A 18ª edição do projeto “Leituras Santas”, nesta semana, será especial: dedicada à dramaturgia infantil, apresentando o clássico “João e Maria”, uma adaptação da Maria Clara Machado, referência do teatro. A live contará com participação dos atores Bernardo Botelho, Luiza Imbelone, Rôsangela Queiroz, Almir Junior, Luciana Rossi e João Pedro Velasco. Som: Nathan Silva. Fotografia: Alexandre Ferram. Excepcionalmente, esta edição ocorrerá no dia 7, sábado, às 17h, no Instagram @santapacienciacasacriativa.
Maria Clara Machado é a grande idealizadora do Tablado, à frente do qual esteve por cinco décadas. Professora, diretora e dramaturga, escreveu e encenou dezenas de peças infantis de sucesso, deixando um legado precioso para as artes cênicas do país.
FAMÍLIA — Nascida em Belo Horizonte no ano de 1921, Maria Clara veio com a família para o Rio de Janeiro aos quatro anos. Seus pais, Aracy e Aníbal, tiveram cinco filhas: Maria Celina, Maria Clara, Maria Luiza, Maria Ana e Maria Ethel.
Maria Clara guardava duas imagens da infância: a natureza exuberante da fazenda de seu querido avô paterno, Vírgilio, e o luto pela morte prematura de sua mãe, aos 28 anos, grávida do sexto filho, que também faleceu. (Maria Clara tinha apenas nove anos.)
De uma nova união de Aníbal nasceu uma quinta irmã, Aracy — que se tornaria, no futuro, professora do Tablado, e cuja filha, Cacá Mourthé, viria a se tornar a aprendiz-sucessora de Maria Clara. O filho de Aracy, irmão de Cacá, emprestou seu nome ao menino mais famoso do repertório da tia Maria Clara: Vicente, aquele que não desiste de seu sonho de, um dia, encontrar o maravilhoso “cavalinho azul”.
Para Maria Clara Machado, a família era a base para a realização de seus sonhos. O Tablado se transformou nessa grande família.
DOMINGUEIRAS DE ANÍBAL MACHADO — Aníbal Machado, pai de Maria Clara, era escritor, crítico literário e agitador cultural. Promovia um encontro dominical na residência da família, à rua Visconde de Pirajá, 487, Ipanema. Grandes nomes da elite cultural de meados do século XX passaram por lá.
Foi nesse ambiente alegre e efervescente que Clara cresceu, testemunha de bate-papos entre escritores, intelectuais e artistas do naipe de Albert Camus, Pablo Neruda, Murilo Mendes, Dante Milano, Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, João Cabral de Mello Neto, Adalgisa Nery, Di Cavalcanti, Goeldi, Guignard, Portinari, Fayga Ostrower, Glauco Rodrigues, Anna Letycia, Tonia Carrero e muitos mais.
Nesses encontros, Maria Clara se abastecia de afeto e cultura — e, de quebra, se enturmava com todos os futuros fundadores do Tablado.
BANDEIRANTES E A IGREJA CATÓLICA — As experiências bandeirantes levaram Maria Clara Machado por caminhos que a aproximaram do teatro. Através do bandeirantismo, reviveu as aventuras pelo interior do Brasil, natureza que lhe marcara a infância. A ligação com a Igreja Católica aproximou-a das senhoras do Patronato Operário da Gávea. Trabalhando também no Instituto Pestalozzi, começou a escrever histórias para o teatrinho de bonecos.
O TEATRO — Em 1950, Maria Clara Machado conseguiu uma bolsa para estudar teatro em Paris. Permaneceu por um ano na capital francesa, chegando a estudar improvisação com o grande mestre Charles Dullin.
Ao voltar para o Brasil, cheia de entusiasmo e vontade de estar em cena, Maria Clara se deu conta de que não podia esperar por convites. Numa sala do Patronato, que ela utilizava para entreter crianças da região, havia um palco. Vinda de Paris, olhou para esse palco com outros olhos. Em 1951, juntou-se a alguns jovens amigos e fundaram o grupo de Teatro Amador O Tablado.
MESTRE DA IMPROVISAÇÃO — Quando voltou de Paris, além de se dedicar ao Tablado, Maria Clara passou a ensinar técnicas de improvisação no Conservatório de Teatro (hoje Unirio), convidada por Sadi Cabral. A professora Maria Clara Machado tinha nascido. A lendária atriz Dulcina de Moraes, diretora de uma grande escola de teatro, também a convidou para lecionar em sua escola, muito importante na época.
Sua devoção, sobre todas as outras, era o Tablado. De 1964 a 2000, Maria Clara foi diretora artística e professora da instituição. Teve turmas de todos os tipos, desde as voltadas para adolescentes às exclusivas para a terceira idade. Durante todos esses anos, formou centenas de atores, professores e artistas de teatro.
A DRAMATURGA — Maria Clara Machado era atriz, professora e diretora. No entanto, seu reconhecimento nacional e internacional veio como dramaturga infantil. Crianças do mundo inteiro conhecem o fantasminha Pluft, aquele que tinha medo de gente, e a bruxinha Angela, aquela que era boa.
Entre dezenas de peças de sua autoria, destacam-se “O Cavalinho Azul”, “A Bruxinha que era Boa”, “A Menina e o Vento”, “O Rapto das Cebolinhas”, “Tribobó City e”, claro, “Pluft, o Fantasminha” — clássico da dramaturgia infantil e texto mais importante do seu repertório.
A LITERATURA E O TEATRO — Clara Machado dedicou sua vida e sua genialidade ao Tablado. O resultado desse sacerdócio é a qualidade transcendente e a continuidade vibrante do seu legado.
Maria Clara permanece sempre viva nos espetáculos do Tablado, nos cursos livres e toda vez que algum pequeno leitor folheia seus livros. Suas histórias encantaram gerações e gerações de crianças que um dia vieram ao Tablado acompanhados de seus pais e agora, adultos e atentos aos ciclos da vida, trazem seus filhos e netos.