O setor sucroalcooleiro irá movimentar na economia local algo em torno de R$ 500 milhões durante a safra 2019/2020. A estimativa é do empresário Renato Abreu, presidente do Grupo MPE, que atua nacionalmente nos setores de engenharia, petróleo e energia e na Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro (Coagro).
O valor é equivalente a 33% do faturamento projetado para o orçamento de Campos em 2021 (entre R$ 1,5 bilhão e R 1,7 bilhão). A reabertura da Usina Paraíso para uma moagem-teste, no ano que vem, que proporcionará mais 2 mil empregos diretos, anima ainda mais a retomada do setor, situado como coadjuvante do petróleo nos últimos 20 anos.
— Nós já movimentamos um terço do que a Prefeitura irá arrecadar em 2021. Uma cidade como Campos, de média pra grande, geralmente vive às custas da prefeitura. E falamos de um negócio com viés de alta, pois a tendência, com a abertura da Paraíso, é aumentar — projetou Renato.
O presidente da Coagro, Frederico Paes, lembra que “a safra começou bem, ainda em julho de 2019, quando houve volume regular de chuvas, propício para o crescimento da cana”. Para ele, este é um fator de crescimento que já passou dos 30% e até o fim da moagem, em novembro, passará dos 40%, em comparação com a safra anterior. São 1,7 milhões de toneladas de cana na moagem por unidade em Sapucaia e Canabrava. A pandemia, também trouxe surpresas.
— A pandemia parecia que iria atingir em cheio nossa safra, em termos de faturamento e produção, rapidamente gerou um incremento no preço do etanol — comentou Frederico sobre a demanda do combustível com previsão de produção de 57 milhões de litros pela cooperativa.
O presidente da Coagro ainda comentou sobre a estabilização de preço do açúcar. “O açúcar não sofreu grandes alterações no preço durante a pandemia”.
Essas razões estimulam a produção do etanol, que deve ficar ainda mais atrativo com lei que aprovará a venda direta do produtor aos postos de gasolina, acabando com o chamado, ironicamente, de ‘passeio do álcool’, que agrega valor ao frete e ao preço final na bomba. “Quando for aprovada a venda direta, quem irá ganhar é o consumidor final, os produtores de álcool e de cana. A indústria vai ser melhor remunerada, deixando o produto cerca de 20 centavos mais barato para o consumidor final e rendendo 20 centavos a mais para o produtor”, disse Frederico sobre a “guerra” entre as distribuidoras de combustível e os produtores.
Frederico falou sobre o retorno da Paraíso, que hoje funciona como entreposto para a cana produzida na Baixada Campista e levada para a Coagro. “Já tivemos 22 usinas em Campos, hoje são duas. O problema não é falta de usina, mas de cana e buscar um equilíbrio entre produção de cana e número de usinas. Para 2022, há a possibilidade da reabertura de uma nova usina, com uma moagem plena da Paraíso com 300 mil toneladas de cana para estimular o produtor da Baixada”, acrescentou Frederico.
Novas tecnologias e cuidados ambientais
Se engana quem pensa quem pensa que o agronegócio é uma coisa do passado. “No interior, a diferença entre uma cidade próspera e outra decadente é uma agricultura forte. Não precisamos reinventar a roda. É só mostrar o que fazemos pelo Brasil e aperfeiçoarmos cada vez mais com o uso de novas tecnologias”, comentou Frederico Paes, enquanto mostrava uma das nove máquinas da cooperativa responsáveis pela retirada da cana crua, extinguindo progressivamente a necessidade de queimadas.
Duas das nove máquinas destinadas ao corte da cana crua (que tiveram custo aproximado de R$1,2 milhão) estavam paradas sobre um campo recém-cortado, seguidas de uma linha de seis tratores, cada um puxando duas carretas de cana cortada e pronta para ser levada para a moagem em atividade intensa.
O gestor apontou para o solo coberto de dois centímetros de palha úmida e explicou: “Essa palhada que sobra é responsável por adubar o solo e conservar a umidade da chuva que chegou, transformando em matéria orgânica. Além disso, essa palha que está sendo conservada ali não vira a fuligem que costumeiramente chegava nas varandas e quintais dos campistas quando chegava a época de moagem”, explicou.
Frederico disse também que “essas máquinas exigem uma logística que inviabiliza, muitas vezes, o corte da cana crua dos pequenos produtores”. Em uma conta rápida, Frederico estipulou que o investimento necessário para mantê-las operando e com seus funcionários capacitados é algo em torno de R$40 milhões. Desta forma, uma parceria coma Universidade de Colônia, na Alemanha, irá proporcionar a aquisição de máquinas menores para a cooperativa. Assim, os pequenos produtores também poderão deixar de adotar as práticas das queimadas, “que nem interessa economicamente a eles”, ponderou.
Bom nível de emprego mesmo na pandemia
Os ventos de mudança na economia campista fazem cada vez mais o agronegócio ser visto com mais atenção. Apesar da importância do petróleo, o setor sucroalcooleiro sempre se manteve como um porto -seguro, sobretudo em épocas de moagem, e sempre representou um alento com a forte de geração de empregos, o que não mudou com a pandemia. A boa safra de 2020/2019 gerou mais dois meses de moagem e irá se estender até o final de novembro. “É um emprego temporário, mas num período como esse, agravado pelo Covid-19, o setor está gerando emprego e renda num momento globalmente difícil”, pontuou o presidente da Coagro.
Ele também falou sobre as medidas para contenção do vírus, que matou um e atingiu outros quatro dos três mil funcionários da cooperativa. A frota de ônibus foi dobrada, para evitar aglomerações no caminho até o trabalho; funcionários extras foram contratados para realizar exclusivamente a higienização de ferramentas, máquinas e maçanetas; funcionários do grupo de risco receberam licença médica; o uso de máscaras se tornou obrigatório e a distribuição do álcool em gel fabricado pela Coagro se tornou ainda mais frequente.
Frederico Paes ainda ressaltou a importância histórica do setor, além de destacar como as crises sanitária e econômica levam a refletir sobre o papel relevante do agronegócio (especialmente a cana-de-açúcar) para Campos desde a colonização, em 1632. “Essa pandemia foi importante para mostrar as pessoas como o agronegócio é importante. Não fomos sem motivo o eixo econômico da cidade do século XVII até meados dos anos 1990. O que precisamos é consertar os erros do passado, firmar nos acertos e sempre aprimorar o uso das novas tecnologias, buscando sermos socialmente justos e ambientalmente corretos, produzindo de forma sustentável”.