Suzy Monteiro: Os heróis
Suzy Monteiro - Atualizado em 20/10/2020 14:31
Talvez fosse o ano de 2015, antes, portanto, da concretização da possibilidade de impeachment ou da ascensão de outras forças políticas, mas quando olhos mais atentos já percebiam a politica brasileira fazer sinais de fogo. Então, talvez fosse aquele ano, um pouco antes ou depois, mas fato é que postei no Facebook — que ainda dominava o reino das redes sociais — o pensamento de Bertolt Brecht, “Infeliz do povo que precisa de heróis” (adaptado). O texto era uma análise de memes do então juiz Sergio Moro, vestido de super-herói, que haviam inundado a internet na esteira da Lava Jato.
Sem juízo de valor, que também não faço aqui, era a avaliação de que uma população tão sofrida quanto a do Brasil ainda precisava de algum herói para chamar de seu, com tantos gigantescos corações a cruzar cidades, a mudar vidas, a ajudar o próximo todos os dias, sem estar em busca de reconhecimento, só por saber o que era o certo a fazer.
Deu no que deu. Cinco anos depois, Moro não é mais juiz. A Lava Jato ainda tenta resistir, muito embora aqueles que utilizaram dela sejam os mesmo que decretaram o seu fim. Não só o Brasil, mas o mundo passa por profundas transformações, que dividiram histórias, terminaram com amizades, criaram rusgas quase impossíveis de serem reparadas.
Por outro lado, cinco anos depois, muitos ainda buscam heróis. Muitos ainda apostam em um salvador da pátria, como se ignorassem que, sem esforço próprio, a chance de sucesso, a não ser que se tenha nascido milionário, é bem perto de zero.
Na esteira de sonhos ou ilusões de muitos, políticos ainda querem para si a alcunha de herói, olhando de cima para baixo, vestindo a capa de salvador. Esquecem-se que o que há de mais diferente nestes cinco anos é que as redes sociais, cada vez mais, tornaram-se palco de realizações. Muito do que se pensa lá, acaba concretizado na vida real. Para o bem ou para o mal. E que, embora não sejam “terra de ninguém”, como muitos pensam, as redes sociais são fundamentais para desnudar falsos profetas. Não é necessário superman. O político que é fundamental neste momento, e tomara que seja assim daqui para frente, é aquele real, com quem você pode conversar, discordar e, quem sabe, até concordar em alguns pontos. Porque é disso que é feita a democracia.
As verdadeiras heroínas e os verdadeiros heróis são aqueles que caminham todos os dias pelas ruas, que lutam no seu cotidiano por uma vida melhor para os seus. Que sonham e correm atrás para mudar a sua realidade.
Porque, como também dizia Brecht, “há homens que lutam um dia, e são bons; há homens que lutam por um ano, e são melhores; há homens que lutam por vários anos, e são muito bons; há outros que lutam durante toda a vida, esses são imprescindíveis”.

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