Matheus Berriel
24/12/2020 14:59 - Atualizado em 26/12/2020 16:24
Atualmente em processo de tombamento pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), o Mosteiro de São Bento, no distrito de Mussurepe, em Campos, será material de estudo do arquiteto Humberto Neto das Chagas. Ele acaba de ser aprovado em primeiro lugar no processo seletivo para doutorado em arquitetura e urbanismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Niterói, tendo obtido 99,00 como nota do projeto de tese.
— O projeto de pesquisa tem como foco as alvenarias do Mosteiro de São Bento de Campos dos Goytacazes, pelo viés da sua história. Saber qual a sua origem e também as influências, como outros mosteiros brasileiros ou mesmo fora do Brasil. Busca discutir ainda a existência de projeto da referida edificação com sua datação mais exata, entre fins do século XVII e início do século XVIII. Apurar qual teria sido a sua influência para a formação da indústria ceramista local; a questão da formação geológica, semelhanças com outros mosteiros beneditinos ou mesmo de outras ordens religiosas — explicou o arquiteto.
Em 2016, após contrato firmado com a direção do Mosteiro do Rio de Janeiro, a empresa de arquitetura comandada por Humberto desenvolveu o projeto de restauração do Mosteiro de São Bento. Através de pesquisas bibliográficas e prospecções no local, foram descobertas fundações em alvenarias com 1,80m de profundidade, entre outras valiosas informações.
— Juntamente com a colega arquiteta Raíssa Rangel Damiano, escrevemos artigo científico já apresentado em congressos nacional e internacional, respectivamente, em Belo Horizonte e Salvador. Ainda deverá ser investigada a ocorrência de variado número de seções dos tijolos ali encontrados, investigando suas datações e/ou origens, influências etc — disse o pesquisador.
No doutorado, Humberto terá orientação do professor José Pessôa, membro do grupo de pesquisa da história da construção luso-brasileira, formado por pesquisadores de todo o mundo, principalmente brasileiros e portugueses. Além de ter escrito inúmeros artigos e livros, José Pessôa já atuou como superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Rio de Janeiro. Três congressos internacionais voltados para a temática foram realizados pelo citado grupo, sendo dois no Brasil e um em Portugal. Humberto Neto das Chagas participou de todos, inclusive apresentando trabalhos.
No mês de julho, o diretor geral do Inepac, Cláudio Prado de Melo, chegou a divulgar que Humberto havia sido escolhido para chefiar o escritório técnico regional do órgão no Norte Fluminense, que ficará sediado no Museu Histórico de Campos. Contudo, um imbróglio segue adiando a instalação do escritório, e a nomeação oficial do arquiteto campista ainda não foi efetuada.
Em nota, a Prefeitura de Campos disse que todos os trâmites foram concluídos, segundo a Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOl). “Cabe agora ao Estado os próximos passos para a efetiva instalação”, informou.
O Inepac, por sua vez, alegou ter havido um retardo na conclusão do projeto do escritório técnico regional em Campos devido à pandemia da Covid-19. “Porém, segue em andamento, aguardando a publicação no Diário Oficial do Estado. O Inepac está tomando as providências necessárias para formação da equipe e nomeação da chefia deste escritório regional, o que deverá ser concluído em breve”, relatou o órgão.
Ainda segundo o Inepac, também depende da publicação no Diário Oficial do Estado o tombamento do Mosteiro de São Bento, já com processo de pesquisa concluído.
— Vejo como salutar a medida de tombamento de uma edificação desta envergadura, que, como tenho dito, pode ser a mais antiga ainda de pé em nossa região. Isso, creio que eu possa vir a afirmar com certeza durante a pesquisa que iniciaremos brevemente através do doutorado — comentou Humberto Neto das Chagas. — Quanto aos tombamentos de maneira geral, vejo que precisamos de uma análise bem mais aprofundada. Temos muitos problemas a serem resolvidos por todas as esferas do poder público executivo — pontuou.