacinando contra a Covid-19, chamou atenção, já que ele, inicialmente, não faria parte dos grupos que atualmente possuem prioridade de imunização no município.

Após ser criticado, Mário Filho, de 61 anos, se defendeu dizendo ter direito à vacina devido ao cargo que ocupa e que a instituição presta serviço na área da Saúde. Em nota, a subsecretaria de Atenção Básica, Vigilância e Promoção da Saúde também descartou ter havido caso de “fura-fila”.

No caso de novas vacinas, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) começou nesta sexta (19), a distribuição de uma nova remessa de 173.500 segundas doses da CoronaVac para os 92 municípios. Também serão entregues outras 20 mil doses, sendo 10 mil para primeira aplicação e 10 mil para segunda, que estavam armazenadas na Coordenadoria Geral de Armazenamento, como reserva técnica para novos casos de reposição. A entrega será realizada a partir das 7h da próxima segunda (22) por quatro aeronaves.

Boletim - O município de Campos divulgou nesta sexta-feira (19) mais 40 novos casos confirmados da Covid-19 e mais oito óbitos. Das mortes confirmadas, quatro ocorreram em junho de 2020 e outras quatro em fevereiro deste ano, sendo cinco homens e três mulheres. Com 714 óbitos confirmados, o município registrou 20.529 casos da Covid e 18.874 recuperados.