A Prefeitura de Campos ainda não descartou a possibilidade de realizar um evento on-line que represente a 11ª Bienal do Livro, que não acontecerá de forma física pela primeira vez em ano previsto desde 2000, em virtude da pandemia da Covid-19. A Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL) informou ter um anteprojeto elaborado, com programação totalmente virtual e viabilizada por parcerias, com previsão de acontecer em dezembro. Porém, a confirmação dependeria de liberação judicial, devido ao período eleitoral.
Em nota, a Prefeitura citou a suspensão temporária de todos os eventos seguindo orientação das autoridades de saúde. “Um evento como este, de forma presencial, não está previsto como possível de ser realizado nesta fase de enfrentamento e combate ao coronavírus. O município segue o plano de retomada das atividades econômicas e sociais com avaliação semanal para avanço dos níveis previstos no programa”, diz a nota, complementada com a possibilidade do evento virtual no próximo mês: “Devido ao atual período, o município aguarda autorização da Justiça Eleitoral para desenvolvê-lo”.
Para o presidente do Conselho Municipal de Cultura (Comcultura), o professor e pesquisador Marcelo Sampaio, existe uma importância simbólica de que a Bienal aconteça, ainda que apenas na internet, com lives temáticas, leituras e bate-papos on-line. “O referido evento é um dos raríssimos que nunca deixaram de acontecer, independente de quem estivesse comandando o Executivo e administrando a Cultura municipal”, frisou.
Entretanto, foi apontada por Marcelo uma falta de planejamento prévio para que a Bienal on-line fosse anteriormente garantida.
— Talvez o termo desprestígio seja forte demais. Mas, que o poder público demorou muito a pensar em realizar virtualmente, não existe a menor dúvida. Na minha opinião, assim que foi decretada a quarentena em Campos, os gestores municipais da área cultural deveriam ter começado a adaptar o que já estava sendo planejado para a Bienal presencial para um evento virtual. A atuação do Comcultura, com suas reuniões virtuais, é um dos muitos exemplos de como seria possível realizar a Bienal virtualmente — enfatizou.
A médica e escritora Vanda Terezinha Vasconcelos, que preside a Academia Campista de Letras (ACL), aventou a possibilidade de a Prefeitura adiar a Bienal para o final do primeiro semestre ou início do segundo de 2021, mantendo o formato físico após o possível lançamento e o avanço da vacina contra a Covid-19. Uma das suas preocupações quanto à Bienal virtual em 2020 está relacionada ao curto tempo para organização.
— Na minha visão pessoal, e não falo pelas instituições, este ano não ocorrerá a Bienal. Acho improvável acontecer. Ou pelo menos acontecer de forma que não decaia. Todas as Bienais, de forma geral, têm sido bem-sucedidas. Aí, de repente, fazer de qualquer jeito, eu acho melhor não acontecer do que acontecer aos trancos e barrancos — disse a presidente da ACL.
Na opinião de Vanda Terezinha, entidades ligadas à cultura campista podem atuar de forma conjunta visando a realização de um evento on-line, mas não da Bienal propriamente dita, pela incapacidade de fazer algo à altura a menos de dois meses do fim do ano e por entender que a iniciativa deve partir da Prefeitura.
— As entidades, mesmo que virtualmente, têm tentado conversas com as demais instituições. Nenhum canal está fechado, as conversas estão se dando. E também o poder público, pois a Bienal é uma marca registrada da Prefeitura de Campos, que a promove — afirmou Vanda. — Ainda não chegamos a um consenso, pelo menos até onde eu tenha conhecimento. Pelo visto, a Prefeitura também não tem, justamente por ser um ano eleitoral. E as instituições privadas não podem assumir alguma coisa como sendo a Bienal. Eu acho temerário que só aconteça por acontecer, sem estarmos devidamente preparados, querendo fazer algo em só um mês. Mas, as conversas continuam — pontuou.
Caso a Bienal seja adiada para 2021, coincidirá com a quarta edição do Festival Doces Palavras (FDP!), realizado nos anos ímpares exatamente para haver revezamento com as bienais.
Em 2018, mais de 50 mil pessoas passaram pelo campus Centro do Instituto Federal Fluminense (IFF) durante a 10ª Bienal do Livro de Campos, segundo dados da Prefeitura. Durante os seis dias de evento, de 20 a 25 de novembro, foram lançados 32 livros, sendo 22 de autores campistas, e vendidos 70% do material disponibilizado nos estandes das editoras. A programação incluiu mais de 100 atividades, entre mesas de debate, palestras, oficinas, esquetes teatrais, poesias e shows musicais.