Nunca se soube que uma pedra tenha transmitido alguma doença contagiosa para o ser humano ou para qualquer animal através de um vetor. Sabemos que agentes infecciosos podem viver na água e veicular doenças contagiosas, mas a água em si não pode ser contaminada em sua estrutura molecular. Nem ela nem a pedra podem morrer por alguma doença transmissível.
Nos organismos, átomos e moléculas adquirem outra estrutura e dinâmica. No âmbito do orgânico, as zoonoses não são apenas doenças infecciosas transmitidas pelos animais aos humanos, mas também destes para os animais. O ser humano é igualmente um animal.
Existem animais com resistência aos micróbios causadores de doenças infecciosas e animais que também morrem com eles. A peste bubônica é transmitida por um bacilo que se desenvolve no organismo de algum roedor e é transmitido ao humano pela pulga. Esta pica o roedor e o humano. Os dois animais morrem. O vírus da febre amarela tanto mata o humano quanto macacos, o que deixa bem claro serem homens e símios integrantes da ordem dos primatas.
A gripe aviária é causada por um vírus que se hospeda e se desenvolve em aves, geralmente em confinamento e vivendo em contato muito próximo, como nas granjas de postura e abate. O vírus causador da gripe suína começa em porcos também criados em confinamento para abate, podendo provocar neles problemas respiratórios. Passando para humanos, ele pode levar à morte.
Quanto ao vírus Sars-Cov-2, ou Covid-19, a maior parte dos estudos vem mostrando que ele habitava algum animal que lhe resistia (ou não), passando para o humano e causando a atual pandemia. Os vírus apresentam grande capacidade de mutação. Eles podem mudar ao passar de um animal a outro.
As acusações de que o vírus foi produzido num laboratório chinês carecem de evidências. Elas funcionam mais em campanhas políticas da ala reacionária. Mas não resta dúvida de que o consumo de animais silvestres no oriente é muito grande. O cardápio inclui morcegos, pangolins e cães. O vírus Sars-Cov-2 deve ter passado à humanidade e se adaptado ao organismo humano por meio da ingestão de animais silvestres, de preferência. Adaptando-se ao humano, ele rapidamente se alastrou.
A confirmação de que a vida é una está sendo confirmada pelo coronavírus. Um vírus está presente num animal que talvez tenha resistência a ele. Caçado, morto, preparado e comido, o vírus que vivia nele se transfere para o humano que o ingeriu e sofre mutação. Pelo ar, ele passa a outro humano, e deste a outro. Assim sucessivamente, por conta das concentrações humanas das grandes cidades. Por avião, principalmente, viajantes contaminados transportam o vírus para as principais cidades do mundo. Nelas, o vírus encontra terreno fértil entre comunidades pobres e se interioriza viajando de automóvel, ônibus, trem etc.
Não contente, o vírus se transfere para animais domésticos, como cães e gatos. Os casos já registrados mostram que esses animais enfrentam melhor o vírus. Nos zoológicos, há casos de tigres e leões contaminados por seus tratadores. Parece que apenas um felino morreu vitimado pela doença. Mas pode acontecer de o vírus sofrer mutações no animal e voltar ao humano, inviabilizando as vacinas que estão em processo de produção com o fim criar anticorpos aos humanos. Não se pode mais pensar apenas no animal humano. É preciso pensar em todos os seres vivos, pois estamos unidos a eles.
Já apareceu um exemplar de marta na Holanda contaminada pelo vírus, que sofreu mutação. Agora, o caso mais dramático ocorre na Dinamarca: 17 milhões de exemplares de vison serão abatidos por terem contraído o vírus, que, em novo organismo, sofreu mutações. Se o vírus mutante contaminar o humano, as vacinas em andamento de produção não valerão mais para criar anticorpos nos humanos.
Um dos grandes ensinamentos da atual pandemia é que não podemos mais criar animais em cativeiro para algum tipo de consumo. Bois, porcos e aves confinados para fornecer carne, couro e ovos. O perigo que este tipo de criação e de consumo representa é tornar-se uma fonte de microrganismos contaminantes para os humanos. O futuro da humanidade não está na carne, mas nos vegetais.
Por outro lado, não tem mais cabimento, nos dias de hoje, em plena crise ambiental agravada por uma virose pandêmica, criar animais em larga escala para a indústria de cosméticos ou para a produção de casacos de luxo a serem usados por mulheres milionárias. A supressão progressiva dos hábitos carnívoros e faunicidas representa mais segurança para os humanos e mais respeito pelos animais, criaturas fundamentais para a nossa existência.