“Todos nós, que tivemos o privilégio de frequentar o Liceu, carregamos nos ombros uma grande responsabilidade de honrar as tradições desta escola, que é o berço de uma civilização. Todo aquele que passou pelo Liceu traz a nobreza de espírito e a responsabilidade de levar um legado grandioso de amor à terra que nasceu e à pátria. O Liceu tem uma chama sagrada. É um espírito próprio que, por sua origem, guarda a história da própria cidade”. A afirmação é do desembargador José Motta Filho, estudante do Liceu de Humanidade de Campos de 1953 e 1959. Fundada em 22 de novembro de 1980, a instituição de ensino completa 140 anos neste domingo.
Apesar da pandemia da Covid-19, que motivou a paralisação das aulas e também impossibilitou uma programação maior, a data não passará em branco. Uma missa de ação de graças está marcada para o próprio domingo, às 17h, na Capela Salesiana, com transmissão via página de Facebook do Colégio Salesiano. Foi iniciado na quinta-feira (19) e segue até a próxima quarta (25) um cronograma de homenagens virtuais ao Liceu, com publicações em perfis pessoais nas redes sociais. Na segunda (25), haverá soltura de bolas brancas e homenagem surpresa a uma docente da escola.
— No domingo, a missa será transmitida via Facebook, e também estamos preparando essa homenagem surpresa a uma professora do Liceu, simbólica, tomando as medidas de segurança em virtude da pandemia. E montamos esse cronograma de homenagens virtuais, porque não poderíamos deixar de celebrar esta data. São 140 anos de uma instituição tão importante — disse a diretora do Liceu, Margarete Monteiro Pinto.
Fundado por meio do decreto provincial 2.503, o Liceu de Humanidades de Campos substituiu o antigo Liceu Provincial de Campos, existente de 1847 a 1858. Após funcionar inicialmente em instalações provisórias, passou a ocupar o Solar do Barão da Lagoa Dourada em 1884, e lá se encontra até os dias atuais. Tombado desde 1988 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), o palacete tem estilo neoclássico, com arquitetura imponente.
Considerado uma escola de referência na qualidade do ensino, o Liceu formou profissionais de sucesso nas mais diversas áreas de atuação que ainda hoje se orgulham de serem “liceístas”.
— Parece que foi integrado ao nosso ser. Frequentamos o Liceu para sempre, não foi apenas uma passagem repentina. Isso pertence à gente. Não existe um ex-liceísta. Somos eternos liceístas — reforçou o desembargador José Motta Filho.
Diretora-presidente do Grupo Folha, a empresária Diva Abreu Barbosa estudou e atuou como professora no Liceu. No último domingo (15), ela visitou a escola, por ocasião das eleições municipais, e não escondeu a satisfação em recordar momentos ali vividos.
— O Liceu é um patrimônio. Fez parte da minha vida por muito tempo, como estudante, por sete anos, e depois como professora durante muitos outros. É um templo. Fiquei muito feliz, porque eu voto no Liceu e achei o prédio muito bem cuidado nos espaços que visitei. Geralmente, prédios públicos são desprezados. Em Campos, a gente tem tantos prédios históricos em estado lastimável, uns particulares e outros incorporados ao patrimônio público. Mas achei o Liceu bem cuidado, me emocionei com o zelo que estão tendo — afirmou Diva. — Ser liceísta é igual a ser Flamengo: quem não é, não sabe o que perdeu. A gente sai do Liceu, mas traz a sua alma — enfatizou.
Diretora do Arquivo Público Municipal, Rafaela Machado, comentou a importância não só da unidade escolar em si, mas também do seu acervo documental:
— O Liceu guarda o simbolismo de uma Campos que se pretendia rumo ao futuro e ao progresso. E também é símbolo de uma geração de alunos e professores orgulhosos das suas passagens pela instituição. Assim tem que ser. Fica o pedido para que o arquivo escolar do Liceu seja reconhecido como patrimônio, tanto quanto o legado da edificação e da própria instituição. Sua história e sua memória também estão guardadas naqueles velhos documentos que resistem à ação do tempo e ao esquecimento da sociedade.