Campos adota novas restrições
Paula Vigneron 04/12/2020 21:45 - Atualizado em 05/12/2020 09:00
Os casos de infecção por Covid-19 em Campos continuam a registrar aumento, assim como a taxa de ocupação dos leitos clínicos e de UTI destinados aos pacientes em tratamento. O município contabiliza 479 mortes e 11.429 pessoas que testaram positivo para o coronavírus. Destas, 9.514 são consideradas recuperadas. A cidade, que terá novas medidas restritivas a partir deste sábado (5), tem 1.436 casos ativos da doença e registra, em todas as redes, mais de 80% de leitos de UTI ocupados. Entre os principais pontos das novas restrições, toque de recolher entre meia-noite e 5h, redução pela metade do limite de lotação do transporte público e proibição da comercialização de bebidas alcoólicas após às 23h. Ainda nessa semana, os médicos Paulo Hirano e Geraldo Venâncio, da equipe de transição do prefeito eleito de Campos, Wladimir Garotinho (PSD), foram convidados, pelo prefeito Rafael Diniz (Cidadania) para compor o Gabinete de Crise do Enfrentamento ao Novo Coronavírus.
Até essa quinta-feira (3), de acordo com dados da secretaria municipal de Saúde, a ocupação de leitos públicos aptos ao tratamento da Covid-19 era de 81% para leitos de UTI e 56% dos leitos de clínica médica. A taxa da rede privada não foi divulgada, mas, também na quinta, o Hospital Doutor Beda registrou mais de 80% dos leitos ocupados.
Em entrevista ao Folha no Ar, da Folha FM 98,3, na última quarta-feira (2), o prefeito eleito Wladimir Garotinho afirmou que a ocupação dos leitos da rede privada é de 98%, sendo que a Unimed teria atingido os 100%. A informação, no entanto, foi negada pela assessoria da unidade hospitalar, que não se posicionou sobre a quantidade de leitos indisponíveis.
Em nota, a Unimed informou que “não procede a informação de lotação máxima em seu hospital, mas confirma que verificou um aumento no volume de atendimentos e internações de pacientes com Covid-19, no mês de novembro, em sua rede própria. E em função disso, intensificou uma série de medidas visando o enfrentamento à pandemia do coronavírus, dentre elas o aumento no número de leitos e a intensificação nos atendimentos na unidade de Apoio Especial, anexa ao Hospital Unimed”.
Nos hospitais contratualizados, a taxa de ocupação também é alarmante. Na Beneficência Portuguesa, onde está instalado o Centro de Controle e Combate ao Coronavírus, dos 19 leitos de UTI, 17 estão ocupados, o que corresponde a 89,5% do total disponível. Quanto aos clínicos, a ocupação está em 57,5%: dos 40 oferecidos, 23 já têm pacientes internados. Na Santa Casa de Misericórdia, 90% das vagas de UTI e 70% das vagas clínicas estão preenchidas. Já no Hospital Escola Álvaro Alvim, os quatro leitos de UTI para Covid estão ocupados. De 12 leitos de enfermaria, há 10 ocupados (83,3%) e dois reservados para emergências.
A direção do Hospital Plantadores de Cana informou que “a unidade hospitalar não tem leitos disponíveis para Covid porque não foi renovado o convênio para o atendimento”. O diretor do HPC Almir Quitete explicou que, recentemente, a secretaria municipal de Saúde procurou a direção do hospital para disponibilizar leitos para a Covid: “Temos 12 leitos de UTI para tratamento, porém estamos refazendo a parceira para disponibilizar as vagas”, afirmou o médico.
Devido aos dados crescentes de infecção por Covid-19, a Prefeitura de Campos decretou, nessa sexta-feira (4), mais restrições às atividades comerciais, que valem até 13 de dezembro. Além do toque de recolher de meia-noite as 5h, redução pela metade do limite de lotação do transporte público e proibição da comercialização de bebidas alcoólicas após as 23h, o novo decreto também determina as seguintes restrições:
- Fica proibida a realização de todos os tipos de eventos, tanto públicos quanto particulares, em casas de festas ou similares, em bares ou restaurantes, em condomínios ou em casas particulares;
- Fica determinada a proibição de consumo e comércio de bebidas alcoólicas em vias e espaços públicos;
- Fica proibida a utilização de música como entretenimento de forma mecânica com DJ ou similar ou ainda música ao vivo, em bares, restaurantes ou similares;
- Fica proibido o serviço em balcões, a pessoas em pé, em calçadas ou similares, em bares, restaurantes e similares;
- Fica proibido a utilização de mesas e cadeiras, bem como permanência de clientes nas calçadas, inerentes a bares, restaurantes e similares;
- O serviço de transporte coletivo de passageiros deverá reduzir em 50% a sua capacidade de lotação e operar somente com veículos em que seja possível destravar e abrir as janelas, garantindo a plena circulação de ar no seu interior, vedado o transporte de passageiros em pé; sem que haja, em hipótese alguma, redução de frota, ao contrário, em virtude da redução de lotação devem as concessionárias e permissionários se atentarem para eventual necessidade de aumento de frota, com vistas a garantir o atendimento aos passageiros.
Nélio Artiles alerta para necessidade de máscara
Para o infectologista Nélio Artiles, o aumento da taxa de infecção por Covid-19 em Campos já era esperado há semanas, quando foram iniciadas as flexibilizações e, consequentemente, a população relaxou nos cuidados. Na opinião do médico, haverá necessidade de que, nas próximas semanas, o município retroceda a fases mais restritivas devido ao crescimento da pandemia.
Nélio relatou que, há cerca de três semanas, começou o crescimento da ocupação de leitos clínicos e de UTI para Covid, principalmente na rede privada. Em seguida, as vagas também ficaram mais escassas na rede pública. Para o profissional, os dados apontam que, no início da pandemia, as pessoas que não poderiam se ausentar das atividades profissionais continuaram expostas, mas a parte da população com melhor condição socioeconômica pôde se resguardar.
— Agora, esse pessoal se soltou, está mais liberado. Os jovens devem começar a refletir mais. São muitos encontros, baladas, reuniões e, praticamente, abolindo o uso de máscara e distanciamento necessário. Quando usam máscara, usam errado; usam no queixo, no pescoço. A gente sabe muito que é preciso mudar de comportamento e atitude. Tem muita gente para ser contaminada, e uma dessas pessoas que vai ter aguardar na fila, por não ter vaga, pode ser seu pai, sua mãe, seu tio. Parece que a doença só existe quando atinge alguém próximo — criticou.
No dia 29, o infectologista também enfrentou transtornos devido à crescente ocupação dos leitos na rede pública. Ele contou ter tentado a transferência de um paciente do Hospital Ferreira Machado (HFM) para o Centro de Controle e Combate ao Coronavírus, mas sem êxito porque estava lotado:
— Campos é reflexo do que acontece no Rio de Janeiro. Foi assim no início da pandemia. O Rio de Janeiro está em uma situação que beira o caos. A taxa de ocupação é de 98% de UTI. Não tem vaga. Acho que o munícipio está passando por um momento crítico.

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