Mosteiro de São Bento, em Campos, será tombado pelo Inepac
Matheus Berriel 27/10/2020 13:26 - Atualizado em 28/10/2020 09:08
Mosteiro de São Bento
Mosteiro de São Bento / Folha da Manhã
Situado no distrito de Mussurepe, em Campos, o Mosteiro de São Bento será tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac). Foi finalizada na última sexta-feira (23) a ficha de inventário do prédio, com pesquisa histórica e levantamento arquitetônico feitos pelo arquiteto Paulo Coutinho, membro da equipe técnica do órgão. Dados adicionais foram inseridos pela arquiteta Selma Fraiman e a geógrafa Ana Letícia Spindola. Segundo o diretor geral do Inepac, Cláudio Prado de Mello, a expectativa é de que o tombamento seja concluído até o final deste ano.
O Mosteiro de São Bento é um símbolo histórico da presença dos monges beneditinos em Campos, a partir de 1648, motivada inicialmente pelo recebimento de terras doadas à Ordem de São Bento, à época já presente na cidade do Rio de Janeiro. O atual administrador do mosteiro, Dom Bernardo Queiroz, tem realizado um trabalho de valorização do legado de 372 anos da ordem religiosa na região.
— Durante este tempo, foram construídos colégio e 34 capelas na Baixada Campista pelos antigos monges. Os monges se desdobravam para atender aos fieis, realizando batizados, casamentos, dando-lhes a assistência espiritual necessária. Muitas fábulas foram construídas em torno do Mosteiro de São Bento ao longo dos séculos. Estas reminiscências da cultura da Baixada Campista, até hoje, estão enraizadas no âmago do povo de Campos e constituem um patrimônio real da memória do povo — disse Dom Bernardo. — Festas, relatos preservam este arquivo fantástico, que conta a influência dos beneditinos na formação do povo campista da Baixada e tornam o Mosteiro de São Bento, em Mussurepe, uma referência histórica, religiosa, polo irradiador de cultura de maior relevância para os campistas — acrescentou.
Tal resgate da história passa, inclusive, pela busca da originalidade da arte presente no prédio, que foi atingido por um incêndio em 1965. Fotos e relatos indicam que o altar e imagens como as de São Bento, Santa Escolástica e Nossa Senhora do Rosário eram feitos em madeira.
A diretora do Arquivo Público Municipal, Rafaela Machado, considera o Mosteiro de São Bento uma das construções mais importantes de Campos, por simbolizar o início do processo de ocupação da Baixada Campista.
— O tombamento agora em andamento ganha ainda mais valor por refletir o reconhecimento por parte do Inepac da importância da construção, como também da atuação dos beneditinos na região, mas também para o cenário do Rio de Janeiro como um todo — comentou Rafaela. — As políticas de tombamento nos âmbitos municipal, estadual e nacional devem refletir justamente a importância arquitetônica, histórica e cultural dos bens a serem preservados. Neste caso, julgo ser um justo reconhecimento por parte da secretaria estadual de Cultura e Economia Criativa do grande valor deste bem para Campos e para a história da ocupação colonial de todo o Rio de Janeiro — pontuou.
Em publicação no Facebook, o diretor geral do Inepac abordou características do mosteiro, uma típica construção da arquitetura colonial religiosa. “É um prédio dotado de capela e convento, contando ainda, ao lado desta mesma capela, com um cemitério. Em sua fachada principal, podem ser vistas portas de madeira almofadada e janelas em madeira tipo guilhotina, com vergas em arco abatido contornadas por cimalha de argamassa. O frontão da capela tem volutas pouco trabalhadas e possui aos seus lados dois pináculos de argamassa”, descreveu Cláudio Prado de Mello. “Possui somente uma torre sineira em formato quadrangular, porém com arestas quebradas por outras de muito menores dimensões, insinuando uma planta levemente octogonal. A cobertura da torre em tronco de pirâmide de base quadrada tem dispostos em seus quatro cantos mais quatro pináculos e demais arremates, todos sinalizando para interferência, muito provavelmente, do século XX”, ressaltou.
O resultado da edificação formada por quatro alas é um claustro aberto ao centro. “Neste claustro, assim como na fachada lateral da capela voltada para o cemitério, nota-se contrafortes, provavelmente em alvenarias de tijolos maciços”, citou ainda Cláudio.
O Mosteiro de São Bento já é tombado pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos (Coppam), que vinha alertando sobre a necessidade de obras estruturais emergenciais. Em 2018 houve uma etapa de restauração.
Atualmente, ativistas da preservação histórico-cultural de Campos aguardam também o tombamento do Mercado Municipal pelo Inepac. Uma visita técnica foi realizada em setembro e, desde então, ficou pendente a publicação no Diário Oficial do Estado. Em nota, o Inepac informou que o processo já seguiu para a Casa Civil, e que o tombamento deve ser publicado nas próximas semanas. A nota complementa que o mesmo acontece em relação ao escritório técnico do Inepac no Norte Fluminense, que ficará instalado no Museu Histórico de Campos: “A parceria com a Fundação Municipal de Cultura de Campos (Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima) já está firmada, e a inauguração deve acontecer o mais rápido possível”.
Com a finalização dos processos alusivos ao Mosteiro de São Bento e ao Mercado Municipal, Campos passará a ter 11 bens tombados pelo Inepac. Receberam tombamento em períodos anteriores a Serra do Mar, o coreto do Jardim do Liceu, o Canal Campos-Macaé 1, os hotéis Amazonas e Gaspar, a sede da Lira de Apollo, o Solar do Visconde de Araruama (onde atualmente funciona o Museu Histórico), o Colégio Estadual Nilo Peçanha e o Liceu de Humanidades.
Mosteiro de São Bento
Mosteiro de São Bento

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