Covid: 2ª onda pode ser em 2021
Paula Vigneron 30/10/2020 16:40 - Atualizado em 02/11/2020 09:05
De acordo com Nélio Artiles, não é hora de relaxar no isolamento social e nos cuidados
De acordo com Nélio Artiles, não é hora de relaxar no isolamento social e nos cuidados / Folha da Manhã
Nas últimas semanas, o mundo tem acompanhado os impactos da segunda onda de Covid-19 em países do continente europeu, que apresentaram grande aumento no número de casos e mortos. Desde a alta reincidência da doença em parte da Europa, a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem alertado toda a população sobre os recordes recém-atingidos. Somente na última terça-feira (27), foram registrados, em todos os continentes, 516.898 novas infecções e 7.723 mortes em apenas 24 horas. No Brasil, os dados têm apresentado reduções ainda tímidas, o que indica a permanência da primeira onda. A situação se repete em Campos, que lidera o ranking da região Norte Fluminense em quantidade de mortos. O município registrou, até essa sexta (29), 8.648 casos confirmados de infecção pelo vírus, com 426 mortes e 7.066 recuperados. Já no país, são 5.499.875 contaminados e 159.104 mortos.
Para o infectologista Rodrigo Carneiro, a chegada da segunda onda de Covid-19 à Europa já era esperada, apesar de a primeira ter terminado há pouco tempo.
— Eles estão na fase de aceleração da segunda onda. Os piores países são França, Itália e Reino Unido. Mas Alemanha e Bélgica, que tiveram poucos casos, registraram aumento expressivo dos casos. Está seguindo o esperado. A única diferença da Covid para a gripe espanhola é que o tempo entre o término da primeira onda e o começo da segunda diminuiu. Isso está relacionado com o aumento da população e do contato. Hoje em dia, as pessoas viajam mais, circulam mais. Então, a circulação do vírus está acelerada. Agora, temos que aguardar para ver até onde vai a subida e ver quantas pessoas restaram suscetíveis ao vírus — analisou.
A avaliação de Rodrigo foi reforçada pelo também infectologista Nélio Artiles. Segundo o especialista, a maior preocupação relativa à segunda onda é a parte da população que não foi contaminada pelo coronavírus.
— Essa fatia suscetível poderá se infectar. Essa é a possibilidade. Diferente da Europa, onde já ficaram muito claras a subida e a descida da primeira onda, no Brasil, isso não aconteceu. A onda aqui foi um tsunami; uma onda que não baixou. Foi muito larga, mantida por muito tempo. Mas a gente também tem que considerar o tamanho do nosso país. Temos um quantitativo muito grande de regiões, com características diferentes. — declarou o médico, que acredita haver, considerando os casos subnotificados no país, 10 vezes mais brasileiros infectados. “Hoje, seriam 50 milhões de pessoas contaminadas, o que daria uma fatia importante da população brasileira”, pontuou.
Rodrigo afirmou que, no momento, o Brasil enfrenta a fase descendente da primeira onda e apresenta diminuição sustentada dos casos:
— Mas o que era para ser uma boa notícia não é tão bom porque temos número alto, cerca de 20 mil casos por dia, com 400, 500 mortes no Brasil. Ainda vai levar tempo com números elevados, que tendem a cair. Espera-se que a segunda onda seja para o começo do ano que vem, entre janeiro e março. A nossa sorte é que deve coincidir com a chegada da vacina. Esperamos que a vacina, qualquer uma delas, desde que se mostre segura e eficaz, esteja disponível, até lá, para abortar o vírus.
Nélio acrescentou que a segunda onda apresenta uma evolução pouco menos agressiva do que a primeira. “Parece que o vírus se adaptou ao ser humano, e, com isso, houve certo grau de mutação viral, para o bem. A mutação para o mal aconteceu quando o vírus saiu da China e veio. Agora, parece que aconteceu mutação do bem: o vírus está vindo de forma menos agressiva. A gente observa isso em Campos. Vemos muita gente com síndrome gripal, mas poucos evoluindo para casos graves”, destacou.
Campos com diminuição sustentada — Para Rodrigo, a realidade do município em relação ao coronavírus apresentou melhorias. Segundo o infectologista, a redução no número de internações é um reflexo direto, e a forma mais confiável de análise, da queda dos casos.
— Temos um problema que é a confiabilidade dos dados da secretaria de Saúde. A gente percebe que, em um dia, estão notificados quatro, cinco casos e, no outro, 100 casos. A gente perdeu um pouco o parâmetro. Mas, de maneira geral, temos diminuição sustentada do número de casos aqui também. Semanalmente, era maior. Estamos em uma fase descendente de contaminação. O que caiu muito foi o número de pacientes internados. Hoje, os hospitais estão com menos dificuldade pra conseguir internação.
Em nota, a Prefeitura declarou que “o Departamento de Vigilância em Saúde informa que seguem sendo divulgados os casos confirmados de Covid-19 registrados em meses anteriores nos laboratórios — somado às notificações concentradas na Vigilância em Saúde do município (unidades de saúde e testes realizados pela Prefeitura), além da testagem itinerante no ônibus e testes rápidos de empresa particular de junho. Além disso, a Prefeitura vem realizando os testes agendados via aplicativo Dados Bem, cujas notificações seguem acontecendo diariamente”. 
Expectativa positiva com vacinas
De acordo com o Sistema Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS), existem, pelo menos, 165 vacinas contra a Covid-19 sendo desenvolvidas em todo o mundo. As mais adiantadas, em termos científicos, são a Coronavac, da China; a Sputnik V, da Rússia; e a ChAdOx1 nCoV-19 (ou AZD1222), do Reino Unido. Estas já passaram pelas duas primeiras fases e estão na terceira e última, na qual é feito estudo clínico a partir da aplicação em voluntários.
O infectologista Nélio Artiles afirmou estar “muito esperançoso” com o resultado dos estudos e a produção da vacina.
— Nenhuma vacina vai ser liberada se não terminar as fases de pesquisa. Estão sendo concluídas e todas aparentemente com perspectivas boas de resposta, sem causar danos. Acho que a resposta será efetiva. A proteção é muito maior do que 50%, 60% que são falados agora — pontuou.
Nélio destacou, no entanto, que a pressa para a aquisição da vacina pode ser prejudicial à população.
— A discussão política é desagradável. Não deveríamos entrar nessa seara, mas vivemos nesse meio. Interesse econômico tem em todas as questões. Por que apressar tão rapidamente a aquisição de vacinas nem terminadas na pesquisa? Tem quer ter muita calma nessa hora e esperar a conclusão dos estudos para ver quais vão ser liberadas. A gente precisa não fazer o que está fazendo agora: relaxar geral. As pessoas estão abaixando a guarda, não estão nem aí. Todo mundo sem máscara, indo a festas e bares, saindo à noite sem achar que vai ter consequências. A pandemia não acabou. Vai virar doença endêmica, assim como a gripe. De acordo com estudos recentes, o coronavírus será um vírus que precisará de reforços constantes de imunidade. Então a vacinação será repetida periodicamente — adiantou.

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