Ethmar Filho: De braços curtos
Ethmar Filho 04/12/2020 14:07 - Atualizado em 04/12/2020 14:09
Considerado o jovem maestro mais talentoso do século XXI, o líder da Orquestra Filarmônica de Los Angeles, Gustavo Dudamel, é uma inspiração para todos os jovens venezuelanos, brasileiros e do mundo inteiro. Gustavo Dudamel nasceu em Barquisimeto, uma comunidade pobre da Venezuela, rica musicalmente, em 1981. O pai tocava trombone numa banda de salsa, mas, como Gustavo tinha braços curtos, escolheu o violino como instrumento, que começou a tocar aos quatro anos em “El Sistema” (O Sistema), um programa para jovens na Venezuela que ensina crianças carentes a tocar um instrumento, o que transformou sua paixão pela música em um estilo de vida.
Iniciou os estudos de regência em 1996, primeiro com Rodolfo Saglimbeni, e depois com José Antonio Abreu, tornando-se um de seus grandes pupilos. Dudamel e Abreu ainda têm uma relação próxima, pois ele considera Abreu seu mentor. Aos 18 anos, foi nomeado regente da Orquestra Juvenil Nacional da Venezuela e tornou-se popular por suas composições. Também foi designado maestro da ex-Orquestra Juvenil Simón Bolívar, uma orquestra sinfônica considerada dupla, com mais de duzentos componentes. Essa orquestra, que contém músicos de 18 a 28 anos, viajou pelo mundo sob a liderança de Dudamel e fez várias gravações na Deutsche Grammophon, a gravadora alemã, de música clássica, mais famosa do mundo.
Dudamel debutou com diversas orquestras em 2005, incluindo a Orquestra Philharmonia, Orquestra Filarmônica de Israel e Orquestra Filarmônica de Los Angeles, e assinou contrato com a Deutsche Grammophon por um longo tempo. Ainda em 2005, debutou na Orquestra Sinfónica de Gotemburgo para o BBC Proms, de última hora, após indisponibilidade de Neeme Järvi. Sua estreia nos Estados Unidos aconteceu com a filarmónica de Los Angeles, no Hollywood Bowl, em 13 de setembro de 2005, num programa contendo “La Noche de los Mayas”, de Silvestre Revueltas e a “Sinfonia Nº 5” de Tchaikovsky. Em 2006, Dudamel foi nomeado condutor principal da orquestra de Gotemburgo. Ainda assim, manteve seu cargo na orquestra venezuelana, até que o governo do país caribenho se tornasse uma ditadura de esquerda, quando foi impedido de retornar ao país sob pena de ser preso e, quem sabe, “desaparecido”.
Em novembro de 2006, debutou no La Scala, em Milão, com Don Giovanni. Em abril de 2007, durante participação na Orquestra Sinfônica de Chicago, Dudamel foi nomeado diretor musical da filarmónica de Los Angeles para a temporada 2009-2010, sucedendo Esa-Pekka Salonen. Seu contrato começou em setembro de 2009, valendo por cinco anos. Já em setembro do mesmo ano, conduziu a Orquestra Filarmônica de Viena pela primeira vez no Festival Lucerne. Assumiu Gotemburgo posteriormente, em 2007, e seu contrato seria válido até 2012. Em março de 2008, debutou com a Orquestra Sinfônica de São Francisco.
Dudamel é apresentado no documentário “Tocar y Luchar”, que descreve e analisa um dos empreendimentos culturais mais famosos da América Latina, denominado “El Sistema”. Outra importante citação dele na mídia foi no “60 Minutes”, um programa emblemático norte-americano, em fevereiro de 2008, sob título “Gustavo o Grande”. Casou-se com Eloísa Maturén em 2006, em Caracas. A Orquestra Juvenil Simón Bolívar também é resultado do “El Sistema”, também conhecido como o venezuelano Sistema de Orquestras Juvenis, programa de elevação social da Venezuela por meio da música clássica. Fundado por Abreu em 1975, “El Sistema” não é um programa tradicional de música, mas um projeto artístico de assistência social. Em um país onde a pobreza costuma levar os jovens à violência, às drogas e às gangues, a música é oferecida como alternativa, tirando as crianças das ruas e incentivando-as a despertar seus próprios talentos. Com o El Sistema, os jovens podem encontrar um lugar para desenvolver seu talento e criar. Este programa, composto por cerca de 300 escolas infantis de música, ou núcleos, se espalhou até pela Amazônia venezuelana, área acessível apenas de barco. O programa abrangia todas as crianças interessadas em aprender música, inclusive as com necessidades especiais. A maioria deles vinha de comunidades mais pobres, mas os núcleos também atraiam crianças de classe alta que desejavam uma educação musical.
A promessa de música, relacionada ao lema “Tocar e Lutar”, retrata a história desse projeto e de como esse sistema de orquestras produziu alguns dos músicos mais renomados do mundo, incluindo Dudamel e o mais jovem músico da filarmônica de Berlim, Edicson Ruiz. Gustavo Dudamel conquistou diversos prêmios, tornando-se um dos maestros mais condecorados de sua geração. Em 2011, por exemplo, foi nomeado Artista Gramofone do Ano, e, em 2012, ganhou o prêmio Grammy por dirigir a 4ª Sinfonia de Brahms, interpretada pela Los Angeles Philharmonic. Mas, apesar de todas essas conquistas, ele ainda se lembra de como chegou ao sucesso, e o segredo, diz, é ter paixão e disciplina. Esses são os conceitos que ele tenta transmitir para sua orquestra quando os membros dela estão ensaiando. “Um bom maestro tem que saber o que quer da orquestra e como conseguir”.
O método de Dudamel não é intelectual, mas emocional. Ele fala sobre música em termos de sentimentos, para que os músicos possam entender o que se espera que eles transmitam ao público a cada sinfonia. Deborah Borda, a presidente da Filarmônica de Los Angeles, disse uma vez que “Gustavo tem a habilidade de comunicar o que é apaixonado e vital sobre a música de uma maneira muito do século XXI”. Atualmente, Dudamel é o maestro e diretor musical da Filarmônica de Los Angeles e da Orquestra Sinfônica de Gotemburgo. Ele também rege algumas das maiores orquestras do mundo a cada temporada, mas não pode voltar ao país onde nasceu e cresceu.
Errata do artigo passado: por um erro meu de digitação, saiu no artigo passado que Astor Piazzolla, grande músico e compositor argentino, havia morrido em 1990. Piazzola nos deixou, na verdade, em 1992. Pelo que peço desculpas aos leitores e agradeço a correção do meu irmãozinho Cristiano Simões.
Maestro Ethmar Filho – Mestre em Cognição e Linguagem.

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