Profissionais de engenharia do Rio de Janeiro se uniram de forma voluntária para fazer a manutenção e o conserto de ventiladores mecânicos de hospitais públicos do estado utilizados nas unidades de terapias intensiva (UTIs) de pacientes com a covid-19. Os respiradores são comumente usados para tratar pacientes com dificuldade respiratória grave e vêm tendo alta demanda durante a pandemia.
O núcleo da central de reparos fica nos laboratórios de eletricidade e fresamento do campus Maracanã do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ), na capital fluminense. A Secretaria estadual de Saúde é a principal interlocutora entre os voluntários que atuam na manutenção dos equipamentos e os hospitais da rede pública que necessitam do serviço.
Segundo um dos coordenadores do projeto e professor do Cefet/RJ Mauricio Motta, a central funciona com voluntários trabalhando presencialmente e outros de forma remota, principalmente os que estão no grupo de risco da covid-19. Após o recebimento dos equipamentos, os respiradores passam por um processo de higienização, cadastramento e triagem antes de seguir para a bancada de reparo e testes. Ao fim da manutenção, os ventiladores são calibrados e, uma vez aprovados, são entregues ao hospital de origem junto com o certificado de calibração.
Ao todo, a equipe do projeto é composta por cerca de 30 profissionais das áreas de engenharia mecânica, elétrica, eletrônica e clínica, professores e enfermeiros. A iniciativa oferece o serviço de forma gratuita e tem parceria com uma equipe de engenharia e manutenção de Furnas, com o Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos e a empresa Nova Service, que é a responsável pela calibração dos equipamentos recuperados.
A equipe de voluntários também é formada por empresas como a White Martins, que fornece o gás utilizado. A ação tem o apoio do Clube de Engenharia, da Associação Comercial do Rio de Janeiro e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
De acordo com Motta, desde que a central de reparos começou a operar, em maio, já foram entregues 12 equipamentos consertados para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, zona norte do Rio; um para o Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo, na região metropolitana, e outro para o Hospital Municipal Raul Sertã, em Nova Friburgo, na região serrana.
Segundo o docente do Cefet/RJ, são necessárias, em média, de duas a três semanas para o reparo do equipamento. Ele destaca que a motivação para o projeto foi verificar que nos meses iniciais da pandemia no Brasil era difícil e caro comprar e receber os ventiladores pois havia uma competição mundial para a compra dos respiradores.
“A gente viu a dificuldade de compra desses equipamentos, o tempo de entrega longo, e, às vezes, a qualidade dos novos equipamentos nem sempre é tão boa quanto a do que a gente está consertando”, disse Motta, acrescentando que a aquisição de um respirador gira em torno de R$ 80 mil e o conserto, R$ 20 mil.
O professor do Cefet/RJ ressalta que um dos desdobramentos possíveis do projeto poderá ser voltado para a formação de profissionais de engenharia especializados na área de equipamento hospitalar. “Existe a possibilidade de fazermos um estudo junto com Secretaria de Saúde e com o Sebrae para formação de profissionais técnicos e engenheiros para um atendimento específico das unidades hospitalares. Vimos que esse é um ponto de carência de profissional qualificado em todo o Brasil”.