Ethmar Filho: Jonny Quest
Ethmar Filho - Atualizado em 30/10/2020 13:59
Quando o maestro Hoyt Curtin morreu, em dezembro de 2000, o mundo perdeu um dos seus maiores ícones musicais. Mas, o compositor de temas de programas de TV instantaneamente reconhecíveis, como “Jonny Quest”, “Os Flintstones”, “Os Jetsons” e Magilla Gorilla”, era desconhecido do público. Curtin, de fato, compôs a maioria dos temas e grande parte da música para os desenhos animados de Hanna-Barbera, no final dos anos 1950 e ao longo dos anos 1960. Com o passar do tempo, ele também trouxe para perto outros compositores, diretores musicais, produtores e um grupo veterano de músicos para ajudá-lo a fazer música para a enorme fábrica de animação de Hanna-Barbera.
O treinamento de Curtin para o mundo das canções-tema de desenhos animados não poderia ter sido mais eficaz: ele veio do mundo dos jingles comerciais, tornando-se talvez o mais bem-sucedido produtor de canções publicitárias da Costa Oeste dos Estados Unidos. Treinado para reduzir o apelo de um produto a 30 segundos, Curtin aplicou o seu talento para melodias simples, mas indeléveis, em seu primeiro desenho para Hanna-Barbera, “Ruff e Reddy”, de 1957, ano em que nasci. Ele passou a fornecer temas e música para desenhos animados como “The Huckleberry Hound Show” (conhecido no Brasil como “Dom Pixote”), “Top Cat” (“Manda Chuva”), “Wally Gator”, “Magilla Gorilla”, “Peter Potamus”, “Yogi Bear” (“Zé Colméia”), “Frankenstein Jr.”, “Os Impossíveis” e muitos outros que permeiam a nossa memória infantil.
Após um período de semi-aposentadoria, Curtin fez supervisão musical e temas para “Os Smurfs” e outras séries de Hanna-Barbera. Durante esse período, trabalhou com compositores como Ron Jones (“Star Trek: The Next Generation”, “Family Guy”), John Debney (“Spy Kids”, “Heartbreakers”) e inumeráveis séries para cinema e televisão. Para alguns desses compositores, trabalhar com Hoyt Curtin foi o seu primeiro show maior. E embora eles geralmente não recebessem crédito de tela por seu trabalho, acabou sendo um campo de treinamento inestimável para composições futuras.
Alguns dos compositores conheciam a reputação de Curtin e o procuraram para o trabalho, enquanto outros simplesmente sabiam que poderiam conseguir um emprego escrevendo desenhos animados. John Debney, um desses compositores, conhecia bem o trabalho de Curtin. “Hoyt era como um Mike Post”, diz Debney, relacionando Curtin ao homem que escreveu incontáveis temas familiares para a TV e atuou como supervisor musical e marca de suas trilhas sonoras. Hoyt já compunha há muito tempo, desde o início da década de 1980 e, nessa época, ele realmente havia se aposentado. Ron Jones, um dos produtores musicais que trabalhou com Hoyt, ressalta que Curtin teve que tentar manter sua vida doméstica e profissional separadas. “Sua esposa achava que a música era suja”, diz Jones. “Que, de alguma forma, era o distrito da luz vermelha. Hoyt não tinha permissão para manter nenhum instrumento musical em casa. Ele mantinha um piano vertical surrado, onde cada terceira nota não funcionava, em seu armário do corredor. Mas, ele tinha ouvido absoluto, então escrevia tudo de ouvido, ou seja, sem instrumentos. Estávamos no Denny's ou no Jack's Deli e ele pegava o guardanapo, virava-o, escrevia a clave e dizia: 'Aqui está o tema do bandido' ou 'Aqui está o Smurf lamber ', então você pegava as partituras e era isso que você tinha que seguir”.
Debney diz que já viu o efeito de Curtin em diretores de live-action que cresceram ouvindo os temas do compositor.“Quando fui chamado para trabalhar em ‘Spy Kids’, estava sentado com Robert Rodriguez, conversando, e Rodriguez disse: 'Talvez pudéssemos ter uma espécie de tema do ‘Jonny Quest’', e meus olhos brilharam, assim como os dele. Ele foi até o seu computador e tinha o tema do ‘Jonny Quest’ nele. Ele disse que costumava ouvir isso enquanto escrevia ‘Spy Kids’". Debney ainda carrega uma paixão pelos temas de Curtin. “Pelo meu dinheiro, acho que Hoyt foi completamente subestimado pelo que fez”, diz o compositor. "’Os Flintstones’, ‘Jonny Quest’ e mais. Há alguns sobre os quais você não fala, mas se lembraria se os ouvisse, como ‘Magilla Gorilla’, ‘Wally Gator’ e todas aquelas coisas fantásticas em que crescemos.”
“Hoyt foi um grande comunicador”, diz Ron Jones. “Seus temas são como perestroika, onde uma palavra significa um parágrafo inteiro. Em inglês não temos uma expressão para isso, então eu diria que é o equivalente musical da comunicação direta. Ele sempre me dizia para manter as coisas simples. E que há uma coisa principal e outra; e é isso — não há mais nada. Nunca ouvi ninguém dizer isso, exceto Lalo Schifrin. Ele enfatizava muito a melodia e dizia: 'O que mais sobrou?’. Eu tento seguir esse molde”.
Para Mark Wolfram, a alegria de Curtin em seu trabalho teve um impacto mais duradouro. “Esse é um cara que realmente amou o que fazia. Houve problemas nas sessões. As coisas nem sempre aconteciam da maneira que ele queria, e ele teria que fazer algumas mudanças. Mas, na maioria das vezes, ele estava apenas se divertindo. E, para um homem que poderia escrever música que causava arrepios na espinha (como ‘Jonny Quest’) ou simplesmente fazia o espectador explodir em gargalhadas, Hoyt era, ao mesmo tempo, clássico e popular. A sensibilidade pessoal de Curtin não poderia ter sido mais apropriada. Ele era realmente amado e era hilário, engraçado”, diz John Debney. “A beleza de Hoyt era que ele levava a música a sério, mas se divertia muito fazendo isso. Ele manteve a leveza, e os músicos simplesmente o amavam.”
Maestro Ethmar Filho – Mestre em Cognição e Linguagem.

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