Cinema: As faces de Chico Buarque
Felipe Fernandes - Atualizado em 17/11/2020 14:56
“Chico: Artista brasileiro” — Passear pela carreira de Chico Buarque é passear por um pouco da história de nosso país. Um trecho terrível, mas que talvez por isso seja tão rico culturalmente. Atualmente, muito dessa época tem sido relembrada e comentada de forma errônea e até mesmo irresponsável, principalmente nas redes sociais. Ouvir um pouco de Chico e conhecer sua trajetória talvez traga um pouco de conhecimento, em meio a tanta desinformação.
Mais que rever a carreira de Chico, o novo trabalho do documentarista Miguel Faria Jr. (“Vinícius”) traz um novo olhar para a persona de Chico. Amigo pessoal de longa data, Miguel se utiliza dessa intimidade para trazer um retrato único do hoje reservado artista. Abordando os pontos principais da carreira do músico, Miguel Faria é inteligente em montar uma estrutura que mescla trechos da trajetória com um depoimento revelador, que revela muito do processo de criação e de questões íntimas profundas do artista. Tudo mesclado com algumas interpretações de convidados exclusivamente executadas para o longa.
Trabalhando com um incrível acervo de imagens antigas, o longa retrata com eficiência os acontecimentos políticos do nosso país que tanto custaram a carreira de Chico, e por que não dizer a moldaram de certa forma (para o bem ou para o mal).
Se utilizando de depoimentos antigos e atuais, o longa consegue expressar muito da personalidade de Chico. E se esses depoimentos e até mesmo algumas entrevistas antigas são emblemáticos e mostram o cantor e compositor como um homem de ideias e conceitos à frente do seu tempo, é o “bate-papo” com Miguel Faria que mais revela ao expectador sobre as diferentes facetas do sempre risonho e bem-humorado Chico.
As cuidadosas interpretações são muito bem coreografadas, embelezadas por coloridos painéis que, com movimentos sutis, dão vida e movimento ao cenário. Contando, com um grupo de artistas bem ecléticos, as diferentes interpretações dão o tom da riqueza da carreira de Chico. O grande destaque fica para a interpretação de Laila Garin para a música “Uma canção desnaturada”.
Ao final, fica a sensação de querermos passar mais várias horas compartilhando daquelas intimidades, das histórias, do bom humor de Chico. É impressionante notar como, mesmo após tanto sucesso e sendo quem é, ele ainda demonstra simplicidade e uma leitura de mundo singular. Suas músicas sempre deixaram claro que, apesar de nascido e criado em meio à burguesia, ele sempre conseguiu ver além das classes sociais, contando muito do Brasil como poucos fizeram. E fica claro em suas falas que essa visão ainda permanece.
Chico Buarque sempre foi um grande contador de histórias. Além da sua literatura, algumas das suas músicas contam histórias incríveis, e muitas vezes de forma muito cinematográfica. É possível dizer que em sua narrativa há elementos diretos do cinema.
“Chico: artista brasileiro” é um belo retrato e uma grande homenagem a um dos maiores artistas brasileiros. Fico feliz que um filme dessa qualidade possa ter sido realizado com seu protagonista ainda em vida. O Chico merece.

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