Em se tratando de ficções científicas gosmentas, convém evitar comentários sobre “A coisa”, filme ruim bastante desinteressante, para “Seres rastejantes”, um filme dos Estados Unidos dirigido por James Gunn e lançado em 2006. Reúna o ingênuo “A bolha”, de 1958, “A coisa”, de 1985, “A bolha assassina”, de 1958, e misture bem. Jogue um filme de zumbis. Pode ser qualquer um de zumbi por contágio. Acrescente um filme sobre computador cuja inteligência absorve as inteligências humanas individuais. Misture bem e jogue a massa numa cidadezinha do interior dos Estados Unidos. Pode misturar à pasta final um filme erótico pegajoso. O resultado é “Seres rastejantes”, considerado um dos cinco filmes mais repugnantes da história do cinema. Trata-se de um filme óbvio, mas comentável.
A infalível cidade do interior tem um prefeito, um xerife e uma população tipicamente norte-americana, ou seja, meio imbecilizada. O grande atrativo dela é a caça anual do alce. Exatamente numa floresta da periferia, cai um corpo celeste encontrado por um homem de aparência truculenta e sua amante. Da cápsula sai um ovo, e do ovo, um membro com uma ponta perfurante. Ela fisga a barriga do homem e joga nela algo ruim. Ele nunca mais será o mesmo.
Uma carnivoria exacerbada toma conta do seu ser. Ele come carne crua comprada em supermercado, o cachorro da sua casa, ratos, gambás, lobos, vacas, cujos restos guarda no porão da sua casa até sua esposa descobrir um dia, completamente enojada. Enquanto isso, seu marido vai à casa da amante e a fecunda com dois tentáculos gosmentos que penetram em seu ventre, como dois pênis a mergulhar numa vagina aberta à força. A mulher está grávida de lesmas espaciais e é levada para um galpão, onde é alimentada com carne deteriorada e engorda como um balão.
Os braços do homem se transformaram em tentáculos capazes de matar um boi e de cortar uma pessoa ao meio. Sendo encontrada, a hospedeira explode e as lesmas lúbricas se espalham pela cidade, entrando nas pessoas pela boca. Uma cena é bastante singular: uma moça toma banho em uma banheira. Sensualmente, ela fecha a torneira com o pé, enquanto as lesmas avançam. A nudez convida as lesmas fálicas a penetrar seu corpo pela vagina, tal qual um besouro fez com Rosa em famoso conto de Mário de Andrade. Mas ela tenta alcançar seu interior pela boca, também de forma lasciva. As pessoas atacadas pelas lesmas se transformam em zumbis sob o comando do homem truculento, agora uma mistura de polvo escorregadio com uma bolha. O xerife consegue explodi-la. É gosma para todos os lados. Ele e duas moças se salvam. Os habitantes da cidade, zumbis dominados pelo homem hospedeiro, morrem.
Trata-se de um roteiro sofrível, mas a filmagem é boa e conta com bons efeitos visuais. Algo que não existia no tempo de “A bolha”. Os exageros de “Seres rastejantes” tiram do filme qualquer caráter de drama. Diante dos habitantes mortos, os três sobreviventes não manifestam qualquer pesar. O filme não poupa crianças de colo, pré-adolescentes e pessoas do bem. O extermínio tem lances de comédia.
Mas, sobre criaturas gosmentas, ainda há um filme a ser comentado.