Mesmo permitidos, eventos drive-in não emplacam em Campos
Ícaro Abreu Barbosa - Atualizado em 30/10/2020 14:11
Campos teve Cine Drive-In até 1992; atualmente, salas de cinema em shoppings estão fechadas devido à pandemia
Campos teve Cine Drive-In até 1992; atualmente, salas de cinema em shoppings estão fechadas devido à pandemia / Fotos: Divulgação e Rodrigo Silveira
Uma obra cinematográfica, um show ou uma peça teatral no conforto do seu carro, sob a luz das estrelas, com o seu par ou a família acompanhando. Esse clima drive-in “hollywoodiano” é desejo de alguns neste tempo de pandemia — a cultura como uma válvula de escape para o mais crítico momento da humanidade desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) —, principalmente com a ainda alta taxa de infecção no estado do Rio de Janeiro, inclusive em Campos. Mas, ao que parece, apesar de existir um protocolo pré-estabelecido pelo poder público municipal, as ideias cogitadas sobre a modalidade foram abortadas ou caminham a passos lentos. Tanto no setor de cinemas, quanto em outras cenas culturais.
Sucesso no passado, o formato drive-in perdeu força historicamente no final dos anos 1970. Ponto tradicional de resistência a nível nacional, Brasília abriga um famoso Cine Drive-in, inaugurado em 1973. Lá ocorreu o maior show do Brasil na modalidade durante a pandemia, protagonizado pelos Paralamas do Sucesso no dia 10 de outubro.
Em Campos, sob gestão do empresário local Jorge Mothé, um Cine Drive-in funcionou no bairro Jóquei Clube até 1992, com uma aura imponente que incluía tela de 20 metros de largura planejada de acordo com a posição da lua e moderno sistema de rádio para a época — tudo instalado com auxílio de uma empresa holandesa contratada.
Para aqueles que fazem do “happy hour” o seu ganha pão, parece mais viável torcer pela reabertura total das atividades econômicas e sociais, que depende dos índices do novo coronavírus. Em Campos, foi anunciada em 28 de setembro a fase verde do plano de retomada, com permissão para música ao vivo em bares e eventos, desde que respeitado o distanciamento entre os presentes. Por outro lado, profissionais ligados ao cinema, como o gerente regional da rede Kinoplex, Antônio Andrade, fazem críticas por não terem sido incluídos nos decretos, apesar da reabertura dos shoppings.
— Não tem sentido manter essa proibição aos cinemas. Nossos lugares são todos medidos, teremos o controle de venda dos assentos, teremos higienização antes e depois de todas as sessões — disse Antônio, funcionário da rede Kinoplex há 16 anos. Responsável por 10 cinemas, sendo oito no estado do Rio e quatro no Nordeste, ele destacou também os cuidados em torno da sistema de refrigeração das salas de cinema. Segundo ele, os trabalhos de limpeza, filtragem e purificação, com renovação contínua de ar, garantiriam a não circulação do novo coronavírus por este meio.
Mesmo esboçando vontade e planejamento para realização de eventos drive-in na planície goitacá, profissionais do setor ainda não tornaram públicos detalhes de projetos para grandes shows neste formato. O empresário Rodrigo Barreto, mais conhecido como Brinquinho, citou existir a possibilidade da produção destes eventos diante da fase verde decretada pelo município, vinculada à necessidade de liberação prévia da superintendência de Entretenimento e Lazer. Mas, acredita que tal fato não deve ocorrer.
— Acreditamos que agora não haja tanto esse apelo, mediante já ter flexibilização para outras áreas de entretenimento, e os custos seriam muito elevados. Teríamos que fazer o repasse dos custos dos valores dos ingressos, e ficaria um valor extremamente alto. Talvez não seja o momento, devido à recessão financeira e à grande maioria da população sem ter a sua renda por completo — justificou
Pelo Protocolo 01, a Prefeitura de Campos regulamentou normas para eventos na modalidade drive-in. A venda de ingressos só pode acontecer com o aval da citada superintendência. Em eventos do tipo no município, é permitida a entrada apenas de veículo de passeio, e o acesso do público fica limitado a quatro pessoas por carro, com exceção para integrantes da mesma família, respeitando a capacidade máxima de cada automóvel. Ocupantes dos carros só serão autorizados a sair para usar os sanitários. O distanciamento entre os veículos estacionados precisa ser de no mínimo dois metros, e a propagação de som do evento deve acontecer, preferencialmente, através do sistema de rádio FM, sendo permitido som ambiente com volume reduzido para sonorização. Além da superintendência de Entretenimento e Lazer, também participaram da elaboração do protocolo o Departamento de Vigilância em Saúde. O documento respeita demandas apresentadas pela Associação Brasileira dos Promotores de Evento (Abrape).
Nacionalmente, a realização de shows drive-in tem sido bem recebida. “O momento é muito complicado para todos os setores. Mas, no show business, temos uma cadeia de profissionais parada: cantores, músicos, instrumentistas, roadies, iluminadores, técnicos de som e empresários”, lamentou o tecladista Mú Carvalho, da banda pós-tropicalista A Cor do Som. Na opinião dele, eventos drive-in bem-sucedidos, como o dos Paralamas do Sucesso em Brasília e o do cantor Ivo Meirelles, ainda em junho, em São Paulo, são válidos como alternativa de enfrentamento e adaptação à realidade atual. “Desde que seja seguro”, ressaltou Mú Carvalho.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS