Quando a gente pensa que um filme péssimo, ao ser refilmado, não pode ficar pior que o original, vem a surpresa. Pode. Geralmente, as refilmagens não costumam superar filmes bons, mas superam filmes ruins. Foi o que aconteceu com “O ataque das sanguessugas gigantes”, filme de 1959 refilmado em 2008. Ficou pior em roteiro, elenco e atuação. Melhorou um pouco nos efeitos especiais. Mesmo assim, ficou aquém de outros filmes ruins do seu tempo. Até mesmo a sofrível Yvette Vickers foi superada em mediocridade por outra atriz. Vickers foi insuperável nos papeis de periguetes.
Já não se pode dizer o mesmo da refilmagem de “O ataque da mulher de 15 metros”, em 1993, agora com o título de “15 metros de mulher”. O novo roteiro ficou a cargo de Joseph Dougherty, várias vezes ganhador dos prêmios Emmy e Humanitas. A direção coube a Christopher Guest, que não tem nenhum título célebre a seu favor, mas é um experiente representante de Hollywood. Para o papel principal, foi convidada a controversa Daryl Hannah, que se tornou conhecida ao contracenar com o iniciante Tom Hanks em “Splash: uma sereia em minha vida”, de 1984. Por sua atuação neste filme, Hannah ganhou o prêmio Saturno de melhor atriz. Mas ela também recebeu o prêmio Framboesa de ouro em “Wall street” e em “Alto astral” como pior atriz coadjuvante. Ao longo de sua carreira, ela foi considerada uma das cem mulheres mais sexies do cinema.
A novo versão da enorme mulher ganha agora um caráter nitidamente feminista. A narrativa também se mostra mais elaborada que a do original. O começo é uma visita de turistas a um museu dedicado à heroína da cidade, Nancy Archer, por tudo que viveu. Ela era uma linda mulher, cordata, fiel, apaixonada pela marido, mas vista por ele e pelo pai não apenas como herdeira da grande fortuna da mãe, como também de seus desequilíbrios nervosos. Nancy se trata com uma psiquiatra. Ela sabe que é diferente e sabe que os outros a consideram diferente.
Por mais que o marido tenha um caso declarado com uma manicure, Nancy acredita em suas mentiras e espera viver bem com ele. O pai explora sua fortuna se aproveitando do seu desinteresse por negócios. Certo dia, dirigindo seu carro numa estrada que corta o deserto, um disco voador lhe aparece a lança um jato sobre um brilhante que ele usa no colar. A partir de então, Nancy fica mais diferente ainda. Ao narrar o fato, sua reputação de pessoa desequilibrada aumenta. Mas ela convence o marido a examinar o local em que a nave lhe apareceu. Era tudo verdade. Nancy, porém, é abduzida pela nave e, ao voltar, seu corpo está gigantesco. O marido vê nessa estatura descomunal uma oportunidade de lhe causar um ataque cardíaco que a leve à morte, pois seu coração precisa sustentar um corpo de dimensões de uma girafa.
Mas Nancy muda também por dentro. Ela propõe ao marido um relacionamento avançado. Ele recusa. Nancy procura por ele com sua amante e estimula esta a se emancipar do marido e dos homens. Desobedece ao pai. Deixa de ser uma mulher cordata. Perseguida por helicópteros, ela toca numa rede de alta tensão e parece morrer. Nesse momento, o disco voador retorna e a resgata. Ela vive, mas agora num mundo mais de acordo com sua postura feminista.
A trajetória de Daryl Hannah no cinema é singular. Alta, esguia, loura, bela e sensual, ela trabalhou ao lado de artistas famosos e sob a batuta de diretores conceituados como Brian de Palma, Ridley Scott, Oliver Stone e Quentin Tarantino. Destacou-se em alguns papeis, mas nunca foi considerada uma atriz talentosa. Sua beleza parece ter atrapalhado atuações marcantes. No seu currículo nem sempre aparece “Quinze metros de mulher”, filme em que atua por alguma necessidade financeira ou mesmo por alguma razão menor. Não haveria motivo para rejeitar esse filme, já que ela atuou em outros piores.