O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, foi preso no início da manhã nesta terça-feira (22), em sua casa, na Barra da Tijuca, e levado para a Delegacia Fazendária, na Cidade da Polícia, onde chegou por volta das 6h30. Também foram presos na mesma operação o empresário Rafael Alves; o ex-tesoureiro da primeira campanha de Crivella, Mauro Macedo; os empresários Christiano Campos e Adenor Gonçalves, e o delegado aposentado Fernando Moraes. O ex-senador Eduardo Lopes não foi encontrado no endereço no Rio de Janeiro.
Ao chegar à Cidade da Polícia, o prefeito atribuiu a sua prisão a uma perseguição política. “Perseguição política. Lutei contra o pedágio ilegal e injusto, tirei recursos do carnaval, negociei com o VLT. Foi o governo que mais atuou contra a corrupção no Rio de Janeiro”, disse, acrescentando que a sua expectativa agora é por justiça. O advogado de Crivella, Alberto Sampaio, disse que o prefeito ficou surpreso com a prisão.
As prisões foram realizadas em ação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) e da Polícia Civil e ocorreram dentro da terceira fase da Operação Hades, que apura corrupção na Prefeitura da capital fluminense, o suposto “QG da Propina”, e tem como base a delação do doleiro Sergio Mizrahy. Os alvos dos mandados de prisão são acusados de integrar uma organização criminosa voltada para as práticas dos crimes de corrupção, peculato, fraudes a licitações e lavagem de dinheiro.
Os mandados de prisão foram assinados pela desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita, da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. “Face a todo o exposto, com fundamento no artigo 312 do Código de Processo Penal, defiro em parte o pedido do Ministério Público e decreto a prisão preventiva dos denunciados Marcelo Bezerra Crivella, Rafael Ferreira Alves, Mauro Macedo, Eduardo Benedito Lopes, Christiano Borges Stockler Campos, José Fernando Moraes Alves e Adenor Gonçalves, determinando que se expeçam imediatamente os competentes mandados de prisão”, escreveu a desembargadora em seu despacho.
Também houve o cumprimento de dois mandados de busca e apreensão, em razão de determinação judicial de sequestro de bens e valores na ordem de R$ 53 milhões. Acolhendo requerimento da Polícia Civil, o Judiciário determinou, ainda, o afastamento do prefeito de seu cargo público.
De acordo com o Ministério Público, o prefeito era assessorado, na qualidade de operadores financeiros e ocupantes do primeiro escalão da organização, pelos denunciados Rafael Ferreira Alves (financiador da sua campanha eleitoral e irmão de Marcelo Ferreira Alves, ex-presidente da Riotur), Mauro Macedo (ex-tesoureiro de campanhas de Crivella) e Eduardo Benedito Lopes (suplente do prefeito no Senado e ex-presidente regional do PRB no Rio). “Os três, dentro da ideia de divisão de trabalho orquestrada por Crivella e sob a sua liderança, exerciam a função de aliciadores de empresários para participação em esquemas de corrupção, voltados para a arrecadação de vantagens indevidas mediante promessas de contrapartidas que seriam viabilizadas pelo prefeito, que concentrava em suas mãos as atribuições legais indispensáveis para a consecução do plano criminoso”.
O MP-RJ informou, ainda, que, a partir da análise das mensagens armazenadas nos telefones celulares apreendidos em poder de Rafael e de outros investigados quando da deflagração da primeira e da segunda fases da Operação Hades, foram identificados indícios de fraudes e pagamentos milionários de propina por ocasião da contratação do grupo Assim Saúde pelo Instituto de Previdência e Assistência (Previ-Rio). “Por meio do também denunciado Christiano Stockler Campos, a organização realizou contato com os executivos do grupo e deixou claro que, sem que se chegasse a um acordo de propina, a Assim teria grandes dificuldades em novas contratações com a Prefeitura do Rio de Janeiro, dado o grande prestígio e força política que tinham junto a atual administração”.
“Por sua vez, em seu relato, o colaborador João Carlos Gonçalves Regado, CEO do grupo Assim, destacou que o então presidente do conselho de administração do grupo, Aziz Chidid Neto, foi convidado pelo delegado aposentado José Fernando Moraes Alves, outro denunciado, para um almoço com integrantes da organização que poderiam lhe ajudar com as renovações dos seus contratos, entre eles o empresário Adenor Gonçalves, também denunciado por participação no esquema criminoso. Mesmo após a deflagração da segunda fase da Operação Hades, os investigados Rafael Alves, Cristiano e Adenor foram pessoalmente à sede da empresa Assim solicitar a manutenção dos pagamentos espúrios, evidenciando que a organização continuou operando normalmente mesmo ciente da investigação”, afirma o MP.
Todos os presos vão ser levados à tarde ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, para uma audiência de custódia, marcada para as 15h.
Novo prefeito
O presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Jorge Felippe (DEM), assumiu a Prefeitura, uma vez que o vice de Crivella, Fernando Mac Dowell, morreu em 2018.
Em nota, Jorge Felipe disse que a cidade do Rio de Janeiro não ficará sem comando nestes últimos dias da atual gestão, que termina no dia 31 deste mês. O parlamentar já se dirigiu para a Prefeitura, de onde, informou, “vai tomar as rédeas da situação, cumprindo o que determina a Constituição estadual”.
— Como prefeito em exercício, vou orientar a todos os secretários municipais e dirigentes de empresas e órgãos para que mantenham a máquina pública a pleno vapor. Vamos trabalhar com afinco e dedicação até o último dia. Já conversei também com o prefeito eleito Eduardo Paes. A transição vai continuar e vamos fornecer todas as informações necessárias para a nova equipe. Vamos garantir o pleno funcionamento dos serviços municipais até o dia 1º de janeiro. O Rio de Janeiro tem prefeito — afirmou.